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Apesar de rivalidade, pesquisa diz que jiu-jitsu e Gracies influenciaram judô brasileiro

Rogério Sampaio chega com o ouro olímpico: ele foi influenciado pela família Gracie - Fernando Santos/Folha Imagem
Rogério Sampaio chega com o ouro olímpico: ele foi influenciado pela família Gracie Imagem: Fernando Santos/Folha Imagem

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

20/05/2012 06h00

O judô e o jiu-jitsu são modalidades rivais. A família Gracie já elegeu os judocas como seus inimigos. E mesmo assim, a modalidade e a família que ficaram famosas por criar lutadores casca-grossa têm mais influência no sucesso do judô brasileiro do que muita gente pode pensar.

O estudo “A influência da imigração japonesa no desenvolvimento do judô brasileiro: uma genealogia dos atletas brasileiros medalhistas em Jogos Olímpicos e campeonatos mundiais”, do gaúcho Alexandre Velly Nunes, examinou as influências de todos os medalhistas do judô brasileiro. Constatou, como esperado, que a imigração japonesa é o fio condutor da introdução da arte marcial no país. Mas também descobriu que o papel do jiu-jitsu no desenvolvimento do esporte é grande.

O estudo não aborda diretamente essa influência, mas ela é confirmada pelo autor. A pesquisa de Alexandre Nunes foi grande, mas objetiva: ele partiu dos judocas medalhistas e passou a listar seus professores. Depois, investigou os professores desses professores. Criou uma espécie de árvore genealógica do judô competitivo brasileiro, até chegar aos primeiros “senseis” do judô nacional, que vieram do Japão. 

ÁRVORE DE INFLUÊNCIA DE ROGÉRIO SAMPAIO, COM GRACIE NA BASE

  • reprodução

“A pesquisa não era exatamente sobre isso [a influência do jiu-jitsu]. Mas é um achado interessante. Vou ser criticado por dizer isso, mas o judô brasileiro competitivo tem influência do jiu-jitsu. O jiu-jitsu Gracie, por exemplo, foi um elemento na expansão do judô para estados que não tiveram imigração japonesa. Foi uma influêncial pontual, entre os anos 25 e 35, quando o judô japonês ainda estava começando no Brasil. Além disso, uma das ‘árvores’ que mais rendeu medalhas ao Brasil veio de uma escola de jiu-jitsu diferente do jiu-jitsu ensinado pelo Jigoro Kano, o inventor do judô”, diz Alexandre.

A primeira ligação com o jiu-jitsu vem justamente de uma dessas árvores: na base está Ryuzo Ogawa. Um dos “genearcas” [primeiros senseis] do judô verde-amarelo, ele é um dos que mais aparecem no estudo. “Sabemos que o judô nasceu do jiu-jitsu japonês. Mas no Japão, existiam vários estilos de jiu-jitsu. O judô nasce do jiu-jitsu aperfeiçoado pelo Jigoro Kano. Só que o Ogawa não era um discípulo do Kano. Ele vinha de outra linha do jiu-jitsu”, conta Alexandre.

O envolvimento dos Gracie é parecido. Nos anos 20, Carlos Gracie foi aluno do Conde Koma, japonês que aprendeu judô no Kodokan, a escola criada por Jigoro Kano. Aos poucos, o que Carlos aprendeu foi moldado a sua imagem e nasceu o jiu-jitsu Gracie. “Como os Gracie são uma família grande, começaram a se espalhar pelo Brasil. E, apesar de terem criado o seu jiu-jitsu, os próprios Gracie e seus alunos começaram também a dar aulas de judô. Eles são influência nos estados em que a imigração japonesa chegou mais tarde. No Pará, por exemplo, um ramo do jiu-jitsu gracie está diretamente ligado aos professores da Sarah Menezes, que é candidata forte a medalha nos Jogos de Londres”, explica o autor.

ÁRVORE DE TIAGO CAMILO MOSTRA OGAWA E JIU-JITSU GRACIE

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Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Alexandre passou quatro anos correndo atrás de judocas pelo Brasil. No total, partiu de 23 nomes de medalhistas e fez mais de 90 entrevistas, até chegar às origens do judô brasileiro. O trabalho seguiu os mesmos moldes do mapeamento dos atletas olímpicos que a pesquisadora Katia Rúbio está fazendo na USP – Kátia, inclusive, foi orientadora de Alexandre no projeto, feito dentro da USP e com bolsa do CNPQ.

Nesse processo, Alexandre descobriu outras coisas curiosas, como o sucesso muito maior dos caçulas de uma família quando o irmão mais velho também luta judô. “Essa é uma das coisas que eu não imaginava, mas que acontecem com uma frequência muito grande. A maioria dos medalhistas que têm irmãos são mais novos. E esses irmãos também lutavam judô, mas não tiveram o mesmo sucesso. E são muitos exemplos. O Aurélio Miguel é campeão olímpico e o irmão mais velho, o Carlão, também era judoca. O Chicão Camilo é campeão pan-americano, mas é o Thiago Camilo, campeão mundial, que se deu melhor na carreira. A Mayra Aguiar, que para mim é favorita a uma medalha em Londres, também tem uma irmã mais velha, a Helen, que é judoca”.