Seleção de judô rejeita modelo do MMA e 'loucuras' para perder peso

Dieta rigorosa, desidratação e muito esforço para baixar o peso. O esforço dos atletas de MMA antes do combate nunca foi segredo para ninguém. E depois de sofrer uma revolução nas regras em 2013, o judô tinha tudo para seguir o mesmo caminho. Mas apesar de a pesagem ter sido antecipada para a véspera dos combates, assim como acontece no UFC, a seleção brasileira de judô faz questão de rejeitar o mesmo sacrifício e desgaste adotado pelos lutadores do octógono.

Até o ano passado, a pesagem dos judocas sempre acontecia na manhã de cada campeonato, momentos antes de os atletas subirem no tatame. Mas no começo do ano a Federação Internacional do Judô (FIJ) estabeleceu que os competidores subissem na balança na noite anterior aos confrontos, exatamente igual ao UFC, por exemplo. 

Como têm bastante tempo para se recuperarem, alguns atletas do MMA chegam a eliminar até 10 kg na semana da luta por meio de dieta rígida e uma forte desidratação, sem ingerir líquidos. Mesmo ciente dos riscos, os lutadores repetem o processo cerca de três vezes por ano. “Hoje em dia já sabemos como recuperá-los e evitar qualquer problema. Se tornou algo comum na rotina antes das lutas”, comentou o técnico de José Aldo, André Pederneiras, antes da última luta do campeão do UFC, em fevereiro.

Por conta da mudança estabelecida pela FIJ, a seleção brasileira de judô chegou até a consultar alguns especialistas na perda de peso do MMA para ver se poderia imitar o modelo. O próprio André Pederneiras foi procurado pela comissão técnica da equipe nacional para ensinar seus métodos no corte do peso. Entretanto, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) rejeitou o formato mais desgastante da outra modalidade.

“A diferença é que nós temos 26 competições ao longo de 52 semanas. O atleta participa de oito delas, no mínimo. Isso diferencia bastante a perda do peso em relação ao MMA. Tivemos reuniões para ver como eles fazem, pois precisamos saber isso, conhecer essas práticas. Mas no fim não mudamos muita coisa na rotina dos nossos atletas”, destacou o coordenador técnico da seleção, Ney Wilson.

Ao invés de eliminar oito ou dez quilos como os lutadores do MMA, os atletas da seleção de judô perdem somente dois ou três, no máximo. Além disso, eles evitam o trabalho de desidratação forte no dia da pesagem, com horas na sauna ou banheira, como fazem os representantes das artes marciais mistas.

“Uma das poucas mudanças que tivemos é foi aumentar o limite de peso dos atletas de 3% para 5% acima da categoria na semana da luta. Além disso, liberamos um jantar um pouco mais reforçado. Mas instruímos a equipe para que eles percam o peso de maneira gradativa”, ressaltou a nutricionista da seleção Gisele Lemos.

Vale ressaltar que também existem diferenças na dieta dos representantes de ambas as modalidades. Enquanto os atletas de MMA cortam o consumo de carboidratos antes da pesagem, os judocas apenas reduzem o consumo do componente, por exemplo.

“Mantemos o consumo de carboidrato como reserva de glicogênio muscular. Mesmo que o atleta faça uma restrição alimentar no dia da pesagem, ele come frutas, que possuem carboidratos. Depois da pesagem, fazemos um trabalho de reidratação e depois com suplementos, carboidratos e aminoácidos”, explicou Gisele.

Após o anúncio da mudança no dia da pesagem, chegou a ser especulado que muitos atletas usariam o fato para baixar de categoria nos campeonatos, o que não chegou a acontecer. O medalhista olímpico Tiago Camilo é um exemplo de atleta que aproveitou o fato para ganhar alguns quilos de massa muscular e ficar mais forte do que antes.

“Ganhei cerca de três quilos, mas não mais do que isso. Para nós seria difícil perder mais, até porque fazemos mais lutas que o pessoal do MMA”, afirmou o titular da seleção no peso médio (90 kg).