Topo

Escândalos sexuais abalam imagem e ameaçam judô japonês de crise

Ryuji Sonoda, ex-técnico da seleção japonesa de judô, acusado de bater nos atletas - AP
Ryuji Sonoda, ex-técnico da seleção japonesa de judô, acusado de bater nos atletas Imagem: AP

Rodrigo Farah

Do UOL, em São Paulo

30/05/2013 06h00

O melhor judô do mundo está com a imagem estremecida fora dos tatames. Na última semana, o diretor da federação japonesa Jiro Fukuda admitiu ter abusado de uma atleta da seleção, o que estremeceu de vez a credibilidade da luta no país após a explosão de uma série de escândalos revelados neste ano. A modalidade já teve a verba do comitê olímpico cortada em março por conta dos casos.   

Fukuda admitiu o ocorrido e renunciou ao cargo após o anúncio de que seria formada uma comissão com o propósito de investigar possíveis abusos na seleção nipônica.

O dirigente de 76 anos disse que tentou abraçar e beijar a lutadora à força em um elevador do metrô de Tóquio, em 2011. Fukuda não quis revelar o nome da atleta e disse não se lembrar perfeitamente do que aconteceu por estar embriagado durante o ocorrido.

A medalhista de prata nas Olimpíadas de Barcelona-92 Noriko Mizoguchi foi a público e confirmou o incidente em um simpósio contra o abuso sexual no esporte na capital do Japão. A vice-campeã olímpica disse que a judoca, atualmente com 30 anos, comunicou o ocorrido à federação, mas que nenhuma medida foi tomada.

“Não seria surpresa ver esta história acabar em um processo criminal”, comentou Noriko Mizoguchi depois de ter sido contatada pela vítima.

O caso mancha ainda mais a credibilidade do judô japonês após as primeiras revelações de abuso no começo do ano. Antigo rival de João Derly, o bicampeão olímpico Masato Uchishiba foi condenado a cinco anos de prisão após ter sido acusado de estupro por uma atleta treinada por ele.

A decisão saiu dias após o técnico da seleção feminina Ryuji Sonoda renunciar oficialmente ao cargo. O treinador de 39 anos foi acusado de agressão física por nada menos do que 15 atletas diferentes em cartas anônimas entregues ao comitê olímpico. De acordo com as judocas, elas apanhavam de varas de bambu, levavam tapas na cara, chutes e eram empurradas no peito por Sonoda.

As primeiras reclamações contra os métodos violentos do técnico chegaram à Federação Japonesa de Judô em setembro do ano passado, mas ele recebeu apenas uma advertência na época, o que motivou o envio das cartas ao comitê.

“Quero me desculpar profundamente por ter causado problemas a todos os envolvidos pelo que fiz e disse. Será difícil continuar com o programa de treinamentos. Gostaria de entregar minha renúncia”, declarou Ryuji Sonoda.

Os escândalos forçaram o comitê a tomar uma primeira atitude contra a federação: corte da verba anual, que gira em torno de anuais em torno de R$ 600 mil.

BICAMPEÃO OLÍMPICO, MASATO UCHISHIBA FOI PRESO POR ESTUPRO

  • Getty Images

“O comitê tem uma política de tolerância zero em qualquer ação que atinja os princípios olímpicos. Não há nenhuma desculpa para o uso de violência, não importa o que aconteça. Precisamos pensar em como desenvolver habilidades técnicas para treinar os atletas da maneira apropriada”, afirmou o secretário geral do comitê, Noriyuki Ichihara.

Pressionado para deixar o cargo, o presidente da Federação Japonesa de Judô, Haruki Uemura, resiste aos pedidos. Acusado também de corrupção, ele afirmou em abril que eventualmente deixaria o cargo, mas continua à frente da entidade.

Vale ressaltar que as polêmicas ainda não afetaram o desempenho do Japão dentro do tatame. No último fim de semana, o país terminou o Masters – segundo torneio mais importante do circuito mundial – na primeira colocação, com três ouros, duas pratas e dois bronzes. A Mongólia ficou em segundo lugar, seguida pelo Brasil.