Edinanci vira estudante e encara rotina de trem e metrô para ir à faculdade
Edinanci Silva já foi apontada como a principal judoca do Brasil. Hoje ela é mais uma em meio a milhares de pessoas que se espremem diariamente no horário de pico nas linhas de transporte de São Paulo. Com quatro participações em Olimpíadas e a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2007, a judoca há tempos deixou de aparecer na mídia e passa quase que despercebida nos vagões.
A rotina de baldeação e estações é encarada com naturalidade e por um objetivo ainda distante: se formar em Educação Física. A atleta, que aos 37 anos ainda compete, está no segundo semestre da faculdade. De São Caetano do Sul, onde reside, à universidade, em São Paulo, Edinanci pega trem e metrô. De vez em quando ela é reconhecida.
“Às vezes o pessoal do metrô lembra de mim. Mas sou tímida. Não sou muito de dar autógrafo. Gosto mais de conversar com as pessoas, ouvir o que elas têm para falar”, diz.
Nos últimos quatro anos Edinanci concedeu pouquíssimas entrevistas. Ela, por exemplo, pediu para que não fosse fotografada para a reportagem. Os constantes questionamentos sobre sua sexualidade, e, principalmente, a timidez a afastaram dos holofotes.
Ao UOL Esporte, a judoca vê nos estudos a possibilidade de se alcançar uma nova etapa no esporte, desta vez como professora ou técnica. As atividades como atleta devem durar no máximo mais dois anos, projeta.
“Eu tenho que reconhecer que o ‘maquinário’ já não é mais o mesmo [risos]. A máquina vai se desgastando. Estou em final de carreira. Eu já não faço os mesmos treinos da época de competição, mas continuo treinando e representando a Marinha”, admitiu.
Edinanci perdeu recentemente contrato com a prefeitura de São Caetano, embora continue treinando no local. Ela defende a Marinha nacional desde 2010, onde recebe auxílio financeiro.
Não dou importância para esse assunto [sexualidade]. Isso incomoda mais quem fica insistindo. Sou uma pessoa tímida, feliz, e que tem bons amigos
De família paupérrima na Paraíba, ela ficou décadas longe dos estudos. O retorno às salas de aula é visto por ela como um desafio tão intenso quanto uma disputa por medalha no tatame.
“Há muitos anos que eu não estudava. Eu vejo como uma vitória pelas dificuldades que tive na vida. Outro dia fiquei nervosa na aula de anatomia. A sensação foi a mesma de quando eu disputava torneios”.
Nos tempos em que defendeu o país nas Olimpíadas, Edinanci teve de provar com exames que era mulher. Polêmicas e assuntos envolvendo sua sexualidade não a incomodam como antes. A fala serena evidencia sua despreocupação com o que “os outros vão pensar de mim”. A judoca se reserva no direito de não falar sobre sua vida social.
“Eu tenho sonhos e sentimentos como qualquer pessoa. Sou uma pessoa reservada. Não gosto de comentar minha vida social, até porque não sou muito de sair [para baladas]. Não tem muito o que falar”, sorriu a judoca, que virou espectadora dos amigos participantes do Mundial da modalidade, no Rio de Janeiro.
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