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Melhor judoca sul-americana da história vendia salgados para treinar

Do UOL, em São Paulo

29/08/2014 15h54

O Brasil é a maior potência do judô na América do Sul. Mas o melhor judoca da história do continente, pelo menos quando o assunto é Campeonato Mundial, não nasceu por aqui. Yuri Alvear, da Colômbia, conquistou nesta sexta-feira (29) seu terceiro título mundial na categoria médio (70kg) em Chelyabinsk, na Rússia.

É a única sul-americana no seleto grupo dos tricampeões mundiais da história da modalidade. Só 22 pessoas nos 58 anos da competição conseguiram o feito - a maioria é japonesa. O Brasil tem só um atleta com mais de uma medalha de ouro, o gaúcho João Derly (2005 e 2007). Os outros campeões do continente, os brasileiro Luciano Correa, Mayra Aguiar, Rafaela Silva e Tiago Camilo, a argentina Daniela Krakower e a venezuelana Natasha Hernandez, venceram só uma vez.

É um feito considerável quando você pensa nas características do judô. Ao contrário de esportes como atletismo ou natação, por exemplo, em que existem marcas para basear sua evolução, o judô é medido pelo desempenho contra seus rivais. Você só melhora quando treina com os melhores. E Alvear, em um país sem nenhuma tradição, não tinha nada disso.

Superar dificuldades, porém, é algo que a colombiana está acostumada a fazer desde pequena. Filha de um pedreiro e de uma lavadeira, sua família nunca teve dinheiro para luxo. Algumas vezes, faltava até para o básico. Quando Yuri começou a lutar judô, após ser pega batendo no irmão mais velho (sim, mais velho) por um professor de educação física, os pais não gostaram. Não só acharam o esporte violento. Como cobrir os custos?

À medida que o talento foi aparecendo, a falta de dinheiro aumentava. Adolescente, Yuri sempre teve de batalhar para conseguir dinheiro para viajar para as competições. Ela, a mãe (dona Mirian) e o pai (seu Arnobis) saiam pelas ruas da cidade de Jamundi, no sul da Colômbia, vendendo empanadas. O dinheiro era usado para a carreira da judoca, mas não bastava. Os colegas de clube também ajudavam, com rifas e bazares. Quando começou a ganhar dinheiro com o esporte, a primeira coisa que fez foi comprar uma casa para a mãe e pedir para que ela parasse de trabalhar.

Só talento e esforço, porém, não explicam o sucesso. Coloque na mistura o intercâmbio com outras escolas e o treino com homens e você tem a receita da campeã. Alvear começou a se destacar internacionalmente quando trocou de clube e passou a morar em Cali. Por lá, passou a ser treinada pelo cubano Ramón Lopez. Foi com ele como técnico que ela conquistou seu primeiro título mundial, em 2009.

Desde então, ela trocou de técnico. Saiu a escola cubana, a mais vitoriosa da América Latina, entrou a japonesa. Desde 2012, ela é treinada por Norikuyi Hayakawa. Com ele em seu córner, foi medalhista de bronze nas Olimpíadas de Londres. A dobradinha continua até hoje, rendendo mais dois título mundiais- além da Rússia, ela venceu no Rio de Janeiro, no ano passado.

“A Colômbia está se tornando um país muito esportivo nos últimos anos. Mas não me considero a melhor atleta do país. Temos uma seleção de futebol que foi muito bem na Copa do Mundo, atletas se destacando na Liga de Diamante. Há muito talento”, afirma.