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Judô brasileiro vai do sumô ao jiu-jitsu pelas medalhas olímpicas

Charles Chibana pesa apenas 66kg, mas usa o sumô em sua preparação - Divulgação
Charles Chibana pesa apenas 66kg, mas usa o sumô em sua preparação Imagem: Divulgação

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

30/09/2014 06h00

O judô é um esporte de tradições centenárias. A influência externa costuma ser rejeitada e regras são alteradas para manter a pureza da luta. Em 2008, por exemplo, uma mudança foi feita para afastar a modalidade da luta olímpica, após uma onda de sucesso de atletas que usavam mais agarrões às pernas, típicos do wrestling, do que golpes tradicionais.

Nesse contexto, quem olha para a preparação da seleção brasileira da modalidade, principal aposta de medalhas do país para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, pode se surpreender: o time tem atletas treinando luta olímpica, levantamento de peso e até mesmo jiu-jitsu e sumô.

Achou estranho? Os atletas acham normal. Olhe o exemplo de Charles Chibana. Aos 25 anos, ele é o número 1 do mundo na categoria meio-leve, para atletas com até 66kg. E sabe qual a sua luta “importada”? O sumô.

Desde criança, ele treina o sumô de Okinawa, modalidade criada na província do sul do país asiático que usa conceitos parecidos com os do sumô tradicional, mas com uma diferença: enquanto no tradicional, o objetivo é empurrar o rival para fora da área de luta, em Okinawa você deve derrubar o adversário.

“Justamente por você ter de derrubar o adversário, é preciso de muita força e equilíbrio. Eu luto desde o dez, 11 anos. Minha família veio de Okinawa e é uma tradição por lá. Disputei alguns campeonatos aqui, quando criança, e até hoje me ajuda muito”, conta.

No último domingo, por exemplo, sua vitória veio com um golpe que usava bastante a base conquistada na luta irmã: no Desafio Brasil x Japão, disputado em um teatro em São Paulo, ele conseguiu o ippon ao levantar o japonês Jumpei Morishita e projetá-lo no chão. “Hoje, uso o que aprendi no sumô principalmente nos aquecimentos. Mas percebo que o que aprendi me faz ficar preparado para enfrentar atletas fortes do leste europeu e do norte da Ásia, criados em países em que lutas assim são muito populares”, completa.

Outra arma que vem sendo usada é a luta olímpica, que já foi barrada anteriormente. Após os Jogos Olímpicos de 2008, o judô passou a restringir golpes usando a pegada nas pernas do rival. O objetivo era se distanciar das lutas olímpica e greco-romana, em que as projeções e imobilizações tem muito mais a ver com força do que com as alavancas, como no judô. O uso da modalidade, porém, não foi abandonado, mas adaptado. “Hoje, usamos muito a luta olímpica para melhorar a defesa. Muitas posições ajudam a evitar golpes”, conta Rafael Silva, peso pesado (+100kg).

Até mesmo o jiu-jitsu, luta aperfeiçoada no Brasil pela família Gracie e que é irmã do próprio judô (ambos vieram do ju-jitsu), ganhou destaque na preparação recentemente. Desde o início da temporada, os juízes estão permitindo mais tempo de luta no chão do que anteriormente. E os treinamentos de neowaza (as técnicas de solo) voltaram a ganhar importância.

“Antes, o comando para levantar era muito rápido. A arbitragem não entendia ou não levava em consideração muitas das técnicas de chão. Hoje, eles deixam a luta correr mais. Por isso, treinávamos muito mais a luta em pé. Isso mudou e o atleta precisa se cuidar mais no chão. E o jiu-jitsu entra nessa situação. Muitas das passagens de guarda do jiu-jitsu são usadas”, analisa o técnico da seleção brasileira, Luis Shinohara.

Essa união de modalidades é vista com simpatia pela Confederação Brasileira. “Existem muitas lutas que podem ser usadas. Na luta greco-romana, no sumô, no sumô da Mongólia (modalidade parecida com o sumô de Okinawa), os golpes são muito parecidos com os do judô. Só precisam de ajustes para serem usados”, fala Shinohara. “Estamos bastante atentos ao que pode ser usado de outras modalidades, analisando sempre as características dos judocas para isso. O que não podemos é forçar um atleta a usar uma ferramenta nova com a qual ele não vai se adaptar”, completa Ney Wilson, coordenador da CBJ.