Testemunha-chave no caso Sabino não comparece para depor na Polícia Civil
A cabo da Polícia Militar Águida Heloísa Barbosa Rodrigues não compareceu para depor ontem (5) no inquérito civil sobre a morte de seu marido, o sargento Luciano Agnaldo Rodrigues, e do também policial e ex-judoca Mário Sabino. Testemunha-chave no caso, ela frustrou os planos da Polícia Civil de Bauru, 340 km de São Paulo, de dar um passo nas investigações que correm paralelamente ao inquérito instaurado pela justiça militar.
De acordo com o delegado Clédson Nascimento, que comanda as investigações do inquérito civil, a cabo Águida não recebeu autorização do Comando da Polícia Militar para comparecer a Central de Polícia Judiciária (CPJ) para prestar esclarecimentos. O depoimento da mulher considerada testemunha chave para elucidar o ocorrido na noite de 25 de outubro, quando os policiais foram encontrados mortos, ambos feridos por disparos de revólver e pistola.
O delegado adiantou que não irá enquadrar a policial Águida Rodrigues por crime de desobediência por ter faltado ao depoimento já que ela cumpriu uma ordem da corporação. "Como não foi possível intimá-la pessoalmente, encaminhamos um e-mail solicitando para que a policial comparecesse para depor nesta terça-feira, hoje recebemos um comunicado da Polícia Militar informando que a cabo não se apresentaria atendendo determinação superior", disse o delegado.
Clédson disse que o comunicado também negou o encaminhamento do conteúdo do inquérito militar para ser juntado à sua investigação. A Polícia Civil não obteve acesso ao depoimento da cabo Águida Rodrigues prestado à Justiça Militar, nem às armas apreendidas no local do crime (uma pistola ponto 40 e revólver calibre 38). O delegado afirmou ter solicitado ao Instituto de Criminalística e a Polícia Cientifica o acesso ao resultado dos laudos. "Para nós, é importante o resultado da perícia do local que dever sair já nos próximos dias", afirmou.
O delegado enviou na manhã de hoje um despacho requisitando que a Justiça se manifeste sobre a competência da investigação. Procurada pela reportagem, a Polícia Militar não se pronunciou sobre a decisão de proibir a cabo de prestar depoimento.
Revolta de parentes
Familiares do sargento Luciano Agnaldo Rodrigues relataram que receberam com indignação a notícia de que a cabo Águida Rodrigues não compareceu para o depoimento. Grazieli Rodrigues Zutieri, irmã do sargento, afirmou que a família está em busca de respostas.
"Não fomos procurados pelo comando da Polícia Militar, nenhuma assistência nos foi oferecida, não tivemos acesso a nada. Minha mãe, Alayde Taranto Buque, tem 75 anos, chora a todo instante e quer respostas, quer saber o que aconteceu naquela noite. Ela chora várias vezes ao dia, são 11 dias que me irmão morreu e ninguém fala nada", afirma.
Grazieli afirma que não tinha entrado em contato com a cunhada há bastante tempo, desde antes da morte de Agnaldo. Ela conta que sua mãe tentou questionar Águida durante o velório sobre o que teria ocorrido naquela noite."Meu sobrinho, filho deles, esteve aqui para visitar minha avó, mas se recusa a falar da mãe e do ocorrido, não podemos forçá-lo, ele também é uma vítima disso tudo", completou.
"Queremos respostas, queremos ficar a par das investigações. É um direito nosso. Como vou confiar nos resultados dos laudos se não temos acesso a nada", reclamou. Ela afirmou que a família não tem condições financeiras para contratar um advogado para representá-los.
Retida no batalhão
Na última semana, o UOL Esporte, apurou junto a uma fonte próxima da investigação que a cabo Águida Rodrigues se encontrava retida em um quarto de 4 m² no Comando de Policiamento do Interior (CPI-4) de Bauru, utilizado pelos policiais para repouso e não sai nem para fazer as refeições com o grupo. "Uma pessoa leva a comida dela e ela se alimenta dentro dessa sala, que tem uma cama, uma mesinha e uma janela", disse a fonte.
Na última sexta-feira, uma semana após o crime, o Jornal da Cidade de Bauru publicou reportagem baseada em comunicado assinado pelo coronel Robson Douglas de Souza, comandante CPI-4, em que afirmava que a policial não tinha sido recolhida em momento algum, mas também não quis revelar seu paradeiro, limitando a dizer que ela está em "gozo de luto".
Relembre o caso
O judoca Mário Sabino Júnior foi morto na noite de 25 de outubro, em Bauru, no interior de São Paulo, onde servia como cabo do 4º Batalhão da Polícia Militar do Interior. O sargento Agnaldo Rodrigues, do Centro de Operações da Polícia Militar, que também foi encontrado morto no local, é o principal suspeito do assassinato. Existe a suspeita, ainda, de que Agnaldo teria cometido suicídio após o crime. Policiais que estavam em patrulhamento pelo Jardim Niceia, em Bauru, suspeitaram do posicionamento de dois veículos e, ao se aproximarem, encontraram os corpos dos policiais caídos no chão.
Nenhum dos dois estava trabalhando no momento do desentendimento. O blog Olhar Olímpico apurou que Sabino e Rodrigues teriam se desentendido por questões pessoais envolvendo Águida. Moradores do bairro Jardim Niceia contaram para a reportagem que os dois carros chegaram ao local por volta das 21h.
Depois de uma breve discussão, foram ouvidos os disparos. Minutos depois, os policiais chegaram. O tenente-coronel Ézio Carlos Vieira de Melo, Comandante do CPMI-4, afirmou que Sabino foi morto por Rodrigues, mas disse não ser possível confirmar o suicídio dele. Para Melo, apenas a perícia e os laudos poderão confirmar essa versão.
A Polícia Militar informou que por envolver três policiais militares o caso seria investigado exclusivamente pela Justiça Militar. Quatro dias após o crime, a Polícia Civil informou que abriu um inquérito civil para também investigar o caso, por entender que se trata de um caso civil, já que as policias evolvidos não estavam em serviço e o crime não foi cometido em uma área militar.
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