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Astros das lutas relatam dramas para cortar peso, e médico faz alerta

Edinanci, Maldonado e Michael Oliveira condenam prática de rápida perda de peso - UOL, Getty Images e Reprodução
Edinanci, Maldonado e Michael Oliveira condenam prática de rápida perda de peso Imagem: UOL, Getty Images e Reprodução

Bruno Thadeu

Do UOL, em São Paulo

05/10/2013 06h00

A morte na semana passada do lutador Leandro Feijão reacendeu o impacto causado pela perda de peso para se enquadrar às pesagens pré-lutas. Ao UOL Esporte,a judoca Edinanci Silva, o lutador de MMA Fábio Maldonado e o boxeador Michael Oliveira condenam tal prática.

Edinanci e Maldonado relatam que esse procedimento ainda é muito comum em suas modalidades e que já se submeteram a fórmulas contestáveis de emagrecimento. No judô, diurético era uma palavra recorrente, frisa a ateta.

“Já vi atletas vomitando no tatame porque perdeu muitos quilos. Soube de uma lutadora coreana que morreu na sauna. Atletas botavam plástico sobre a roupa para suar mais, não ingeriam líquidos...Com todo respeito, mas parecia Holocausto na hora da disputa, com atletas com corpo esquelético, parecendo que estavam vindos de campo de concentração”, declarou Edinanci, atualmente fora dos principais torneios do país.

“Um exemplo positivo é o Thiago Camilo, que subiu de categorias devido ao ganho de massa e continuou sendo campeão”, acrescenta a judoca.

Fábio Maldonado diz que já encarou “loucuras” para emagrecer ao longo da carreira. Ele diz que recentemente recusou muito dinheiro para disputar luta com 15kg a menos.

“O trabalho de preparação tem que ser sempre feito com profissionais ao lado. Sempre. Acontece que no Brasil tem muito cacique para pouco índio. Todo mundo acha que sabe, que tem receita boa de como perder peso, só porque no outro deu certo”, disse Maldonado.

“Quem me convence que ficar quatro dias sem hidratar é certo? É muita desinformação. Eu já lutei muito abaixo do peso e fiquei fraco, tomando porrada em luta e em sparring”.

O pugilista médio-ligeiro Michael Oliveira entende que o risco de desidratação (reflexo da perda rápida de peso) é maior no boxe em comparação a outras modalidades de luta.

“A água forma uma camada que protege o crânio. E se você se desidrata, acaba perdendo essa ‘proteção’ interna na cabeça. E no boxe, a pancada está concentrada no crânio. É um risco enorme para quem perde peso”, explica Michael, que  

LEANDRO FEIJÃO MORRE ANTES DE PESAGEM

Os riscos que os lutadores enfrentam

O fisiologista Turíbio Leite de Barros, que atua em medicina esportiva, ressalta que a desidratação causada pela perda de líquido para emagrecer deixa o corpo exposto a acidentes vasculares cerebrais (AVC).

"A desidratação deixa o sangue mais viscoso. E esse sangue viscoso faz com que o atrito com a parede do vaso sanguíneo seja muito maior, podendo romper. Sou totalmente contra essa prática usada em esportes de pesagem. Lembre-se que perder líquido é muito mais fácil do que perder gordura. Por isso seguem essa prática", declarou Turíbio.

O laudo da morte de Leandro Feijão apontou AVC hemorrágico. O neurologista Celso Villa Franca, do hospital São Luiz, em São Paulo, negou que o processo de desidratação ao qual Leandro se submeteu à perda de 900 gramas para combate tenha influência no caso. De acordo com o médico, o tipo de AVC que matou o lutador é resultado de outros fatores.

"Um AVC hemorrágico não tem relação com a perda de peso. A não ser que ele seja hipertenso ou use anabolizante, o que eu não sei se é o caso. O esteroide pode levar à hipertensão arterial e acabar em um acidente vascular cerebral. Não creio que seja o caso, mas cocaína pode levar à hemorragia. Outras coisas são as más formações ou um aneurisma ", disse.