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Luta de Rhyllary durante ataque em Suzano leva outras garotas ao jiu-jitsu

Rhyllary Barbosa, de 15 anos, lutou contra invasor em ataque a escola de Suzano - Adriano Wilkson/UOL
Rhyllary Barbosa, de 15 anos, lutou contra invasor em ataque a escola de Suzano Imagem: Adriano Wilkson/UOL

Adriano Wilkson

Do UOL, em Suzano (SP)

19/03/2019 12h00

Na primeira segunda-feira após o massacre que deixou dez mortos na escola Raul Brasil, Rhyllary Barbosa voltou à rotina de treinos sobre o tatame rubro-negro montado embaixo das arquibancadas do ginásio de Suzano, na região metropolitana de São Paulo. Estudante do segundo ano do Ensino Médio, a garota de 15 anos que entrou em luta corporal com um dos invasores e conseguiu escapar do massacre virou inspiração para outras meninas da cidade.

Entre os cerca de 50 alunos do projeto social Bonsai, que oferece aulas da arte marcial gratuitas com apoio da prefeitura, Rhyllary aperta a faixa branca na cintura, calça suas sandálias Melissa e afirma que já perdeu a conta de quantas entrevistas já deu desde a última quarta-feira. "Já falei tanto do que aconteceu que parece que aqueles segundos são na verdade anos."

Em cada entrevista, Rhyllary relembra como viveu a eternidade daqueles segundos, durante os quais ela viu seu corpo reagir instintivamente a uma violência que ela jamais imaginou passar. Conta como foi surpreendida por Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, que a segurou pelos cabelos e não respondeu quando ela perguntou por que ele estava fazendo aquilo. Lembra de como colou seus calcanhares firmes no chão e os afastou do oponente para evitar ser derrubada, lição do módulo básico de qualquer curso de jiu-jitsu. "Se eu tivesse caído ali, talvez não estivesse hoje contando essa história."

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Calmamente, Rhyllary explica como se desvencilhou e abriu a porta da escola, o que permitiu que dezenas de outras crianças pudessem escapar ilesas das armas dos invasores. Nos dias seguintes, ela ganhou o rótulo de heroína, que ela costuma dividir com outros alunos e funcionários da escola.

"Só depois eu fui entender a dimensão do que eu tinha feito. Outro dia, a mãe de uma menina me parou na rua e disse que a filha dela de nove anos era minha fã, queria tirar foto comigo e que ia começar a fazer jiu-jitsu por minha causa. Eu pensei: 'Nossa!'"

Rhyllary - Adriano Wilkson/UOL - Adriano Wilkson/UOL
Imagem: Adriano Wilkson/UOL

Entre uma orientação e outra, o faixa-preta Ângelo Oliveira, que começou o projeto há cinco anos, mostra na tela de seu celular a conversa com o pai de uma aluna da Raul Brasil. "Estamos todos muito chocados com o que aconteceu", afirma o homem pelo WhatsApp. "Queria te perguntar como fazer matricula na aula de jiu-jitsu, porque minha filha quer treinar também."

Com o nome inspirado na personagem Hillary Banks da série "Um Maluco no Pedaço", Rhyllary se matriculou no jiu-jitsu aos 13 anos, porque queria aprender a se defender dos "perigos do mundo" e convenceu a prima Lauane a se juntar à academia. "Depois do que aconteceu, muitas meninas viram o que eu fui capaz de fazer e agora sentem que elas também são capazes. Acho que muitas outras vão querer começar uma arte marcial", diz a garota.

Sua mãe, a manicure Marilene Barbosa, de 45 anos, afirma que a filha caçula Rhaqueline, de nove anos, também já disse que quer aprender a lutar, assim como suas duas netas de três e quatro anos.

Além de celebrarem a vida de sua colega, os alunos do professor Ângelo se reuniram para homenagear a memória de Cleiton Antônio Ribeiro, o Samurai, um dos mortos do massacre de quarta-feira e que também costumava treinar no projeto. Embora estivesse afastado para tratar de um problema de saúde, era visto como um dos jovens mais promissores do tatame.

Rhyllary se recusou a se afundar no luto pela perda dos amigos de escola. Ela se prepara para retomar o ano letivo e intensificar a rotina de treinos. Nos próximos meses, pretende se tornar uma atleta federada e participar de seus primeiros campeonatos. "Acho que o jiu-jitsu nunca vai sair de mim", ela afirma.