Lutador de 8 anos arrecada R$ 5 mil vendendo balas para ser campeão nos EUA
Enzo Simões teve que ralar muito para realizar seu sonho no começo do ano, mas conseguiu.
Aos 8 anos, o menino de Niterói (RJ) é lutador de jiu-jitsu e queria disputar uma competição nos Estados Unidos. No entanto, os planos esbarraram na condição financeira da família. O pai, Rafael, é porteiro; a mãe, Adriana, é dona de casa.
A solução: a família decidiu vender balas. Assim, vestindo quimonos, Enzo encarou o calor do verão no Rio de Janeiro e foi aos semáforos para oferecer doces. Não apenas ele, mas também o irmão Rhuam, de 14 anos, e os pais. Entre o fim de outubro e o começo de fevereiro, Enzo conciliou os treinos (na academia e em casa), os estudos e os semáforos.
Tudo isso para realizar o sonho de disputar o Pan Kids de jiu-jitsu, em San Diego. E depois de duas tentativas frustradas em anos anteriores, o menino conseguiu.
"O pai dele começou a colocar em várias competições. Ele foi conhecendo outras crianças que também competem, que já competiram lá na Califórnia, no Pan Kids. Aí uma fala para a outra. A gente ficou sabendo. E ele falou: 'Também quero competir lá fora'. Aí surgiu esse sonho", explicou Adriana, a mãe, por telefone, ao UOL Esporte.
"Aí a gente começou a estudar essa hipótese de ir para lá, o que a gente tinha que fazer em relação a financeiro e preparação física. Teve a vontade de ir. No primeiro ano [2017], a gente não teve condições financeiras - tentamos ir, mas não conseguimos. Em 2018, [o problema] foi o visto do pai: o pai começou a se desdobrar, fazer biquinho aqui e ali para juntar o dinheiro, fizemos uma vaquinha online para arrecadar... O pai pagou o visto, mas não passou. Aí o Enzo falou: 'Tudo bem, ano que vem nós vamos'", completou.
Foi aí que pintou a ideia: vender balas. A ideia, conta Adriana, veio do pai do jovem lutador.
"Meu esposo, uma vez pensando nos sonhos e tal, sobre como poderia fazer, chegou e disse: 'Deus falou comigo que a gente tem que arregaçar as mangas e trabalhar, porque ano passado a gente não conseguiu, esperando cair do céu. Esse ano, vamos vender bala no sinal. O que você acha?'", explicou ela. "Vem de Deus, essa ferramenta que Deus deu para a gente. Eu falei na hora: 'Fechou, estou contigo'. Sendo o sonho dos meus filhos, o que não for nada que venha difamar nossa imagem, nos prejudicar, eu estou dentro."
Ao longo deste período, a família arrecadou R$ 5 mil com as vendas. As passagens aéreas vieram de um empresário do ramo de combustíveis, indicado por um pastor que descobriu a história. Assim, no dia 10 de fevereiro, Enzo estava em San Diego ao lado da mãe e do irmão Rhuam, que também luta, para a disputa do Pan Kids.
Nos 15 dias em que passou na Califórnia, Enzo disputou três competições. No dia 16, venceu lutas com e sem quimono da North American Grappling Association (Naga) e foi campeão em sua categoria. No dia seguinte, realizou o sonho de estar no Pan Kids, mas sem conquistar medalhas. Depois, no dia 24, disputou o San Diego International Open, também em lutas com e sem quimono, e também subiu ao pódio.
"O maior sonho dele era estar no Pan Kids", conta Adriana. "Nós focamos no Pan Kids, mas o Enzo, sabendo que a gente ia estar lá, tinha mais campeonatos nos dias em que nós fomos."
Primo famoso luta no UFC
A história de Enzo Simões no esporte começou cedo, aos quatro anos. Graças à influência da família.
"O meu esposo tem um sobrinho que é do esporte, é lutador do UFC, o Sheymon Moraes. Conhecendo o primo, o Enzo se interessou pela luta também. Ele queria fazer muay thai, porque é luta de socar. Ele falou: 'Pai, quero socar, igual meu primo'", conta Adriana. "Mas como uma criança de quatro anos ia fazer muay thai? A gente achou muito violento. Meu esposo falou: 'Vamos colocar no jiu-jtsu, é mais suave'".
Os pais então receberam de um professor o primeiro tatame de EVA que Enzo e Rhuam usavam para treinar em casa. Primeiro na sala, depois no quarto do casal, que cedeu o cômodo e passou a dormir em um quarto menor. Em pouco tempo, os irmãos passaram a contar com mais amigos em casa.
Resultado: a família precisou se mudar para outro imóvel, maior. E contando com o apoio de um professor, o faixa preta Jhonne Soares Amaral, a "brincadeira" de Enzo virou o projeto Nação Kids, com treinos para 31 crianças. Hoje, o menino treina ali às segundas, quartas e sextas; nas terças e quintas, treina até cinco horas por dia em uma academia.
Para ajudar no desenvolvimento do caçula, a família chegou a procurar o apoio de uma escola particular. No entanto, assim que a diretora da escola municipal Sítio do Ipê - onde Enzo estuda - descobriu a história, ajudou a leva-la à imprensa. E rapidamente Enzo ganhou as manchetes.
Dono de cerca de 80 medalhas, Enzo agora tem mais planos para 2019. Primeiro, nos dias 27 e 28 de abril, quer disputar o Campeonato Brasileiro de jiu-jitsu para atletas de até 17 anos, que ocorrerá na cidade de Barueri (SP). Depois, no fim do ano, sonha com o European Kids Jiu-Jitsu IBJJF Championship, em Dublin (Irlanda), a ser disputado em 23 de novembro.
"Ele está focadíssimo. Vamos fazer campanha, vamos para a rua de novo. Ele quer competir, ele e o irmão", conta Adriana.
No futuro, o objetivo é ir mais longe e repetir o primo Sheymon, chegando ao UFC. Para isso, Enzo já luta também judô (é faixa azul) e wrestling.
"É isso mesmo que ele quer. Ele não fala em nenhuma outra coisa além de ser lutador do UFC. Quer ser faixa preta do jiu-jitsu", conta a mãe. A meta dele é morar fora do Brasil, se tornar um faixa preta, e começar a fazer esportes para ir para o UFC. Ele fala: 'Mãe, vou comprar uma casa na Califórnia para a nossa família morar'."
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