Campeã mundial de jiu-jitsu largou engenharia e viaja o mundo dando aulas
Ela tentou seguir o caminho do pai na engenharia e do irmão no judô, mas foi conquistada mesmo pelo jiu-jitsu. Com um início tardio na modalidade, aos 21 anos, Claudia do Val ostenta o bicampeonato mundial faixa-preta - categoria pesado em 2017 e meio-pesado em 2018. Mas, para seguir competindo, ela aproveita as viagens para ensinar a arte marcial e assim se bancar.
Líder do ranking mundial Gi e no-Gi (com e sem quimono) pela Federação Internacional de Jiu-Jitsu Brasileiro (IBJJF), Claudia aproveita o currículo vencedor para vender seus seminários, aulas e até camisetas com a sua marca, esperando por uma melhora na premiação das mulheres e um reconhecimento maior da modalidade fora de seu próprio nicho.
"Eu vivo de jiu jitsu, mas não como atleta. Para ganhar meu dinheiro, tenho que fazer seminários, aulas particulares e workshops. Só com patrocínio, não dá. Com premiação, de jeito nenhum", afirma a atleta nascida em Penedo, no Rio de Janeiro. O principal obstáculo é a disparidade de pagamentos para as mulheres do esporte. "Tem muita diferença ainda, é um aspecto que está evoluindo, está melhorando. Mas ainda tem uma diferença enorme do reconhecimento entre o masculino e o feminino", completa.
Só neste ano, ela já esteve em 19 países, passando por Estados Unidos, Panamá, Filipinas, Brunei, Malásia, Tailândia, China, Romênia, Alemanha, Suíça, Rússia, entre outros, além de viajar também por cidades de diferentes regiões brasileiras, sempre apresentando seminários e competindo.
O esporte influenciou na decisão de abandonar o curso de engenharia no CEFET, no Rio de Janeiro. "Não cheguei a fazer nenhuma especificação, parei bem na metade mesmo, quando as matérias são meio iguais para todos. Eu não estava mais gostando da engenharia, chegava ao ponto de que eu não estava mais suportando, e eu já estava no jiu-jitsu", explica Claudinha, como é conhecida entre os praticantes da modalidade.
A relação de irmandade dos praticantes do jiu-jitsu foi o que a ajudou a deixar o judô, onde não se sentia acolhida. Ela começou na modalidade como complemento aos treinos do judô, apenas para melhorar sua técnica de chão. Desde que optou pelo novo esporte, há 10 anos, ela treina na academia Delariva, com o mestre Ricardo De La Riva, responsável por graduar, entre outros, os irmãos Nogueira - Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro.
"Eu já cheguei mais tarde, tinha muita gente faixa-preta e eu via que eles meio que viravam os olhos para mim. Não sei se isso era particular do meu clube, mas o judô tem em geral essa visão: 'se eu sou faixa-preta, não preciso me misturar com o menos graduado, se eu sou campeão mundial, olímpico, eu só treino com gente do meu nível'. E quando fiz o meu primeiro treino de jiu-jitsu, já vi de cara que foi diferente, então acabei fazendo essa mudança aos poucos".
Uma preocupação de Claudia sobre o profissionalismo do jiu-jitsu é em relação ao controle de doping, que ainda deixa a desejar e dá brechas para os lutadores usarem substâncias proibidas.
"O controle hoje em dia só é feito pela IBJJF e somente em um campeonato, que é o Mundial de Jiu-Jitsu, e não é feito por todos os atletas, só por alguns dos campeões. Brecha é pouco, é ridículo, porque pelo que entendo, muita gente está tomando, mas sabendo quando vão ser testados e conseguem burlar o teste", critica a bicampeã mundial.
Mas o amor pelo esporte supera os problemas da modalidade e foi gravado no próprio corpo com algumas tatuagens: nas costas em letras japonesas e outra na panturrilha direita em homenagem ao judô e uma no tórax com o nome do pai, Maurício.
Fora do jiu-jitsu, ela relata o assédio de alguns seguidores nas redes sociais, que mandam mensagens privadas. O foco da conversa é um tanto quando inusitado: seus pés. Os fetichistas incomodam,
"Isso acaba que tem em todo lugar, pessoal de internet que fica mandando mensagem pervertida, não só para mim. Várias meninas do jiu-jitsu passam por isso. Tem bastante, coisa de gente estranha mesmo", conclui a campeã mundial.
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