Jaoude volta a lutar após três anos e vai ao Pan aos 42 anos
A perda da mãe e a frustração pela perda da vaga na Olimpíada Rio-2016 afastaram o lutador de wrestling Antoine Jaoude das competições. Mas um convite do americano Urijah Faber, do UFC, para integrar seu time em um torneio o resgatou. Em Lima, ele vai, aos 42 anos, disputar sua quinta edição de Jogos Pan-Americanos.
Em 2016, Jaoude garantiu a vaga do Brasil nas Olimpíadas, mas perdeu na seletiva nacional. Isso o levou a se afastar do esporte por três anos. Foi aí que apareceu Faber, que tinha se aposentado no mesmo ano que ele, mas vai voltar a lutar no UFC em julho. Ele montou uma equipe para lutar o Quintet, um evento de submission, e convidou o brasileiro para fazer parte.
"Achei uma oportunidade bacana de voltar ao cenário mundial. E comecei a treinar muito para esse torneio, que é por peso e toda a equipe tem que somar 420 kg. Me preparei para cinco lutas, mas um dos lutadores da nossa equipe se machucou e o Faber chamou o Gordon Ryan. Tanto eu quanto o Faber tivemos que perder 10 kg em uma semana, porque o Ryan tem 102 kg", conta o carioca.
Ao perceber que ainda conseguia baixar tanto o peso em apenas uma semana, mesmo aos 41 anos, se viu apto a voltar a competir no wresling. E viu o Pan como possibilidade. Na categoria 125 kg, ele será o mais velho da equipe brasileira, formada também por Angelo Moreira (até 77 kg), Daniel Nascimento (57 kg), Kamila Barbosa (50 kg), Camila Fama (53 kg), Giullia Penalber (57 kg), Lais Nunes (62 kg) e Aline Silva (76 kg).
Medalha em duelo com campeão do UFC
Jaoude estreou em Jogos Pan-Americanos há 20 anos, em Winnipeg-1999. Sua única medalha na competição veio na edição seguinte, prata, em Santo Domingo-2003. Ele também competiu no Rio-2007 e em Guadalajara-2011. Mas a principal lembrança é da República Dominicana, quando encarou o americano Daniel Cormier, que venceu a luta e mais tarde se tornou um dos campeões do UFC.
"No Pan, eu surpreendi ele nos dois pontos iniciais. Ele vinha de uma equipe olímpica americana muito forte e foi bem bacana. Era um dos favoritos a ganhar medalha e tal", lembra Jaoude, que acabou derrotado. Teve um reencontro no ano seguinte, pelo Campeonato Mundial de wrestling, no Madison Square Garden, em Nova York.
"Eu só tinha uma chance, atacar que nem louco e derrubá-lo para fazer três pontos. Ele estava quase caindo me deu submet e encostou, fiquei 40 segundos na posição de encostamento. Mas ele ganhou e o Madison Square Garden veio abaixo. Até hoje, ele comenta lá nos Estados Unidos que eu fui um dos caras mais fortes que ele lutou, acho isso um privilégio", declara o brasileiro.
Infância em conflito e sonho de trabalhar na ONU
Filho mais velho de um libanês, Antoine foi ao Líbano visitar o avô aos 6 meses e demorou anos para poder voltar ao Brasil devido ao conflito armado. Na adolescência, aprendeu a manusear fuzis e conviveu próximo a bombardeios. A história da família, tradicional no wrestling, despertou no lutador o sonho de trabalhar na ONU, motivo pelo qual ganhou o apelido de "diplomata" no MMA.
Ele então buscou duas graduações em Direito, cujo diploma está retido devido à falência da Universidade Gama Filho (ele ainda tenta resolver a situação), e em Relações Internacionais, que concluirá neste ano. Mas o objetivo de trabalhar na ONU foi adiado quando ele conheceu situações vulneráveis em sua própria cidade.
"Frequentei comunidades do Rio de Janeiro, e vi que estava querendo ajudar o mundo enquanto alguém aqui do lado da minha casa está precisando de mais ajuda. Se eu conseguir ajudar mais a minha comunidade, vou ficar muito feliz e um dia eu vou para a ONU. Eu transformei meu objetivo maior na coisa mais local, pois em algumas comunidades aqui a situação era bem calamitosa", explica.
Porte físico evita frequência em comunidades
No Rio, seu trabalho social é ensinando professores que levam o wrestling para projetos dentro de comunidades como a do Caju, a do Jacarezinho, a Rocinha, a Vila Isabel e a dos Tabajaras, com um número estimado de 700 crianças que aprendem o esporte. Mas devido ao seu porte físico, ele não frequenta muito as comunidades e prefere treinar os professores em sua academia.
"Tenho porte grande, cabeça raspada e aqui no Rio eu sou muito estereotipado à polícia, então achei mais seguro sempre colaborar diretamente com os professores. Eu capacito o professor e ele repassa às comunidades. Mas eu nunca tive problema diretamente com ninguém, graças a deus. Algumas pessoas me avisavam por segurança", completa o veterano.
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