Lutador foi garçom e panfleteiro, e hoje faz pós em gestão financeira
Garçom, panfleteiro de supermercado, reciclador de papelão e auxiliar de pedreiro foram algumas das profissões que o mineiro Angelo Moreira encarou para ajudar na renda de casa. Dos 13 aos 17 anos, era com esses bicos que ele colocava comida na mesa, até conseguir se dedicar exclusivamente à luta olímpica e entrar para a seleção que disputa os Jogos Pan-Americanos de Lima, em julho.
"Eu trabalhei de muita coisa, sempre fazia bicos, fazendo reciclagem para a minha tia, durante boa parte eu era garçom na feira do Mineirinho, que vende produtos artesanais e tem uma praça de alimentação. Tudo que podia fazer para pegar um pouco de renda para ajudar em casa, me manter estudando e bancar viagens para competições, eu fazia", lembra o lutador.
O período mais difícil aconteceu quando seu pai perdeu o emprego em uma montadora de automóveis em Belo Horizonte e a mãe teve de trabalhar como empregada doméstica.
Angelo tinha bolsa integral para treinar judô, jiu-jitsu e luta olímpica em uma academia perto de sua casa. A modalidade a qual menos se dedicava era justamente a que hoje é o seu ganha-pão. A mudança veio depois que o técnico Flávio Cabral, atual coordenador da seleção brasileira, o viu lutando.
Em 2009, o treinador formou um projeto em Brasília para lutadores e levou Angelo com ele, dando condições de treino, além de moradia e alimentação, desde de que o atleta seguisse se dedicando nos treinos e estudos. "Quando eu fui para lá, eles davam toda a alimentação e uma ajuda de custo de R$ 250. Eu não pedia dinheiro para a minha mãe, até porque ela não tinha e eu tinha R$ 250 para não dar trabalho para a minha família. Foi quando eu pensei: 'essa é a minha última oportunidade de tentar ser atleta. Se não for aqui, não vai ser mais'".
O projeto durou apenas um ano e ele só não voltou para sua cidade em busca de emprego porque o treinador o levou ao Rio de Janeiro para ficar hospedado em sua casa e treinar com a seleção brasileira. "Tinha um quarto em que ficávamos nós, os três atletas, em outro ficava o Flávio e no outro a mãe dele. A gente acabou virando parte da família. Ele ajudava com a casa e a alimentação. Nesse período, entrava o Bolsa Atleta, que pagava, mas acontecia de ter atrasos e era o que a gente tinha para pagar transporte e tudo", conta o lutador de 29 anos.
As dificuldades causadas por esses atrasos fizeram com que os atletas se organizassem com as despesas e o dinheiro recebido pelo programa governamental. Isso influenciou Angelo a voltar aos estudos assim que virou sargento da Marinha e passou a receber o soldo, em 2013.
"Por opção minha, quando entrou a Marinha, eu já engatei uma faculdade. Quando cheguei na metade do curso, a própria faculdade me deu uma bolsa pelo fato de ser atleta. Então, já sou formado em administração. Agora, comecei a minha pós-graduação em gestão financeira e controladoria", conta o lutador.
Após ter superado problemas na seleção e quase desistir do esporte, em 2011, Angelo tatuou uma fênix abaixo do braço esquerdo, se viu renascido para a luta e agora vai finalmente ao Pan querendo uma medalha como recompensa por todas as barreiras superadas. "Cada um tem o seu tempo".
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