Mais um lutador iraniano é condenado a enforcamento sob a lei de talião
Mais um lutador iraniano condenado por homicídio será executado no Irã. Mehdi Ali Hosseini, de 29 anos, será enforcado sob a lei de talião após decisão da família do homem morto pelo atleta em uma briga em 2015.
Hosseini terá o mesmo destino que outro lutador iraniano, Navid Afkari, enforcado em setembro do ano passado. Ele foi julgado e obteve duas sentenças de morte —uma pelo assassinato de um funcionário público durante as "revoltas" de 2018 contra o regime do país; a outra, diz a sentença, por 'ofensas a Deus'.
A vítima negou as acusações. A família de Afkari, ainda, afirmou algumas vezes que a confissão do lutador, registrada e divulgada pelo regime, foi obtida sob tortura.
O caso de Mehdi Ali Hosseini é semelhante. Segundo o jornal espanhol Marca, a família da vítima do lutador não concordou com o perdão, que foi solicitado, entre outros, pelo campeão olímpico greco-romano em Londres 2012, Hamid Surian, atual vice-presidente da Federação Iraniana de Luta Livre.
Também se posicionaram em favor de Hosseini o técnico da equipe greco-romana iraniana e de ex-campeões mundiais como Saeid Abdoli, bronze nos Rivers Games de 2016, e Mohammad Talaei. O lutador condenado à morte continuou praticando o esporte mesmo preso: ele conquistou o campeonato nacional de presidiários.
Organizações como a União Nacional para a Democracia no Irã e a plataforma de atletas globais exigem sanções do Comitê Olímpico Internacional (COI) e da União Mundial de Luta Livre (UWW) para o Comitê Olímpico Iraniano que impeçam o país de competir internacionalmente.
Por ocasião da execução de Navid Afkari, o COI solicitou sem sucesso ao Líder Supremo Iraniano a clemência do atleta, "sempre respeitando a soberania da República Islâmica do Irã".
A repercussão da morte de Afkari
O caso de Afkari repercutiu entre as organizações esportivas. O Comitê Olímpico Internacional (COI) se disse "chocado" ao saber da execução do lutador e se posicionou:
"É profundamente lamentável que os apelos de atletas de todo o mundo, e todo o trabalho do COI, com o Comitê Olímpico Iraniano, a Federação Internacional de Luta Livre e a Federação Iraniana de Luta Livre, não tenham alcançado seu objetivo", lamentou o COI.
O órgão esportivo internacional se solidarizou com "a família e os amigos" do lutador executado neste sábado. "A execução do lutador iraniano Navid Afkari é uma notícia muito triste", indicou o comitê, através de um comunicado enviado à imprensa. "Respeitando a soberania da República Islâmica do Irã", o presidente do COI, o alemão Thomas Bach, "fez um apelo esta semana ao Líder Supremo e ao presidente do Irã em cartas separadas", e "pediu clemência para Navid Afkari".
A história de Afkari e hipóteses de tortura
Atleta de sucesso regional, Afkari e seus dois irmãos trabalhavam na construção civil em Shiraz e estiveram nos protestos de rua. Um mês e meio depois, agentes de segurança iranianos bateram à porta da casa deles e levaram o lutador e um dos irmãos. O outro foi preso três meses depois.
Eles foram acusados de "travar uma guerra contra o Estado, de corrupção na terra e de formar um grupo antirrevolucionário". Foi quando surgiu a acusação de que Afkari teria esfaqueado um segurança de um aqueduto. Julgado, ele recebeu duas sentenças de morte, enquanto seus irmãos foram condenados a 54 e 27 anos de prisão.
Além disso, segundo a organização humanitária Observatório Internacional, os três receberam 74 chicotadas cada. A condenação foi mantida pela Suprema Corte do Irã, apesar das queixas formais apresentadas contra os interrogadores por cometerem tortura.
Afkari detalhou como foi forçado a dar falsas confissões enquanto era submetido à "mais severa tortura física e psicológica" durante quase 50 dias na detenção policial. Mas a queixa foi ignorada pela Suprema Corte.
Um áudio atribuído a Afkari foi vazado de dentro da prisão. Nele, o lutador diz que o tribunal que o condenou nunca o ouviu e que até então estava calado na expectativa de uma justiça de fato justa. Ao perder as esperanças, apelava para uma pressão internacional.
"Daqui em diante, minha família e eu precisamos de ajuda. Não estou me dirigindo apenas aos iranianos. Estou me dirigindo a qualquer pessoa que acredita na humanidade e é honrada. Seu silêncio significa que você está apoiando os opressores e a opressão. Significa apoiar a execução de uma pessoa inocente", disse ele no áudio.
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