Família Gracie repudia lutador de jiu-jitsu que imobilizou congolês no Rio
Parte da família Gracie publicou um manifesto contra o uso de um golpe tradicional do jiu-jitsu no assassinato do congolês Moïse Kabagambe, no Rio. Ao ser preso pela polícia, Brendon Brendon Alexander Luz da Silva, conhecido como Totta, de 21 anos, afirmou que é lutador da modalidade e imobilizou o congolês antes de ele ser morto em um quiosque na Barra da Tijuca.
Os patriarcas da família Gracie, Carlos e Hélio, foram os responsáveis pela popularização do jiu-jitsu no Brasil. O manifesto, escrito por Reyson Gracie e assinado por outros membros da família, afirma que "o jiu-jitsu, a arte suave introduzida no Brasil pelo grande mestre Carlos Gracie, tem como base filosófica essencial a defesa dos mais fracos contra a covardia dos mais fortes [...] Não podemos nos manter calados diante de tamanha selvageria condimentada de racismo, xenofobia e preconceito social."
Moïse for assassinado a golpes de paulada no quiosque Tropicália na noite de 24 de janeiro na Barra, zona oeste do Rio. Em um vídeo feito por uma câmera de segurança, ele aparece sendo imobilizado com uma "chave de perna" por Brendon da Silva, o Totta. À polícia Totta disse ter ficado com "a consciência tranquila" após participar do entrevero.
O uso de um golpe de jiu-jitsu da morte de Moïse também foi criticado por Yvone Duarte, a primeira mulher a conseguir a faixa coral, a mais alta da modalidade. "O jiu-jitsu foi criado para a defesa dos mais frágeis. A atitude covarde, brutal, desumana dessa pessoa contraria os princípios fundamentais do jiu-jitsu", escreveu ela no Instagram. "Todos os verdadeiros lutadores e lutadoras devemos repudiar esse ato bárbaro! Quem usa técnicas de jiu-jitsu para matar, oprimir não é um lutador de jiu-jitsu, é covarde, é opressor, é violador, é criminoso."
Além de Brendon da Silva, outros dois homens estão presos sob suspeita de participação no crime. Foram desferidas 11 pauladas enquanto Moïse estava em luta corporal com os agressores e outras 15 quando ele já estava imóvel no chão. Os suspeitos informaram à polícia que um taco de beisebol foi usado para bater na vítima, que morreu em decorrência de traumatismos no tórax, com contusão pulmonar causada por ação contundente.
À polícia Brendon disse que agiu para defender um funcionário do quiosque e que "apenas" segurou Moïse, "sem tê-lo estrangulado" e que, por isso, "tem a consciência tranquila".
Veja o manifesto publicado por membros da família Gracie
Já dizia o padre jesuíta Antônio Vieira no século XVII que "O corpo do Brasil está na América e a alma na África". É lamentável saber que o Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, o berço do samba e das manifestações culturais e religiosas afrodescendentes, seja palco de tão bárbaro assassinato como recentemente ocorreu na praia da Barra da Tijuca onde um africano do Congo foi cobrar seu salário do seu patrão no quiosque onde trabalhava. O que mais salta aos olhos nessa violência é, além da motivação torpe, a brutal covardia. O jovem negro, refugiado, um trabalhador de 24 anos, foi cruelmente espancado até a morte por 5 homens.
Segundo reportagens, o rapaz foi imobilizado com um golpe de jiu-jítsu, o mata-leão, enquanto outros 4 homens o espancaram até morrer, tendo um deles como arma um taco de beisebol.
O jiu jitsu, a arte suave introduzida no Brasil pelo grande mestre Carlos Gracie, o criador da dinastia Gracie, tem como base filosófica essencial a defesa dos mais fracos contra a covardia dos mais fortes. Num país onde a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado, como é o caso do Brasil, não podemos nos manter calados diante de tamanha selvageria condimentada de racismo, xenofobia e preconceito social.
Eu, como professor dessa arte marcial hoje difundida pelo mundo inteiro e filho do grande mestre Carlos Gracie, sinto-me na obrigação de vir a público conclamar a todos os membros da minha família e a comunidade de praticantes dessa luta para repudiar com veemência mais essa atitude covarde, racista e xenofóbica, e pedir que se faça justiça diante desse crime selvagem contra um irmão de alma africana.
Reyson Gracie
Assinam o manifesto:
Roger Gracie
Reila Gracie
Sonja Gracie
Kirla Gracie
Carlos Gracie Neto
Stephania Gracie
Rolker Gracie
Elbienn Gracie
Bianca Gracie
Riller Gracie
Charles Gracie
Jacqueline Gracie
César Gracie
Cael Gracie
Royce Gracie
Vanessa Gracie
Rigan Machado
Rílion Gracie
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