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Royce Gracie compara UFC a show de rock e não vê Anderson Silva imbatível

Royce Gracie expôs as mudanças do MMA, mas elogiou a popularização do esporte - Divulgação
Royce Gracie expôs as mudanças do MMA, mas elogiou a popularização do esporte Imagem: Divulgação

Rodrigo Farah

Em São Paulo

15/04/2011 07h00

É impossível não relacionar o Ultimate Fighting Championship a Royce Gracie. Campeão de três das quatro primeiras edições do torneio, o carioca é um dos atletas mais respeitados do MMA e um ícone dos primórdios do evento na década de 90.

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Quase 18 anos após a realização do primeiro UFC, Royce segue ligado ao mundo do vale-tudo. Apesar de não lutar há quatro anos, o mestre de jiu-jítsu acompanha de perto a evolução em massa do esporte que ele ajudou a popularizar. Porém, o veterano tem uma série de ressalvas quanto às mudanças feitas na modalidade.  

“Na minha época não havia todas essas regras e imposições, luvas, tempo de luta, peso... Era outra coisa”, ressaltou o atleta de 44 anos. “Hoje o UFC é um show. Você paga seu ingresso para assistir a um evento, como se fosse um show de rock”, completou.

Em entrevista ao UOL Esporte, Royce Gracie fez uma análise profunda sobre o rumo que o UFC tomou nos últimos anos e sobre a popularização do esporte. O atleta também comentou a respeito do reinado Anderson Silva, salientou que o campeão dos médios não é imbatível e um dia será derrotado.

Confira os principais trechos da entrevista:

UOL Esporte - Você está morando nos Estados Unidos. Como é seu contato com o esporte por aí? Está treinando forte ainda?
Royce - Estou morando perto de Los Angeles, realizando seminários e auxiliando meus faixas pretas [de jiu-jítsu]. Fico uns seis meses do ano viajando, mas sempre treinando. Meu peso é o mesmo de 20 anos atrás [80kg] Continuo treinando, mantendo a espada afiada. Sigo uma alimentação rigorosa. Nunca bebi, nunca fui de festas, carnaval, nada disso...

ROYCE MIRA APOSENTADORIA NO UFC RIO

  • Divulgação

    O UFC Rio deverá promover a despedida do lutador mais influente da história do MMA. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Royce Gracie admitiu que negocia com os dirigentes da entidade para ser um dos protagonistas da edição do UFC Rio. Não só isso, como o ícone do jiu-jítsu e do vale-tudo deverá realizar sua despedida do esporte na Arena HSBC em agosto.

UOL Esporte - E como vê o 'boom' recente do MMA, com crescimento de público e mídia?
Royce - A base do UFC na verdade foi criada há décadas e décadas, pelo meu pai e tios. Eles queriam divulgar nosso de jiu-jítsu como a melhor defesa pessoal do mundo. E só havia uma maneira de fazer isso. Lutando contra outras artes, sem regras e sem peso. Foi isso o que meu pai criou há 70 anos, e o UFC de hoje virou um produto disso. Mas na minha época não havia todas essas regras e imposições, luvas, tempo de luta, peso... Era outra coisa.

UOL Esporte – Mas o UFC da década passada era bem diferente do atual...
Royce - Quando o Rorion [Gracie, irmão de Royce] criou o UFC, ele manteve o estilo de campeonato que meu pai criou. Um cara tinha que lutar com o outro sem peso, sem luva e quase sem regras. Hoje o UFC é um show. Você paga seu ingresso para assistir a um evento, como se fosse um show de rock. Antes, o objetivo era ver qual arte era a melhor, mas hoje colocam dois lutadores com estilos combinados de arte.

UOL Esporte – Você é contra essa popularização recente do UFC?
Royce - Não. Era algo necessário. Era preciso transformar o esporte em um show, para vender mesmo. Começaram a colocar muitas regras para ter esse show. Quando começamos, não era assim. Não tinha peso, não tinha limite de tempo. Queríamos apenas ver qual era o melhor estilo de arte marcial, mas não seria tão popular assim.

UOL Esporte – Vocês sofreram muito preconceito no começo do UFC, até com problemas políticos. Como fizeram para legalizar o esporte nos Estados Unidos?
Royce - A ideia era materializar os conceitos do meu pai e tios nos Estados Unidos. Mas enfrentamos muitas barreiras, principalmente por causa da comissão de boxe. Não os incluímos na jogada e eles fizeram tudo para dificultar. Tínhamos limitações para fazer em três ou quatro estados apenas, não podia passar nada que não fosse em pay-per-view, coisas assim. Mas aos poucos o público viu que era algo interessante e entendeu o conceito. Por isso, está tão grande hoje em dia.

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UOL Esporte - E por que a família Gracie decidiu vender a parte que tinha do UFC?
Royce - O Rorion quis sair justamente porque colocaram muitas regras. Para se ter o show, tem que ter regras. As pessoas às vezes confundem o vale-tudo de hoje com uma briga de rua e não tem nada a ver. Na rua não tem peso, não tem juiz. O que meu pai fez foi criar uma luta de defesa pessoal para a rua. Se alguém for te atacar, não vai perguntar quanto você pesa antes de fazer isso. É bem diferente. 

UOL Esporte - Você está contente com o caminho que o torneio tomou?
Royce - Estou sim, muito. Eles realizaram uma série de esforços que deu certo. Quebraram o preconceito e popularizam o evento da forma que deveria ser. O espaço que o esporte tem hoje é muito bom.

UOL Esporte - E você acredita que o jiu-jítsu ainda é a arte mais eficiente para o MMA?
Royce - É a mais eficiente para a defesa pessoal. É o que interessa e foi para isso que o jiu-jítsu foi criado. Você não entra em uma academia de caratê para poder bater nos outros. Não entra em uma academia de judô ou taekwondo para bater nos outros e sim para não bater. Apenas para se defender. Com o jiu-jítsu é a mesma coisa.

UOL Esporte - O que acha dos lutadores atuais do UFC? Como vê o reinado do Anderson Silva?
Royce - Ele é o campeão e para ser campeão não é fácil. Ele não ganhou tudo isso à toa, não foi na sorte. Mas uma derrota sempre acontece. Um dia vai acontecer. Até lá, tem que ver quem vai conseguir isso, mas sempre acontece.

UOL Esporte – E como você faz para manter os treinos e a forma aos 44 anos? Também segue a dieta Gracie?
Royce - Sigo, sempre. Na verdade, não bem uma dieta, é um regime alimentar, que não deixa seu corpo ficar desgastado com a digestão. Quando você come carne de porco, coca-cola, essas coisas, seu corpo gasta muita energia na digestão. Você já tem que lidar com o stress do dia-dia, com todos os problemas e seu organismo ainda tem que gastar muita energia com a digestão. Na alimentação Gracie, nós combatemos isso. Você pode comer de quase tudo um pouco, mas do jeito certo para seu organismo. Meus tios desenvolveram essa alimentação e testaram muito ela em mim. Isso me ajudou muito.