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Médicos comparam Minotauro a Ronaldo e relatam dor e superação antes do UFC Rio

Minotauro festeja vitória contra Brendan Schaub: quatro meses antes, estava de muletas - Rafael Andrade/Folhapress
Minotauro festeja vitória contra Brendan Schaub: quatro meses antes, estava de muletas Imagem: Rafael Andrade/Folhapress

Maurício Dehò

Em São Paulo

02/09/2011 07h00

O Rodrigo Minotauro que nocauteou Brendan Schaub no último sábado, pelo UFC Rio, tem pouco daquele que virou 2010 para 2011 de muletas, praticamente sem andar. A depressão pela dificuldade em se recuperar de três cirurgias, sendo duas no quadril, transformou-se em poucos meses na superação que se viu dentro do octógono. E se a fisioterapia deve acompanhar o baiano pelo resto da carreira, a comparação dos médicos que o trataram com o caso de Ronaldo Fenômeno deixa claro que ele ainda pode sonhar em fazer muito como lutador, mesmo aos 35 anos.

ENTREVISTA: Após depressão, baiano detalha emoção de lutar em casa e mira Mir

  • Divulgação

    Rodrigo Minotauro conversou com o UOL Esporte e deu detalhes de sua estreia lutando dentro de casa, no UFC Brasil. Além de revelar ter ficado com depressão durante seu tratamento, ele falou dos audaciosos planos em seu futuro no UFC.

    Qual foi a sensação de lutar em casa?
    Quando entrei no ginásio só ouvi aquela barulheira. Eu entrei enrolado na bandeira do Brasil e o pessoal começou a gritar. Então, eu olhei para baixo e não tive coragem de olhar para cima, senão eu sabia que iria me emocionar.

    Você é cotado para lutar em dezembro e fevereiro, no Japão. Qual a data ideal?
    Minha preferência é o Japão (onde foi campeão no Pride), com certeza. Mas lutar em dezembro me atrai muito também, porque já peguei um pouco o gás com essa luta, então toparia fazer outra.

Durante esta saga, a imagem chegou a ser de pura desolação. "Ele chegou a me dizer: 'o que eu quero você não pode me dar'", relatou a fisioterapeuta Ângela Côrtes, sobre o primeiro contato com o peso pesado, após ser operado pelo mesmo médico de Gustavo Kuerten. Minotauro se referia à possibilidade de voltar a lutar, que no fim de 2010 estava mais distante do que nunca em sua cabeça. O cenário, no entanto, mudaria radicalmente.

"Se levarmos a comparação para o futebol, temos um exemplo claro que é semelhante ao de Minotauro, que é o do Ronaldo Fenômeno. Após cirurgias extremamente sérias, ele voltou a jogar e ser o melhor do mundo. E o Minotauro provou que também pode", disse o fisiologista Claudio Pavanelli, após o retorno com sucesso do paciente. "Quando o conheci, ele dizia não saber se ia voltar a andar normalmente."

A primeira cirurgia de Minotauro nesta série de operações ocorreu em meados de 2010, no ligamento anterior cruzado do joelho esquerdo. Só isso já renderia cinco meses de estaleiro. Mas, em seguida, duas outras intervenções mais radicais tiveram de ser feitas, nos quadris do ex-campeão do Pride e do UFC.

Devido ao impacto dos treinos e ao desgaste ocasionado por eles, o baiano passou por uma artroscopia no quadril direito em dezembro e depois repetiu o processo, considerado de risco pelas dificuldades na cirurgia, em fevereiro. Até por conta destes fatores, o médico escolhido para tentar resgatar a amplitude dos movimentos do peso pesado foi Marc Philippon, responsável por operar o quadril de Guga.

O grande obstáculo para Minotauro aconteceu após a primeira artroscopia, que teve complicações para a plena recuperação. A fisioterapeuta Ângela Côrtes foi chamada no dia 30 de dezembro para tentar reverter o quadro, deixando os EUA, onde morava, para tratar o lutador no Brasil.

"Foi algo bem traumático para ele. O Rodrigo chegou com sequelas e estava numa situação debilitada. Um mês depois, ele não devia estar de muletas. Foi então que eu entrei, sempre buscando trabalhar também no motivacional, na vontade da pessoa", afirma ela.

A primeira medida para tentar animar o lutador, que estava depressivo com os poucos resultados do tratamento, foi tentar colocar uma data para um retorno. Mesmo com desconfiança do próprio paciente, o baiano deixou de lado seu "pé-atrás" para tentar levar adiante a recuperação.

"A retirada das primeiras muletas foi interessante, porque o trauma era muito grande. Levei o Rodrigo para fazer exercícios na piscina e na saída ele pediu a muleta. Eu disse que não, que ele ia apoiar no meu ombro e ir me empurrando. Parece bobagem, mas deu certo, e é assim que o paciente vê sua evolução", disse Ângela, que ainda teve o desafio de convencer Minotauro a aceitar de bom grado fazer a segunda operação no quadril, do lado esquerdo, que não teve maiores complicações.

A evolução foi tanta, que a própria fisioterapeuta deu o aval para que Minotauro lutasse no UFC Rio, ainda que o lutador não estivesse tão certo da possibilidade. "Eu disse: ?pode fechar, porque eu garanto que o Rodrigo vai dar um show na arena?", conta ela, que diz ter totalizado 700 horas de fisioterapia em sete meses com ele.

Era o momento então de passar à preparação física, primeiramente só com o tronco e em seguida acrescentando os exercícios de pernas, para que o baiano recuperasse sua estabilidade, equilíbrio e flexibilidade, e pudesse enfim retomar seus treinos técnicos.

O profissional encontrado para iniciar este trabalho em abril foi Claudio Pavanelli, que trabalha com o Flamengo e teve passagens por clubes como Santos e Palmeiras, além de outros esportes. Além da recuperação das cirurgias, a ideia era tirar do paciente as limitações que ele vinha sofrendo em seus últimos combates.

"Trabalho com muitos atletas, e ele é um fora de série. Você vê no olhar dele a determinação. Ao passar por dificuldades, ele transforma o impossível em algo que pode se realizar?, explica o médico, que teve de dar algumas broncas no 'gigante' de 110 kg, mas por excesso de dedicação. "Muitas vezes tinha que falar: 'para, chega por hoje'".

Apesar de Minotauro ter vencido todas estas adversidades, a vitória contra Schaub foi só o primeiro passo de um recomeço.

"Daqui para frente, o Rodrigo está liberado para tudo. Mas, como qualquer atleta que teve cirurgia, ele sempre terá de fazer prevenção. Hoje ele não tem limitações, apenas existe a necessidade de juntar os exercícios de fisioterapia com os de preparação física, que são incorporados ao seu treinamento de rotina", completou o fisiologista.

Assim, para seguir no caminho que traçou na volta ao UFC, o baiano terá obrigatoriamente de dar atenção às lesões do passado. É um olhar para trás, mas com a mira nos novos destinos que o triunfo no Rio já lhe permitem traçar.