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Sem grandes novidades, filme de Anderson Silva ignora leigos em MMA

Anderson em foto de divulgação do filme; lutador se divide nos papeis de herói e vilão - Divulgação
Anderson em foto de divulgação do filme; lutador se divide nos papeis de herói e vilão Imagem: Divulgação

Gustavo Franceschini

Do UOL, em São Paulo

06/03/2012 12h00

O filme que se propõe a contar a história da primeira luta entre Anderson Silva e Chael Sonnen não traz grandes novidades sobre a rivalidade que domina as manchetes do esporte desde meados de 2010. Exibido a jornalistas na última segunda-feira, o documentário "Como Água" tem problemas técnicos, falha ao tentar estampar o status de herói no lutador brasileiro e não se preocupa em "iniciar" leigos de MMA no universo específico da modalidade. 

O documentário tem o lutador de MMA como protagonista, mas está longe de ser uma autobiografia. Trata-se, na verdade, de um retrato do que foi a preparação de Anderson Silva para a luta com Chael Sonnen, em 7 de agosto de 2010, quando o brasileiro sofreu diante do rival nos primeiros quatro rounds e escapou de perder o cinturão com um triângulo (espécie de golpe que imobiliza o adversário) nos minutos decisivos.

Só que o assunto não é abordado a fundo pela produção. Os poucos comentários que Anderson Silva faz sobre o estilo falastrão de Sonnen são, na realidade, reproduções de entrevistas marcantes que ele concedeu sobre o tema. As novidades ficam restritas a imagens de bastidores que, na verdade, não revelam grandes detalhes do dia a dia do astro. Na prática, o filme tenta dar uma cara positiva à imagem então desgastada do campeão do UFC. 

O triunfo sobre Sonnen, de certa forma, redimiu o lutador. Sua luta anterior havia sido contra o brasileiro Demian Maia, quando ele sofreu uma chuva de críticas por provocar ostensivamente o rival e apresentar falta de combatividade. Por isso, foi criticado duramente por Dana White, chefão do UFC.

E é justamente no confronto com Demian Maia que começa o filme sobre Anderson Silva. A postura arrogante, tão evidente no confronto com o compatriota, se contrapõe à convivência pacífica e carinhosa do lutador com sua família e seus amigos.

Enquanto Anderson reverencia colegas como Lyoto Machida e Rodrigo Minotauro, explica suas atitudes e mostra o lado bom moço, Chael Sonnen desfia provocações e baixarias. O norte-americano é grosseiro com o Brasil, ameaça aposentar o brasileiro e ainda critica grandes astros do esporte americano como o ciclista Lance Armstrong e o nadador Michael Phelps.

A contraposição entre Brasil e Estados Unidos é tão grande que às vezes o filme parece seguir o caminho de Rocky IV, o filme em que o famoso personagem boxeador de Sylvester Stallone derrota o russo Ivan Drago (e, simbolicamente, vence a Guerra Fria). No caso de Anderson, Chael Sonnen cumpriria o papel de vilão, ressaltado pela própria divulgação de “Como Água”, que classifica o americano como “arqui-inimigo” do brasileiro.

Só que ele não emplaca no papel de herói. Seu descaso com a imprensa, a falta de empolgação com os fãs e o reflexo de tudo isso na relação com Dana White permeiam todo o filme, que é recheado de falhas técnicas e de roteiro.

Contada de forma sequencial, sem grande produção, o documentário muitas vezes exagera na informalidade. Diversas passagens são exibidas sem legenda, e como a música de fundo é muito alta, torna-se impossível entender o que está sendo falado. As imagens, por vezes escuras demais e até tremidas, também não empolgam, mesmo que a câmera tenha acessado lugares tão restritos quanto os vestiários antes da luta.

Pequenas histórias interessantes também ficam sem explicação, ou não ganham a importância devida, como a lesão na costela que foi apontada como grande problema do lutador na disputa decisiva. A ligação entre Anderson Silva e Minotauro, por exemplo, recebeu citação com destaque no filme, mas só foi contada pelo lutador durante a entrevista coletiva que ele concedeu após a exibição da produção em sessão para jornalistas.

“Nos conhecemos no Japão, nos tempos do Pride [grande torneio de MMA que antecedeu o UFC]. Éramos de equipes rivais, mas eu tive um problema político e tive de sair do meu time. Ele e o irmão dele [Rogério, também lutador] me acolheram”, disse Anderson Silva, que ainda contou que Minotauro concordou em reduzir seu próprio salário para que o futuro campeão do UFC ganhasse espaço.

Nada disso, no entanto, será contado aos fãs de Anderson Silva que forem assistir ao ídolo nos cinemas. “Como Água”, que teve direção de Pablo Croce e foi produzido pela California Filmes, estreia em 16 de março em 150 salas em todo o país.