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Sem ciúmes, filhos de lenda do boxe se adaptam a "febre" e investem no MMA

Filhos de Servílio, Gabriel e Ivan posam com Belfort e Shogun, respectivamente - Arquivo Pessoal
Filhos de Servílio, Gabriel e Ivan posam com Belfort e Shogun, respectivamente Imagem: Arquivo Pessoal

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

15/03/2012 06h00

Ivan e Gabriel de Oliveira nasceram rodeados pelo boxe, afinal, são filhos do único medalhista olímpico do pugilismo nacional, Servílio de Oliveira. A influência do pai fez com que o caminho para trabalharem na área surgisse com naturalidade e, curiosamente, ambos não viraram lutadores, mas técnicos. No entanto, mais de quatro décadas após o bronze conquistado por Servílio o cenário mudou e a família teve de se adaptar. Ambos passaram a treinar também atletas no MMA e já colecionam seus primeiros bons resultados, seja em lutas ou no retorno financeiro.

Gabriel é quem foi mais longe e já coleciona uma grande vitória no UFC, já que esteve no campo de treinamento de Vitor Belfort, afiando o boxe do carioca para sua última luta, em janeiro, no Rio. Vale lembrar que Belfort é reconhecido justamente pelas mãos pesadas e os nocautes.

“Tem sido bem prazeroso este trabalho. Tive a felicidade de preparar o Belfort, passei 50 dias com eles em Las Vegas e foi muito legal. Nossa veia é o boxe, mas sempre que posso eu aceito estes trabalhos nos MMA”, explicou Gabriel, que também treinou a seleção brasileira de boxe amador.

Como se sabe, o crescimento do MMA incomodou muitos amantes da nobre arte. Poderia ser o caso dos irmãos Oliveira, mas a opinião da dupla é exatamente a inversa. Para Ivan, que esteve no corner como técnico de Sertão na conquista do cinturão mundial pelo baiano, em 2006, as modalidades precisam uma da outra.

“O boxe é um pilar das lutas, então a galera fica enciumada. Mas o MMA está abrindo portas para que os boxeadores também ganhem campo. Este sentimento faz com que o boxe diminua, então é preciso abrir a mente para ver que o MMA está ajudando”, disse ele, completado por Gabriel. “O ciúme é da parte de quem não sabe fazer as coisas acontecerem. O MMA está na frente porque é organizado ao extremo. Não é modinha, veio para ficar e o pessoal do boxe tem é que fazer melhor seu próprio trabalho.”

MEDALHISTA OLÍMPICO, SERVÍLIO APOIA FILHOS, MAS VÊ MMA COMO VIOLENTO

  • Arquivo Folha

    "Todo mundo criticava o boxe pela violência, hoje os valores mudaram", opina Servílio de Oliveira, bronze nos Jogos do México, em 1968, e único pugilista na história do país a subir em um pódio olímpico. O preconceito marcou o ex-atleta, que hoje vê uma modalidade ainda mais intensa nas telas. "Eu acho uma violência do tamanho de um bonde, longe do boxe. Mas é a modalidade que o povo quer ver e não tento sobrepujar a opinião da maioria."

    Servílio apoiou a entrada dos dois filhos no MMA e diz que inclusive não teria problemas em ampliar seu trabalho como empresário para esta nova área. "Esta tem sido uma ótima oportunidade para eles, tem que abraçar mesmo", concluiu o ex-pugilista.

Gabriel admite que ao trabalhar com grandes nomes como Belfort, o retorno financeiro é muito maior do que ganha apenas com o boxe. Um caminho que foi aberto por outro técnico, Luiz Dórea, mestre de Acelino Freitas, o Popó.

“Dórea foi um visionário. Lá por 1999, enquanto o Popó estava no auge, ele já tinha o vale-tudo em um cantinho, mexendo com isso devagarzinho. Quando vimos, ele já estava no Japão, treinando lutadores do Pride, e hoje é campeão do UFC como técnico principal do Júnior Cigano”, lembrou Ivan. Pitú, como ele é conhecido, iniciou recentemente uma equipe jovem de MMA, com o plano de criar talentos e em dois anos bater de frente com os maiores nomes das artes marciais mistas.

Adaptações do boxe ao MMA

Apesar de o boxe ser um fator fundamental no MMA atual, em que boa parte das lutas tem sido definido na trocação, os técnicos têm de se adaptar a um jogo diferente do que se vê nos quadriláteros.

“Algumas coisas mudam. Sempre é necessário tomar cuidado com as distâncias e o tipo de combinações. No boxe você pode se dar ao direito de chegar mais perto. No MMA, com os chutes e joelhadas, o golpe precisa ser mais reto ou de longa distância”, explicou Gabriel.

Para Ivan, ainda falta técnica a muitos lutadores. “A galera precisa afiar a mão. Desferem muitos golpes, mas poucos realmente são aplicados. Quando começarem a aplicar, atingir como um boxeador, as lutas ficarão mais curtas.”