Topo

MMA


Irmão de Yamasaki conta perrengues do vale-tudo: 'hoje se arbitra com um pé nas costas'

Fernando Yamasaki, à direita, posa com o irmão mais famoso Mário, que é um dos árbitros mais famosos do MMA e presença constante no UFC - Marcelo Alonso/Portal do Vale Tudo
Fernando Yamasaki, à direita, posa com o irmão mais famoso Mário, que é um dos árbitros mais famosos do MMA e presença constante no UFC Imagem: Marcelo Alonso/Portal do Vale Tudo

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

12/09/2012 11h00

O sobrenome Yamasaki é famoso no meio do MMA principalmente pela presença do brasileiro Mario, um dos árbitros mais famosos da atualidade e presença constante no UFC. Mas não é só ele quem dá as caras sobre os ringues. Seu irmão mais novo, Fernando, acompanhou toda a trajetória que transformou o vale-tudo no hoje chamado MMA. Em tempos de muita crítica ao trabalho dos juízes, Fernando Yamasaki falou ao UOL Esporte sobre a atual situação, mas lembrou de perrengues históricos da velha guarda da modalidade, quando a porrada comia também fora do ringue e o trabalho era ainda mais duro.

A família Yamasaki sempre foi de lutadores e professores de artes marciais. Fernando e Mario treinaram judô e jiu-jítsu e, devido ao grande envolvimento com o esporte, acabaram ajudando a trazer o UFC ao Brasil pela primeira vez, em 1998. Diferente da organização de hoje, com a febre do MMA, a década de 1990 ficou marcada pela disputa intensa entre as academias, o que muitas vezes gerava brigas de fato.

Se hoje as críticas são pelos detalhes de luta dentro do octógono, trabalhar como árbitro era muito mais complicado naqueles tempos. Exigia coragem.

“Agora é muito mais fácil, você arbitra com um pé nas costas”, brinca Fernando, que ocasionalmente trabalha no UFC e esteve, por exemplo, na edição 145, que teve Rashad Evans x Jon Jones. “Antigamente, você já era hostilizado ao subir ao ringue, independente do resultado.”

Fernando compara aquelas situações ao que se vê nas facções mais radicais das torcidas de futebol. “Naqueles tempos, era Corinthians x Palmeiras. Não era para qualquer um. Eu fui hostilizado muitas vezes. Minha mãe sempre era lembrada (risos)”, conta o brasileiro.

Um dos grandes problemas que ele viveu aconteceu em 1997, durante o Brazil Open no ginásio da Portuguesa. O hoje consagrado Dan Henderson fazia sua estreia contra Crezio de Souza e o árbitro interrompeu a luta.

“Ele parou no momento errado. O pessoal do jiu-jítsu começou a jogar coisas, tentaram invadir, e eu entrei no meio para evitar. Ninguém vinha para a agressão porque eu era lutador, já me conheciam. Foi o maior perrengue de que me lembro”, relembra ele, que teve de encarar alunos da academia de Carlson Gracie, que foram torcer por Crezio.

Fernando diz que irmão é o maior crítico e não se safa de broncas de Mario ao atuar

  • Fernando Yamasaki se considera privilegiado. Afinal, seu mentor é um dos melhores árbitros do mundo, o irmão Mario. São palavras usadas pelo próprio caçula, que deixa claro toda a influência que teve dentro de sua família para chegar aonde chegou, mas que não esconde que nem sempre as coisas são tão belas.

    "O Mario sempre foi um guia, como um pai. Eu sempre peço benção para o meu pai, mas quem está ali ao meu lado é o Mario", diz ele. Mas e os pitacos na arbitragem? "Ô se ele dá. Me dá várias broncas (risos)! Ele também acaba sendo um técnico, me fala no que errei, onde tenho que prestar mais atenção."

Evolução:  MMA x arbitragem

Por todas essas confusões nos bastidores - a disputa entre as academias Chute Boxe e Brazilian Top Team eram as que polarizavam as atenções, principalmente no Pride - Fernando considera que arbitrar MMA é mais fácil hoje do que naquela época, pela tranquilidade de trabalho sobre o ringue.

O problema é que, enquanto o esporte evoluiu exponencialmente, a arbitragem teve mais dificuldades e não acompanhou o ritmo. Assim, tecnicamente alguns erros acontecem, mesmo que a pressão acabe sendo menor do que no passado.

Hoje, o próprio UFC sofre com episódios polêmicos, que vão desde decisões questionáveis de juízes laterais a combates encerrados antes da hora pelo árbitro central.

Fernando foi árbitro no início do vale-tudo, chegou a parar devido aos seus compromissos como atleta e como dono de academias, mas retornou.

“Depois que me aposentei da carreira esportiva, o Mario sempre me incentivou a voltar. O esporte começou a precisar de pessoas com experiência. Ao mesmo tempo em que tudo melhorou, o esporte cresceu muito rapidamente. Hoje falta quem queira aparecer menos e trabalhar mais. Eu não arbitro no UFC para aparecer na televisão, por causa do meu ego. Estou ali pelo esporte”, diz ele.

A dupla de irmãos tem investido em cursos de formação de árbitros no Brasil, para ajudar a criar uma geração de profissionais que possam tanto chegar ao UFC, quanto tenham condições de trabalhar nos eventos nacionais e amadores.

Eles também são chamados para congressos nos Estados Unidos, buscando aperfeiçoar os árbitros e corrigir erros que acabam denegrindo o esporte. Ensinar regras, padronizar interpretações e até instruções médicas fazem parte das aulas.

Apesar de todo este trabalho, Fernando deixa para Mario a presença mais regular nos UFCs, um trabalho que considera secundário. O irmão mais novo prefere se dedicar mais à administração de suas academias de jiu-jítsu e o trabalho na formação de árbitros e tem aparecido apenas ocasionalmente em edições do Ultimate, tendência que prefere manter no futuro próximo.