Entidade novata revela acordo antigo e assume regulamentação do UFC no Brasil
A representatividade do Brasil no UFC São Paulo do último final de semana não se limitou aos lutadores. Fora do octógono, pela primeira vez, uma equipe brasileira tomou conta da regulamentação do evento, desde a vistoria das bandagens nas mãos dos combatentes até a compilação das notas dos juízes de cadeira. Esse papel coube à recém-criada CABMMA (Comissão Atlética Brasileira de MMA), que tem um acordo com o Ultimate para supervisionar os próximos eventos que serão realizados no país, inclusive a próxima edição do reality show The Ultimate Fighter.
Trata-se de um órgão independente, idealizado há cerca de um ano e meio pelos advogados Giovanni Biscardi e Rafael Favetti. Desde então, eles acompanharam como “sombra” o trabalho dos comissários em eventos do UFC no Brasil e no exterior. Em São Paulo, pela primeira vez, eles foram invertidos de posição e assumiram o comando, enquanto os estrangeiros designados pelo Ultimate só observaram.
A comissão teve sua fundação formalizada no final do ano passado, e logo foi anunciada pela IMMAF (Federação Internacional de MMA) como membro representante no Brasil e responsável pela regulamentação do UFC São Paulo, cuidando de assuntos como arbitragem e fiscalização da estrutura básica do evento, além dos procedimentos padrão para exames antidoping.
COMO FUNCIONA O ANTIDOPING NO UFC
Antes do UFC São Paulo, todos os 22 lutadores passaram por testes antidoping. Depois das lutas, no entanto, apenas seis passaram pelos exames. Dois deles sempre são os participantes da luta principal. Os outros quatro são sorteados. Segundo a CABMMA, este é o procedimento padrão.
Os testes foram feitos por uma empresa terceirizada, e tiveram apenas o acompanhamento da comissão, que fiscalizou a padronização dos procedimentos. Ao final dos exames, os resultados foram enviados para o mesmo laboratório no Canadá que analisa todas as amostras do UFC.
Todos os árbitros que trabalharam no ginásio do Ibirapuera foram filiados à CABMMA, e será o mesmo com os juízes dos próximos eventos no Brasil. Apenas uma função ficou por conta de dois comissários ingleses trazidos pelo UFC. Coube aos fiscais mais experientes subir ao octógono no intervalo das lutas, por se tratar do primeiro evento da comissão brasileira.
“Tivemos a oportunidade de conversar com o UFC quando eles estavam começando a querer vir ao Brasil. Nossa ideia era criar uma associação sem fins lucrativos para regulamentar o esporte. Discutimos com eles e passamos por um período em que a gente ficou por trás de todos os eventos, observando, vendo como as comissões atuavam. Formatamos um projeto, e o UFC viu que era algo livre de conflito de interesses”, explicou Biscardi.
Para conquistar a confiança do UFC e da federação internacional, a comissão brasileira passou por uma série de entrevistas. Montou um comitê médico, comandado pelo Dr. Marcio Tannure, que já vinha trabalhando no Ultimate. E trouxe o árbitro Mario Yamasaki para coordenar a parte de cursos de formação de juízes e jurados.
Não há, entretanto, associação com entidades governamentais ou confederações. E isso é de propósito, como explicou Rafael Favetti: “Federações têm como objetivo fazer ranking e organizar eventos. Esse trabalho de auditoria independente ninguém faz. E não pode compor essa comissão atlética quem é atleta, ou é promotor de evento. Não ganhamos dinheiro com esporte e nem queremos ganhar”.
No Brasil, a entidade de MMA referendada pelo ministério do Esporte é a CBMMA de São Paulo, que esperava assumir esse papel de regulamentação dos eventos do UFC no Brasil. O vice-presidente Roberto Trindade chegou a dizer que a Comissão Atlética não teria habilitação para fazer esse trabalho e lamentou a escolha: "Deve ter sido política". Depois, procurado novamente pela reportagem, voltou atrás e ressaltou que as duas entidades desempenham papéis diferentes, defendendo uma aproximação entre elas.
A associação a órgãos do governo também não é vista com bons olhos pelos executivos da CABMMA, embora a Comissão Atlética de Nevada, a mais famosa do mundo e responsável pelas lutas sediadas em Las Vegas, seja vinculada ao governo norte-americano.
VOCÊ SABIA?
No Brasil, existem duas entidades com a mesma sigla: CBMMA. Uma delas, chamada "Confederação Brasileira de Mixed Martial Arts", tem sede no Rio. A outra, "Confederação Brasileira de MMA, fica em São Paulo
Diretor da Comissão Atlética, Rafael Favetti explicou que a nova entidade não é concorrente das federações, pois tem outras atribuições.
Ele esclareceu ainda que não há empecilho legal para que haja duas federações com mesmo nome e função:"No direito trabalhista, há o que chamamos de unicidade sindical. Isso não existe no direito esportivo, onde a palavra chave é a representatividade".
“A nossa grande diferença para a de Nevada é que ela é ligada ao Estado. E a nossa perspectiva é independente até do governo. A intenção é continuar assim. Mas é nosso dever ter diálogo amplo e transparente com todas as esferas do poder, em qualquer situação que leve esses poderes a entrar no esporte”, observou Favetti, que fica em Brasília e atua nos bastidores da comissão.
A parte operacional fica por conta de Biscardi, no Rio de Janeiro. Foi ele quem acompanhou o UFC São Paulo na função de comissário geral, supervisionando toda a auditoria do evento. O próximo desafio da comissão será o TUF Brasil 2, que inclusive contará com um novo árbitro lateral designado pela CABMMA. Mario Yamasaki e Dan Miragliotta, responsáveis por mediar as lutas dentro do octógono, estão gravando o programa usando uma camisa com a sigla da nova entidade.
Apesar de nova, a comissão já tem acordo com o UFC para regulamentar os próximos eventos da organização no Brasil, que deverão ser mais cinco só em 2013. Mas a entidade está aberta a ser contratada para mediar outros eventos. E os diretores ressaltaram que o preço cobrado é apenas para cobrir os custos operacionais.
“Já fomos procurados por vários eventos, mas agora estamos com foco no UFC e na atuação no TUF. Vamos trabalhar muito caso a caso. Quem vai acabar procurando comissão vai ser quem está pensando a médio e longo prazo, não os imediatistas, que só pensam em um cheque e não enxergam os benefícios. Nossa intenção é só cobrir os custos, e fazer com que sobre alguma coisa para promover os nossos cursos de capacitação”, argumentou Biscardi.
Acontece que a entidade é tão nova que ainda é desconhecida pela maioria. Não há um site oficial na internet até o momento, mas a diretoria assegurou que a divulgação está entre as próximas prioridades, e encaminhou a formação de uma equipe de marketing para cuidar da parte promocional. Só assim a comissão vai conseguir cumprir o que diz ser uma de suas missões: educar o público sobre a legitimidade do MMA.
*Colaborou Jorge Corrêa
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