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Especialista vê riscos, mas UFC aposta em exames de sangue para evitar contágio em combates

Carlos Condit, americano que faz e gosta de lutas sangrentas - Josh Hedges/Zuffa LLC/Zuffa LLC via Getty Images
Carlos Condit, americano que faz e gosta de lutas sangrentas Imagem: Josh Hedges/Zuffa LLC/Zuffa LLC via Getty Images

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

22/02/2013 16h00

A divulgação do caso de hepatite C contraída pelo ex-goleiro da seleção chilena e do São Paulo, Roberto Rojas, trouxe à tona algumas dúvidas sobre a transmissão de doenças dentro do esporte.

A hepatite é uma doença viral adquirida, na grande maioria dos casos, por contato com sangue ou transfusões, possibilidade esta apontada pelo chileno - ele realizou uma operação de vesícula há cerca de 15 anos e acredita ter sido esse o momento de contágio.

Em função do tipo de risco pelo simples contato com sangue, no futebol, por exemplo, é proibido pela Fifa (Federação Internacional de Futebol) que um atleta permaneça em campo com um corte ou ferimento que exponha seu sangue.

Em casos como este, ele é obrigado pelo árbitro a se retirar. Outro caso emblemático é o da NBA (liga norte-americana de basquete), que teve caso semelhante após o anúncio de que o ex-jogador Erwin "Magic" Johnson, que atuou nas décadas de 80 e 90, era portador do vírus da Aids.

Esporte que cresce cada vez mais no Brasil, o MMA vai na contramão de outras modalidades mundiais e libera uma enxurrada de sangue em seus combates. É comum não só ver os adversários duelarem ensanguentados por até 25 minutos como o chão também ser tomado pelo vermelho.

Segundo médico especialista ouvido pelo UOL Esporte, isso propicia muito a transmissão de doentes virais. "Esse é um risco, é um grande risco, sem dúvida. O contato dentro do futebol existe. Por isso a Fifa obriga o jogador a sair do campo quando está com o sangue. E essas lutas livre de MMA são de alto risco. Acabam causando sangramentos e contatos entre os lutadores. O sangue pode até espirrar e atingir o oponente. Existe o risco também de pegar pelo tablado”, falou Roberto Foccatia, coordenador do grupo de hepatites do instituto de infectologia Emílio Ribas.

ENTENDA COMO É A HEPATITE C E O CASO DE ROJAS

  • Fernando Santos/Folhapress

    Ex-goleiro Roberto Rojas está na fila para transplante de rim por causa de hepatite C. Leia Mais

Principal evento de MMA do mundo, o UFC diz, no entanto, que não existe riscos de transmissão. Ressalta que os lutadores são submetidos a rigorosos exames de sangue, entre outros, e não só antes de assinarem contrato, como também na véspera de cada combate realizado. Se tiver alguma doença, não entra no octógono.

“Todo atleta, antes de lutar no UFC, independentemente se for a primeira luta, tem que fazer protocolo de exames. E nele estão marcadores como se existir hepatite viral, HIV e outras doenças. Isso porque sabemos do risco do sangue. Temos todo cuidado para que nenhum atleta atue sem exame. Isso é pré-requisito”, falou Marcio Tannure, médico do UFC no Brasil.

“A gente pede sempre todos os exames, não só os sanguíneos, como ressonância cerebral pra ver se tem edema, aneurisma, hematoma. Também exames oftalmológicos pra ver se não tem problema na córnea. Temos cuidado pra não colocar o atleta em risco”, continuou.


O atleta brasileiro Gerônimo Mondragon foi até impedido de atuar em uma das etapas da organização americana, em 2012, no Brasil, por ter sido detectado vírus da hepatite B em seu exame médico pré-luta.

Considerado um dos atletas que mais fazem batalhas sangrentas por seu estilo trocador e franco, o norte-americano Carlos Condit, dos meio-médios do UFC, já chegou a declarar seu gosto por lutas banhadas em vermelho. “Eu gosto de lutas sangrentas. É o que diverte o público”, disse Condit após derrota para o canadense Georges Saint-Pierre, em um dos mais sangrentos combates dos últimos anos.

HEPATITE C TEM ALTOS ÍNDICES DE INFECÇÃO ENTRE EX-ATLETAS

  • José Patrício/Folha Imagem

    Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP mostrou, em 2010, que entre ex-atletas, profissionais ou amadores, que atuaram nas décadas de 1950, 1960, e 1970, existe uma alta prevalência de infecção do vírus da hepatite C. De acordo com o professor Afonso Dinis Costa Passos, que coordenou o estudo, isso se deve principalmente à aplicação de drogas injetáveis e ao compartilhamento de seringas. “Naqueles tempos era mais comum a aplicação de vitaminas e estimulantes nos atletas. As seringas eram de vidro e para a desinfecção passavam por um processo de fervura”, conta. A pesquisa envolveu 208 pessoas, todos ex-atletas profissionais ou amadores, de futebol e basquete, de Ribeirão Preto e de outras quatro cidades próximas. O trabalho de coleta de sangue foi realizado entre os anos de 2004 e 2007. Leia Mais.