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Liddell diz que diversão o fez virar lenda do UFC e revela drama com aposentadoria

Jorge Corrêa

Do UOL, em São Paulo

22/03/2013 13h03

Aos 43 anos e há quase três aposentado, Chuck Liddell mantém o moicano e o cavanhaque que fizeram tanto sucesso dentro do UFC. Com uma fala baixa, tranquila, mas às vezes meio travada, engasgada, ele não esconde o saudosismo de sua carreira de 12 anos no evento, sendo dois com o cinturão dos meio-pesados. Suas atuações, seu estilo sempre franco e sua mão pesada o transformaram em uma lenda do esporte.

“Eu apenas me divertia e queria divertir as pessoas. Nunca pensei em virar uma lenda do esporte e nem acho que sou”, afirmou. De passagem por São Paulo, onde esteve para as gravações do TUF Brasil 2, o norte-americano conversou com o UOL Esporte sobre o legado que deixou para o UFC, que está fazendo 20 anos em 2013.

Nesse papo, ele falou sobre ter sido técnico do primeiro The Ultimate Fighter, as grandes rivalidades que teve na carreira e se mostrou emocionado ao falar sobre aposentadoria. Chuck fez um interessante desabafo sobre a crise que passou quando decidiu parar de lutar depois de 29 combates profissionais com 21 vitórias, sendo 13 por nocaute.

UOL Esporte - Hoje em dia você já tem noção de sua importância na história do esporte?

Chuck Liddell - É o que eu falo para as pessoas. Eu fui lá lutar porque era o que eu gostava de fazer, queria entreter os fãs e me divertir. O que eu fazia era divertir as pessoas, e isso era perfeito para mim. Foi muito legal.

UOL Esporte - Como foi ser técnico da primeira edição do TUF e ter ajudado o evento a se erguer e tornar o que é hoje?

Chuck Liddell - Na época do primeiro TUF, ninguém podia imaginar o que aconteceria dali para frente. Lorenzo [Fertitta, dono do UFC], bancou tudo, ninguém estava sendo pago para fazer aquilo. Era a última chance, o último esforço que o UFC tinha para sobreviver, pois já estava somando um prejuízo de US$ 44 milhões. E foi um sucesso.

Depois, fiquei sabendo que vendemos quase nada de patrocínio para os dois primeiro episódios. Na terceira semana, esgotamos o espaço para a temporada inteira. Pensei: ‘Caramba, isso é muito bom! Devíamos ter cobrado mais’ (risos).

Ttudo aconteceu de uma maneira perfeita. A luta entre [Stephan] Bonnar e Forrest [Griffin] não poderia ter sido melhor para terminar a primeira temporada do show. Foi uma guerra, com chance para os dois, com todo tipo de situação.

Foi bom ser técnico dos dois vencedores. Eu gosto de vencer em tudo, sou muito competitivo, me sinto bem quando venço. Sabia que tinha feito o certo quanto escolhi o Forrest. Foi divertido.

OS MAIORES RIVAIS DE CHUCK LIDDELL

  • Divulgação/UFC

    “As lutas com Tito [Ortiz] foram as maiores da minha carreira e a rivalidade que criamos com elas foi muito importante para o esporte. Mas na época não tinha ideia do tamanho de tudo isso. Pelo menos até o Rashad [Evans] me vencer. Do Randy [Couture] eu perdi a primeira, mas quando venci a segunda, ele disse que estava gripado. Então o nocauteie na terceira e mostrei que não foi por conta de uma gripe, ainda mais um cara que nunca tinha sido nocauteado. Mesmo contra o Wanderlei trouxemos uma rivalidade do Pride, que também passou para o UFC, e sempre nos provocávamos muito fora do ringue. Fizemos uma grande luta [em 2007].”

UOL Esporte - Por que foi para o Pride logo depois de disputar título do UFC?

Chuck Liddell - Eu queria lutar logo depois de perder para o Randy e o Tito estava afastado. Precisava superar aquela derrota. Tinha que fazer algo para voltar a me sentir competitivo e foi lá que encontrei esse espaço. Não me arrependo, poderia ter sido campeão lá também.

UOL Esporte - Quando começou a pensar em parar de lutar

Chuck Liddell - Acho que foi depois da luta contra o Rich Franklin mesmo [a última de sua carreira, em 2010]. Nas lutas anteriores, eu achava que estava bem, que estava vencendo, mas acabei sendo pego todas as vezes. Nunca achei que um golpe como aquele do Rich me nocautearia. Então comecei a pensar nisso, que já não estava mais aguentando tanto as porradas que levava. Percebi que com a idade, ser acertado não era mais a mesma coisa.

Não queria mudar meu estilo, poderia fazer lutas mais cautelosas, mas aquele era meu jeito, minha maneira de lutar. Eu partia para cima, mesmo. Sabia que ficava exposto. Não queria retroceder apenas para poder lutar por mais tempo. Empolguei os fãs por tanto tempo pela maneira com que eu lutava.

UOL Esporte - Chegou a conversar com o Dana White sobre a hora de parar? Ele te pressionou a isso?

Chuck Liddell - Ele estava realmente preocupado em eu querer lutar novamente, mas em um jantar na mesma noite que ele me disse isso, expliquei que estava pronto para me aposentar, só precisava de um tempo para lidar com isso e contar para todo mundo essa decisão.

Não queria mudar meu estilo, poderia fazer lutas mais cautelosas, mas aquele era meu jeito, minha maneira de lutar. Eu partia para cima, mesmo. Sabia que ficava exposto. Não queria retroceder apenas para poder lutar por mais tempo. Empolguei os fãs por tanto tempo pela maneira com que eu lutava.

Isso mexeu com meu emocional, tive uma fase complicada por conta disso. É difícil desistir de algo que você fez a vida inteira, especialmente quando você sente que pode continuar. Desde que criança eu tinha algo para fazer no fim de semana seguinte e agora não teria mais nada.

Foi falada muita bobagem sobre o Dana ter me forçado minha aposentadoria, mas ele simplesmente chegou e me falou: ‘Não quero mais ver você lutando, se você for continuar, não será aqui, pode seguir em frente’. Achei justo da parte dele, mas já tinha acabado para mim.

UOL Esporte - Pensou em voltar algum tempo depois, talvez em outro evento?

Chuck Liddell - Jamais, não me veria lutando em outro lugar que não fosse o UFC. As pessoas falam muito do Dana White nesse caso, mas não é tudo isso. Ele perdeu dinheiro vendo eu parar de lutar. Sempre vendi muito bem meus eventos. Ele lucra mais comigo lutando do que comigo parado.

UOL Esporte - E como está sendo sua vida depois de parar de lutar?

Chuck Liddell - Tenho um cargo no UFC para ajudar no desenvolvimento da empresa, principalmente fora dos Estados Unidos. Também gosto de ajudar meus amigos a se prepararem. Não quero ser treinador o tempo todo, mas gosto de dar uma mão nos treinos dos meus amigos. Até tenho uma academia, mas não me vejo sendo apenas técnico.

ISSO É CHUCK LIDDELL

  • Getty Images

    - Dono de uma cadeira no Hall da Fama do UFC

    - Campeão dos meio-pesados do UFC de abril de 2005 a maio de 2007 (quatro defesas)

    - Sua falta de piedade com os rivais lhe deu o apelido de Homem de Gelo (The Iceman)

    - Cartel: 29 lutas, 21 vitóras (13 por nocaute, 1 por finalização, 7 por pontos) e 8 derrotas (6 por nocaute, 1 por finalização, 1 por pontos)

    - 80% de acertos na trocação, 20% de quedas conseguidas

    - 60% de defesas de golpes, 81% de defesas de queda

    - Primeira luta no MMA: vitória sobre Noe Hernandez, no UFC 17, em maio de 1998

    - Última luta no MMA: derrota para Rich Franklin, no UFC 115, em junho de 2010