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Rigor, assédio e cachês modestos marcam trabalho de ring girls anônimas

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

24/03/2013 06h00

Parece simples: desfilar com uma plaquinha com o número do round por volta do ringue, sorrir e acenar para o público. Mas as ring girls garantem que não é só. Com a febre recente do MMA, as oportunidades para as “garotas da placa” cresceram. Há as famosas, com as do UFC, as ex-BBBs e outras subcelebridades que tiram uma casquinha e também as anônimas, modelos jovens e que tentam crescer na carreira. E o mundo mais difícil é o dessas últimas, que enfrentam rigorosas seleções com dezenas de concorrentes, o assédio do público e ainda ganham cachês modestos.

Segundo o UOL Esporte apurou, as ring girls anônimas ganham de cerca de R$ 200 a R$ 500 por noite de evento, valor que varia de acordo com o tamanho dos shows e que vai aumentando com o tempo de experiência. O valor é modesto se comparado ao de ex-BBBs e outras celebridades que encaram a função, que chegam a receber por volta de R$ 5 mil por uma noitada em ação.

Apesar de parecer pouco, as garotas veem no trabalho de ring girl uma boa oportunidade de exposição para a carreira de modelo, além de um evento de MMA durar poucas horas e acabar tendo uma relação de custo e benefício favorável.

“A proposta para uma ring girl é interessante. Tem eventos que não pagam muito, mas vale a pena assim mesmo pela divulgação do seu nome. Além disso há cobertura de hospedagem, transporte, alimentação”, explica Aline Arouca, de 23 anos, que começou como garota da placa no Warriors FC, na cidade de Taubaté (SP).

Para Livia de Oliveira, modelo de 27 anos que atua no Brasil Fight, entre outros eventos, ser ring girl é a chance de fazer um, digamos, “bico de luxo”. “O cachê é bom para quem gosta de lutas. A gente pode assistir, acompanhar todo o evento. E é por pouco tempo, dá para fazer outros trabalhos durante o dia e ainda ganhar um extra como ring girl”, afirma a mineira, que mostra que seu gosto por lutas transcende sua ocupação como ring girl. Ela é praticante de jiu-jítsu, com a faixa-roxa na arte suave.

  • Aline Arouca, paulista, e a mineira Lívia de Oliveira, são exemplos de modelos que apostam na carreira de ring girl para tentar crescer na profissão, trabalhando em eventos menores dentro do Brasil

RIGOR E CONCORRÊNCIA

E o que é preciso para ser uma boa ring girl? “Precisa ter um corpo legal. Não é obrigatório ser bombada, mas é necessário ter um corpo bonito, barriga sequinha, pernas torneadas e um sorriso cativante. Este é o forte de uma ring girl”, detalha Aline. “Você precisa estar com a forma física excelente, porque ali é ao vivo, não tem Photoshop”, completa Lívia.

Não basta isso. É necessário ter tudo isso e ser melhor do que as concorrentes. Testes de seleção são rigorosos e podem contar com 50 garotas de biquíni, que precisam desfilar na frente de organizadores de evento e até patrocinadores.

“Já vi briga, choro, menina decepcionada porque queria e não foi selecionada... E mesmo escolhida, você tem de estar preparada, não pode ser aquela menininha que fica chateada com crítica. Às vezes o pessoal é grosso, mais ríspido. No dia do evento, a gente faz como os lutadores com a pesagem: dieta para secar, para ficar com a barriga zerada para aparecer na TV”, conta Lívia, que se diz fã de Vitor Belfort, Anderson Silva e Júnior Cigano.

Antes dos eventos, é comum alguns minutos serem usados para treinos, um ensaio do que acontecerá nos intervalos das lutas. Além de testes de roupas, as garotas vão ao octógono para receberem indicações do caminho pelo qual desfilarão, onde vão parar para exibir o número do round, como mostrarão as placas ao público e qual o posicionamento das câmeras.

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O ASSÉDIO: FÃS E LUTADORES

O público que passou a acompanhar o MMA ainda está crescendo. Como os eventos acabam apostando em uma noite de entretenimento, e não só esporte, os espectadores vão dos que são especialistas no assunto a quem está só curtindo o show - e também as ring girls.

“É superlegal a reação do público, muita gente vem procurar, elogiar o trabalho e pedir para tirar fotos”, conta Aline, que admite que alguns rapazes acabam exagerando. “Tem sempre aquelas pessoas que não tem trava na boca e falam o que querem. A gente ouve muita coisa, mas não ligo. Algumas coisas vulgares realmente incomodam, mas nunca respondo, você sempre tem de manter a simpatia.”

Quando aos lutadores, não há recomendações para que não haja contato entre as ring girls e eles, desde que não seja na hora do evento. “Às vezes você ouve alguma coisa, mas não há aquele assédio como se vê no futebol”, relata Lívia. Aline também diz que nunca se envolveu com lutadores, mas não vê mal nisso. “Os lutadores vem conversar com a gente, muitos viram amigos. Agora, se pode ou não prosseguir com esse vínculo é outra coisa...”