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Palco de derrota de Zé Aldo, Jungle pega carona com UFC como peneira

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

06/04/2013 06h01

Hoje com tour em diversas capitais brasileiras e até em cidades do interior, o Jungle Fight honrou seu nome nas primeiras seis edições em que foi realizada com total clima de “selva” em Manaus. Chega em sua 50ª edição, em Porto Alegre, neste sábado, diferente e com sobrevida em muito graças ao sucesso do UFC nos dois últimos anos.

Nos primeiros enventos, a partir de 2003, as entradas dos lutadores e até o ringue eram todos temáticos com alusão à Floresta Amazônica. Árvores, cipós, folhas, ring girls típicas e até soldados camuflados faziam parte do produção do Jungle.

Mas ele  viveu tempos de crise. Ficou quase dois anos inativo entre 2006 e 2008, quando o MMA ainda não tinha caído de vez no gosto do público brasileiro. Houve tempos de vacas magras, com fuga de patrocinadores e menor número de ações. O promoter Wallid Ismail conta que teve que pôr dinheiro do bolso para acontecer uma das edições.

“Teve, teve sim [momentos de crise]. Uma vez um dos maiores patrocinadores me veio falar a 15 dias do evento que não faria mais o Jungle. Aí complicou tudo. Mas eu não queria cancelar. Puxei meu cartão de crédito e paguei o evento todo” , lembra.

O número de eventos realizados é proporcional à explosão do MMA e do UFC no país em termos de repercussão e gosto. A versão moderna do antigo vale-tudo caiu no gosto dos brasileiros no final de janeiro de 2011, com a disputa do cinturão dos médios entre Anderson Silva e Vitor Belfort, vencida pelo primeiro com um nocaute frontal.

Antes dessa data, o Jungle teve 24 etapas realizadas desde sua criação, em quase oito anos. Agora chega à edição de número 50 dois anos depois. Ou seja, fez mais eventos em dois anos do que em oito.

“Claro, sem dúvida nenhuma [aproveitou o sucesso de Anderson x Belfort]. Eu já trabalhava há muito tempo com isso, mas quando explodiu, explodiu pra todo mundo. Os competentes se estabeleceram.  O UFC  é o responsável [pela melhora do Jungle] também”, falou Wallid, sem deixar de se promover.

LYOTO NO JUNGLE FIGHT

  • Reprodução

    Lyoto enfrentou no primeiro evento do Jungle americano vice-campeão do TUF

Caráter revelador

Ainda limitado ao marcado brasileiro e com metas de expansão ao exterior ainda nebulosas, o Jungle Fight se coloca como evento com caráter revelador de talentos e quer ser visto como o principal trampolim para o UFC.

Wallid Ismail, dono do evento, fala em cerca de 60 nomes que já passaram pelo Jungle e que depois adentraram ao evento do americano Dana White. Se o número pode ser exagerado, a qualidade de alguns nomes não.

Um atual campeão da entidade já passou pelo Jungle: nada mais nada menos do que o manauara José Aldo, que reina absoluto nos penas do UFC e está há 15 lutas invicto.  O brasileiro tem 22 vitórias e uma derrota. E a única foi exatamente no Jungle.

O revés foi para Luciano Azevedo, há quase oito anos, na edição de número 5 do Jungle. Aldo perdeu com uma finalização mata-leão.  A partir dali é que sua carreira decolou.

“O Zé Aldo veio através do Dedé Pederneiras [seu técnico e empresário] que pediu pra botar ele em um evento e por ser de Manaus. Mas tem uma história engraçada. Uma vez eu estava num campeonato de jiu-jitsu e o Zé Aldo chegou em mim e perguntou se eu tinha um dinheiro pra merenda, falou que era de Manaus. Eu disse ´claro, tem aqui, cara´. Eu nem sabia quem era ele naquela época”, lembra Wallid Ismail.

“Falei que daria pro meu conterrâneo e pra qualquer um que precisasse de ajuda. Muito tempo depois, quando ele foi pro Jungle, ele se lembrou disso e falou que lutaria de graça. Perguntou se eu lembrava daquela história e disse que aquele rapaz da merenda era ele.”

VEJA LYOTO MACHIDA X BONNAR NO CENÁRIO DO JUNGLE


Outro atual detentor de cinturão revelado no evento é Renan Barão, campeão interino do peso galo. Atuou na edição de número 17, ao vencer Sérgio Rodrigues. Um ex-campeão do UFC e atleta dos mais renomados da organização também passou pelo evento : Lyoto Machida, que deteve por um tempo o cinturão dos meio-pesados.

Fez luta na primeira edição do Jungle, em 2003, contra Stephan Bonnar, também do UFC e vice-campeão da primeira edição do reality show americano The Ultimate Fighter. Lyoto venceu por pontos.

Outro nome relevante do UFC hoje que fez a “peneira” com Wallid foi Frabricio Werdum, um dos principais nomes dos pesados. Participou das duas primeiras edições do Jungle, com duas vitórias. “Werdum até me chama de padrinho”, falou Wallid.

Vários outros nomes que estão ou estiveram no UFC passaram pelo Jungle, como Ronaldo Jacaré, Aléssio Sakara, Vladimir Matyushenko, Gabriel Napão, Erick Silva, os irmãos Marajó e Paulo Thiago.

“Lutei no Jungle quando ele voltou depois de um tempão parado.  É um evento que sem dúvida nenhuma mais mandou gente pro UFC. Foi uma escola boa pra mim. Lá fiz minha primeira luta internacional e senti o peso de enfrentar um gringo. Depois disso, por um DVD tive oportunidade de estrear no UFC. É uma boa vitrine”, lembra Paulo Thiago.

A organização diz que o objetivo é mesmo peneirar e que para lutar lá tem que ter perfil jovem. Nada de medalhões. “O cara que foi demitido do UFC, eu não pego. Contrato quem vai ser campeão , não quem vai ser demitido. Quero nova geração, os novos campeões”, disse Wallid.