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Erick Silva usa revés para mudança de postura e manter status de fenômeno do UFC

Erick Silva volta a lutar no UFC de Fortaleza, no dia 8 de junho - Gaspar Nobrega/inovafoto
Erick Silva volta a lutar no UFC de Fortaleza, no dia 8 de junho Imagem: Gaspar Nobrega/inovafoto

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

17/04/2013 06h00

A explosão de popularidade do MMA no Brasil a partir do começo de 2011, na luta entre Anderson Silva e Vitor Belfort, trouxe ao país não só a solidificação de antigos lutadores como ídolos nacionais, mas também a expectativa do surgimento de outros que possam ocupar o mesmo posto.

O capixaba Erick Silva, 28 anos, foi um dos viram a badalação surgir meteoricamente e logo ser alçado à condição de maior esperança do país para os próximos anos. Conquistou o cinturão do Jungle Fight em 2010 e logo depois ganhou chance no UFC.

Depois de três lutas nos meio-médios, sendo duas vitórias e uma derrota por punição (em combate que vencia e foi anulado de forma incorreta), Erick ganhou como adversário o norte-americano Jon Fitch, no ano passado. O embate era visto como uma espécie de validação para o brasileiro em tempo recorde entrar para os top 10 da categoria.

Fitch foi por muito o segundo melhor meio-médio (atrás apenas do campeão Georges Saint-Pierre) e conhecido pelo estilo duro. Silva perdeu em duelo que foi considerado a luta da noite. Teve chance de finalizar a adversário, mas deixou escapar um mata-leão.

O capixaba foi elogiado por Dana White, presidente do UFC, que chegou a fazer uma comparação da derrota de Silva com a de Georges Saint-Pierre em primeiro duelo numa trilogia contra o ex-campeão Matt Hugues. O cartola disse que a derrota pode ser um divisor de águas na carreira do novato.

Erick afirmou que seu último combate tende, de fato, a transformá-lo em um oponente muito mais forte por ter encontrado erros no seu jogo. Mudou sua rotina de treinos. Mas ressalta que a expectativa que se colocou em cima de seu futuro foi exagerada.

“Não foi um rótulo que eu criei. Foi mais uma coisa de as pessoas que me rotularam dessa fórmula, como futuro campeão. Realmente acho que é precipitado. Quero subir degraus de cada vez, com calma. Veja a minha luta contra o John Fitch, por exemplo. Eu estava lutando contra um dos maiores que já passaram pela categoria. E as pessoas não viam dessa forma. Me viam aqui no Brasil como favorito”, lembrou.

“Se eu encaixo o mata-leão e finalizo ele ali, não conseguiria abrir meus olhos pra fazer um treinamento como faço hoje em dia. Eu iria continuar da mesma forma e ser prejudicado mais à frente”, disse. “Precisei daquela derrota pra melhorar e enxergar isso.”

Em entrevista ao UOL Esporte, Erick Silva falou que corrigiu alguns métodos de treinamento e táticas de jogo e que usa da estratégia de se "sentir pequeno" diante dos companheiros de equipe na Team Nogueira para não se deixar levar pelas expectativas. Ele duela contra o inglês John Hathaway, no UFC do dia 8 de junho, em Fortaleza.

UOL Esporte – Como tem sido sua rotina de treinos para o duelo contra o Hathaway?
Erick Silva -
Estou fazendo treinamentos específicos. Comecei a treinar jiu-jitsu separado. Só jiu, depois só muay thai. Estamos treinando bastante as modalidades específicas e corrigindo onde eu tinha mais falhas. Venho treinando de tudo, mas específico. Antes eu fazia muito um treino de MMA, misto, tudo junto. Agora corrigi muito isso e posso fazer mais de MMA depois.

UOL Esporte - Você não luta desde outubro de 2012. Está muito ansioso para voltar?
Erick Silva -
Não que eu esteja ansioso, mas desejo voltar logo. Já tem um tempo parado, e no UFC eu nunca fiquei mais de quatro meses inativo. Nunca tive até então na carreira que ficar fora de um card por conta de uma lesão.  Com oito meses fora, quero voltar logo pra mostrar pro público o quanto eu estou treinando.

UOL Esporte – O que esperar do próximo combate, contra o Hathaway?
Erick Silva
- Ele é um wrestler e que gosta de por os atletas pra baixo, mas também um cara que aceita muita trocação. Vi algumas lutas dele e ele aceita trocação, vai pra cima. Tem envergadura maior que a minha. Mas isso não me preocupa, até me anima por eu gostar de trocar. Mesmo eu sendo do chão, gosto de trocar, então acho que favorece meu jogo.

UOL Esporte – Você foi alçado muito rápidamente à condição de maior esperança brasileira como futuro campeão do UFC. Como conduz isso, acha que houve cobranças excessivas?
Erick Silva -
Estou bastante tranquilo quanto a isso só por já treinar na academia onde treino. Tem o Rodrigo [Minotauro], Rogério [Minotouro], o Anderson, Feijão, Jacaré...em comparação com esses caras, eu estou chegando agora. Tenho consciência disso. Então sei me separar. Me coloco no meu lugar e me vejo como iniciante no meio daquelas feras. Eu não me vejo como as pessoas me colocam. Não foi um rótulo que eu criei. Foi mais as pessoas que me rotularam dessa fórmula, como futuro campeão. Realmente acho que é precipitado. Quero subir degraus de cada vez, com calma. A minha luta contra o John Fitch, por exemplo. Eu estava lutando contra um dos maiores que já passaram pela categoria. E as pessoas não viam dessa forma. Me viam aqui no Brasil como favorito. Fui pra luta tranquilo e sabendo que ia enfrentar um cara duro. Perdi, mas acho que fui bem e guerreiro. E muita gente que acompanha faz pouco tempo não entende dessa forma. Consegui atacar e chegar perto da finalização. Tive dificuldades pra perder peso e tenho convicção de que isso me atrapalhou. Eu fiquei satisfeito com a minha luta, apesar de saber que posso melhorar alguns em alguns pontos.

UOL Esporte – O Dana White chegou a dizer que essa derrota pode te fazer crescer. Você acha que pode usar os pontos negativos para ser mesmo um divisor de águas e se tornar um cara mais completo?
Erick Silva -
Lógico, lógico. Como eu falei, se eu encaixo o mata-leão e finalizo ele ali eu não conseguiria abrir meus olhos pra fazer um treinamento como eu faço hoje em dia. Eu iria continuar da mesma forma e ser prejudicado mais à frente. Hoje em dia eu vejo que tem muita falha no meu jogo que tem que ser melhorada. E eu venho trabalhando isso. A parte de chão deixei de usar muito pra ficar em pé. Hoje em dia é 99% de chances de naquela posição eu conseguir finalizar. É uma especialidade que venho treinando agora, a pegada de costas. Hoje eu treino e consigo finalizar qualquer adversário. Uma coisa puxa a outra. Precisei daquela derrota pra melhorar e enxergar isso.

UOL Esporte – A chance desperdiçada naquele mata-leão contra o Fitch chegou a gerar contestação sobre se os treinos excessivos de MMA não estariam prejudicando as bases técnicas de modalidades específicas no seu jogo, como o jiu-jitsu. Foi por isso que alterou os treinos?
Erick Silva - Como eu falei, estávamos treinando muito MMA e algumas falhas passavam batido. No jiuj-jitsu tenho agora professor que me corrige a cada posição. Isso estou sendo cobrado. Antes eu caía no chão e queria fazer o que? Bater, bater e bater. Hoje em dia se eu chegar na meia-guarda na luta e pensar em bater e bater, posso perder a posição. Serviu de aprendizado contra um cara muito duro.

UOL Esporte – O mesmo Dana chegou a dizer que havia muita expectativa em cima de você que não havia ganhado nada ainda. Concorda?
Erick Silva -
É justamente isso. Eles enxergam bem, o Dana enxerga dessa forma e eu enxergo dessa forma. Às vezes as pessoas criam expectativas que eu mesmo não gostaria. Na minha terceira luta as pessoas me intitularem como futuro campeão é muito precoce e rápido. O cara faz duas lutas boas e na terceira já vira campeão e esperança? É muito cedo. Mas sempre fui pés no chão e nunca deixei isso subir à cabeça. Se de repente treinasse num lugar que eu fosse o expoente máximo...mas não é assim. Chego na academia e sou o mais novo e que menos brilha. Isso me bota no meu lugar. É a melhor coisa.

UOL Esporte – Você tem preocupação quando olha pro ranking. Tem ansiedade de querer entrar para os top 10?
Erick Silva -
Eu não ligo muito pra isso e não cabe a mim avaliar isso. Só luto e me preparo pro combate. Só tenho que mostrar o quanto estou treinando. Não ligo muito pra ranking e está muito cedo. Quando eu tiver 3, 4 vitórias consecutivas vou procurar os caras melhores ranqueados do que eu. Estou tranquilo, e o UFC está me dando mais uma grande oportunidade contra um adversário duro e que está na minha frente. Eles ainda querem me testar porque adoro desafios. Entrei no UFC pra isso, embora pessoas digam que não fui testado ainda. Estou me preparando.