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Psicólogo formado, Weidman "dá olé" em provocações de Anderson Silva

Chris Weidman observa provocação de Anderson Silva; o psicólogo não caiu - David Becker/AP
Chris Weidman observa provocação de Anderson Silva; o psicólogo não caiu Imagem: David Becker/AP

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

08/07/2013 11h48Atualizada em 09/07/2013 18h02

A simplicidade e feições de desentendimento feitas nos momentos em que era provocado por Anderson Silva mostram um pouco de como é a personalidade de Chris Weidman, responsável por chocar o mundo ao quebrar uma invencibilidade de 17 lutas daquele que é considerado o maior lutador de todos os tempos de MMA.

O atleta nascido em Nova York chegou à disputa de cinturão com apenas 29 anos e uma carreira meteórica de apenas quatro anos e nove lutas até ter a sonhada oportunidade de fazer o que o que ninguém havia conseguido nos últimos sete anos.

Quando Weidman estreou nas artes marciais mistas, Anderson Silva já havia feito seis defesas de cinturão e devastado nomes como os ex-campeões do UFC Rich Franklin e do Pride Dan Henderson.

A oportunidade veio em um momento em que muitos achavam ser precoce. As vitórias sobre Demian Maia e Mark Munoz não eram considerados grandes testes para o novato. Gerou até um desdém de Spider antes mesmo de a luta acontecer, quando ela foi oferecida.

"(O duelo) seria bom para o Chris, não para mim. É um garoto, uma criança", disse o brasileiro em entrevista ao programa "UFC Tonight", da TV americana.

Chris é o filho do meio e tem outros dois irmãos homens. O mais velho foi o pioneiro a ingressar nas artes marciais e que incentivou o hoje campeão dos médios do UFC a ter contato desde jovem.

Assim como a grande maioria dos americanos que lutam profissionalmente no MMA, Weidman tomou gosto nos tempos de faculdade. Nos EUA é comum que todos os universitários tenham de praticar esporte na universidade paralelamente ao curso de graduação que fazem.

Foi assim que Weidman passou a se dedicar ao wrestling enquanto cursava psicologia, curso no qual é formado pela Hofstra University, localizada em Hempstead, perto de Nova York.

  • Divulgação/UFC

    Chris Weidman comemora com toda sua família a vitória sobre Anderson Silva

Lá conheceu um dos grandes amigos que carrega até hoje: o então colega de classe Gabriel “Monsta” Toribio, um americano praticante de jiu-jitsu e que tinha ligação com o brasileiro Renzo Gracie e com o ex-campeão dos meio-médios do UFC Matt Serra.

Monsta viu a paixão que Weidman tinha pelas lutas e então ensinou o jiu-jitsu ao colega de psicologia. Se impressionou com a maneira rápida com que passou a lutar.

“Comecei a ensinar jiu-jitsu e, em sua aula introdutória, ele dominou as técnicas na primeira tentativa. Quando se inscreveu e começou a praticar, ele já era um problema. Em poucos meses começou a finalizar todo mundo. Chris sempre foi extremamente competitivo. Ele queria vencer a todos", contou Gabriel ao UOL Esporte.
 
Weidman praticou o jiu-jitsu enquanto alimentava a esperança de integrar a seleção americana de wrestling em uma edição de Jogos Olímpicos. Mas após ver o sonho ruir pela alta concorrência e ficar fora de convocações, decidiu então se focar no MMA.

Monsta levou o companheiro de psicologia para treinar na academia de Matt Serra e se focar no MMA. “Lembro-me de Matt dando uma olhada e viu nos meus olhos que aquele cara era bom”, recordou.

Chris então começou, em 2009, no Ring of Combat. Treina até hoje na equipe Serra-Longo e tem como um de seus tutores o brasileiro Renzo Gracie, que na semana da luta havia criticado a falta de humildade de Anderson Silva.

“Anderson é um cara que costuma ter atrito com muitas pessoas de forma desnecessária. Ele não é humilde. Embora ele se pronuncie de maneira humilde, quando está no ringue ele não age assim”, falou o representante da família Gracie, em frases que pareciam prever o que houve no octógono no sábado.


A crítica feita por seu estafe ao ex-campeão vai na contramão do que os mais próximos dizem do agora novo detentor do cinturão. É um pai de família dedicado e adotou um lado espiritual oriundo de seu pai, Charlie Weidman, uma pessoa religiosa.

“A definição de um traço que eu posso dar sobre Chris Weidman é a sua força de caráter, sua força na crença em si mesmo, e sua genuinidade. Sua autenticidade é a característica que eu mais aprecio. Eu acredito que seu pai era um homem feito e empresário. Ele incutiu uma forte vontade ao seu filho ”, falou o eterno amigo e ex-companheiro de classe Gabriel Monsta.

Weidman mostrou tranquilidade desde o começo da semana, quando Anderson tentou intimidá-lo com uma enxurrada de provocações, desde deixar o novato tocar o cinturão na coletiva, selinho na pesagem até a guarda baixa na luta. Mas o americano pareceu ter a frieza de um psicólogo.

“Ele estudou psicologia, mas acho que o wrestling o deixou muito forte mentalmente. Homens como nós, lutadores e artistas marciais, vivemos com o coração dos anjos e demônios dentro de nós exatamente ao mesmo tempo. É difícil encontrar um lugar para nós no mundo normal. O melhor de nós tem nada para mostrar nosso caráter mais do que a honestidade, como a de Chris”, finalizou o companheiro.