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Mentor de Jon Jones minimiza Oscar do MMA e diz que nunca quis ser técnico

Jorge Corrêa

Do UOL, em Albuquerque (EUA)

13/09/2013 06h00

Ao entrar na academia que leva seu nome, é possível ver logo acima da primeira porta duas capas da Fighters Only com as fotos de Greg Jackson e os dizeres, em letras garrafais, Técnico do Ano. Na verdade, ele ganhou três vezes esse troféu no World MMA Awards, prêmio dado pela revista inglesa e considerado o Oscar da modalidade. Mas nada que mude a rotina do treinador.

Mentor de nomes como Jon Jones, Carlos Condit e Diego Brandão, o norte-americano se iniciou nas lutas como wrestler, mas logo colocou o kickboxing em seu jogo quando conheceu Mike Winkeljohn no começo dos anos 1990. Além de aprender trocação, Jackson começou uma grande amizade e o time que hoje é apontado como o melhor dos EUA. “Ele é como meu mentor, meu grande irmão, sua especialidade é a trocação, ele me ensinou kickboxing.”

Hoje em dia, é mais fácil ver Winkeljohn na academia. Jackson passa mais tempo no escritório, faz às vezes de empresário de alguns de seus comandados, organiza eventos e ainda cuida das franquias e dos negócios ligados à Jackson’s MMA. Mas não abandona seu trabalho dentro do ginásio e até por isso ganhou os prêmios. Ele assumiu o papel de rosto, inclusive para apanhar, do time.

Mas se não comanda tanto as movimentações, seus comandados lhe dão a devida importância em dois momentos: para criar as táticas de luta e para motivá-los. “Eu coloco tudo junto, o kickboxing, o jiu-jítsu, o ground and pound, o wrestling e a trocação. Esse é meu trabalho, colocar tudo isso junto. Você tem de ter certeza que deu tudo a eles do lado criativo como lutadores, então eu tento empurrá-los para novos lugares, tentando motivá-los e melhorá-los”, disse Greg.

Alçado a astro da modalidade por seus comandados, pelos fãs que votam nele no “Oscar do MMA” e até por rivais, Greg Jackson não entra nessa onda. Sem soar como falsa modéstia, com uma sinceridade até embaraçosa, diz que há treinadores melhores em seu time e em outras equipes. Ele nunca quis ser treinador de lutas, mas, por amor ao esporte, está no jogo até hoje.

O UOL Esporte conversou com o norte-americano em sua academia, em Albuquerque (EUA) entre seus dois períodos de trabalho. Ele precisou reservar essa janela em seu escasso tempo livre e falou sobre sua história no MMA, seus métodos de trabalho, sua sempre polêmica relação com Dana White e o futuro de seu principal pupilo, Jon Jones. Confira os melhores momentos abaixo e nos vídeos acima.

UOL Esporte - Quando começou sua história como treinador de lutas?
Greg Jackson - Abri minha academia em 1992 e começou com aulas de autodefesa, apenas para isso. Mas depois do primeiro UFC em 1994 [N.E.: 1993, na verdade], meus alunos começaram a querer competir nisso. Não tinha muito a ideia de competição, era mais um cara da autodefesa, mas eles me levaram a isso. Pensei então que poderíamos ir bem. Começamos a vencer a tudo, passamos a fazer isso o tempo todo. E 20 anos depois, aqui estou eu, fazendo isso. Eu amo, mas é o que eu sempre disse, nunca quis ser um treinador.

GREG JACKSON X DANA WHITE

UOL Esporte - Como está sua relação com Dana White hoje em dia? Ele já te criticou muito...
Greg Jackson -
Está bem agora [risos]. Você sabe, Dana às vezes fica muito chateado com algumas situações, solta algumas palavras fortes, mas é o que ele é. Você sabe com quem está lidando. O que gosto é que ele é um atirador certeiro, é exatamente o que parece. Ele não vai mentir para você, não vai agir nas suas costas, você sabe exatamente o que é. Estamos bem agora, temos conversado, está tudo certo.

Mas você entende as críticas que ele já fez a você?
Depende de quando que ele me criticou [risos]. Mas acho que ele me critica porque trabalhamos com muita gente, temos um grande time. Como temos tantas pessoas no UFC, tantos campeões, eu tomo decisões que não gostam. Ele não gostou quando disse para Jon não pegar uma luta em tão pouco tempo [contra Chael Sonnen], então me criticou. Fãs às vezes me criticam porque acham que meus caras não tentam finalizar as lutas, o que não é verdade, já que nossa média de finalizações é muito alta. Muitas vezes, quando você é bem-sucedido, acaba criticado. Mas faz parte do trabalho.

Qual é a principal diferença entre seu trabalho e o de Winkeljohn na equipe?
Nós fazemos muito das mesmas coisas, mas ele é como meu mentor, meu grande irmão, sua especialidade é a trocação, ele me ensinou kickboxing. Eu coloco tudo junto, o kickboxing, o jiu-jítsu, o ground and pound, o wrestling e a trocação. Esse é meu trabalho. Winkeljohn também faz isso, mas foca mais na trocação. Ele é provavelmente é o melhor nisso nas artes marciais.

Seus lutadores falam muito de seu trabalho motivacional...
Você tem de ter certeza que deu tudo a eles do lado criativo como lutadores, então eu tento empurrá-los para novos lugares, tentando motivá-los e melhorá-los. Isso é importante. Você tem de vir com novas ideias, com novos movimentos, novas técnicas, mas você também tem de apoiar seus alunos a se tornarem melhores lutadores e melhores pessoas.

Na sua opinião, por que a Jackson’s MMA é considerada uma das melhores academias do mundo?
Acho que é o fato de termos uma atitude muito positiva, todo mundo aqui é muito positivo, não há espaço para egos. As pessoas trabalham para elas, tentamos criar uma cultura com que todo mundo se preocupe com os outros, querer que o outro seja bem sucedido. Eles trocam técnicas, mostram movimentos para os outros para ajudá-los. Acho que esse caminho, de os lutadores serem bons amigos, nos ajuda muito.

E você concorda com seus prêmio de melhor treinador do mundo?
Eu não sei porque as pessoas acham que eu sou o melhor. Acho que sou OK no meu trabalho, tento dar meu máximo, mas não acho que sou o melhor. Tem outros melhores que eu, técnicos no nosso time que são muito melhores. Tenho apenas muita sorte de ajudar lutadores e treinar pessoas.

Quem são outros bons técnicos de MMA pelo mundo?
Existem tantos deles. Os técnicos da velha guarda ainda estão muito bem. Matt Hume, Renzo Gracie estão por aí há bastante tempo. Novos técnicos como Firas Zahabi, que é incrível, Rick Roufus, John Crouch, todo mundo da AKA, tem Bob Cook, Javier Hernandes, são grandes treinadores, todo mundo na ATT, Ricardo Libório é um grande treinador. Estou esquecendo centenas deles, que não fiquem bravos comigo, tem muitos treinadores e com certeza melhores que eu.

Qual foi a situação mais complicada que você já viveu com Jon Jones lutando?
Foi quando o Vitor Belfort quase o pegou com uma chave de braço, foi realmente difícil, e quando Lyoto Machida o acertou forte uma vez ou duas. Foi meio... Hm... Pensei: “Vamos ver como se sai”, mas ele manteve a calma e saiu bem dessas. Ele passou no teste e foi muito impressionante.

O que os fãs podem esperar da luta do Jon Jones contra o Alexander Gustafsson em Toronto?
Será uma luta muito interessante porque Gustafsson é muito alto e bom, tem apenas uma derrota. Você vai ver dois dos melhores pesos meio-pesados do mundo, isso vai gerar empolgação. Os dois são muito bons. Como técnico, tenho de pensar melhor, mas como fã estou muito empolgado.