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Sem ídolos, nova geração Gracie sofre com derrotas e crítica de velho astro

Jorge Corrêa*

Do UOL, em São Paulo

01/10/2013 06h01

Há duas semanas, uma imagem rodou o mundo do MMA: um lutador levou um cruzado e demorou alguns segundos para cair, desacordado, com o rosto no chão. O susto maior para os fãs mais antigos do esporte foi ver, como protagonista daquela cena bisonha, um atleta com o sobrenome Gracie. Era um retrato duro, mas real, do atual momento da dinastia que criou o jiu-jítsu e tem ligação direta com o surgimento do MMA.

A vítima daquele golpe foi Rolles Gracie, que fazia contra o desconhecido Derrick Mehmen, sua estreia no World Series of Fighting. Filho do lendário lutador de jiu-jítsu Rolls Gracie, que morreu nos anos 1980 em um acidente da asa delta, Rolles foi um dos últimos nomes da família a lutar no UFC. Fez apenas um combate no Ultimate, foi nocauteado por Joey Beltran em 2010 e acabou demitido em seguida.

Foi esse nocaute que trouxe à tona essa situação de um dos principais nomes das artes marciais e críticas que já são feitas há quase dez anos: os membros do clã parecem não ter evoluído junto do MMA. “Sinceramente? Não tenho nada pessoal contra os Gracie. Se não fosse por eles, não estaríamos aqui hoje. Tudo começou com eles. Mas são caras do jiu-jítsu”, disse o presidente do UFC, Dana White.

“Temos vários Gracie ainda lutando e ninguém tira a importância deles, mas não sei se eles souberam acompanhar o nosso esporte”, completou o mandatário, que respondeu com um “Você está de brincadeira?” quando questionado o motivo de ter demitido no mês passado Roger Gracie, que teve uma atuação fraca contra Tim Kennedy e foi derrotado em sua estreia no Ultimate.

A atual geração da família tem como principais representantes, além de Rolles e Roger, os primos Igor e Gregor. Com essas derrotas recentes, os quatro somam um cartel com apenas 50% de aproveitamento desde 2012, com sete vitórias e sete derrotas. Isso fez com que o principal nome da família nos últimos 20 anos tecesse duras críticas sobre essa fase.

Dono de uma cadeira no Hall da Fama do UFC, vencedor de três das quatro primeiras edições do evento e grande responsável pelo sucesso inicial do vale-tudo e da expansão do jiu-jítsu nos Estados Unidos, Royce Gracie disse que seus herdeiros no tatame não conseguem mais usar a arte suave em sua plenitude.

“Para mim, o jiu-jítsu sempre foi o suficiente. Podia até usar uma ou outra técnica de uma outra arte-marcial, mas tudo se resolvia no chão. O puro jiu-jítsu sempre foi o oficial. Parece que o pessoal agora precisa completar seu jogo”, disse Royce ao UOL Esporte. “Eu também estudava boxe ou wrestling, mas parece que eles esqueceram um pouco a história da família.”

Ao lado de Rickson e Renzo, Royce foi responsável pelo melhor momento da família Gracie entre o vale-tudo e o começo do MMA. Em 44 lutas profissionais registradas com os três, foram 32 vitórias, com um aproveitamento de 72%. “Se eu fiz jiu-jítsu minha vida inteira, por que vou lutar boxe com o Mike Tyson? Vou treinar seis meses de boxe só porque meu rival é bom nisso? Não faz sentido”, disse Royce ao site MMA Fighting.

Quem tomou as dores dessa atual geração foi Rener Gracie, filho de Rorion, exatamente o criador do UFC e quem escolheu Royce como representante da família nas primeiras edições. "Acho que Royce, meu pai, meus tios, todos esses caras que começaram e são da velha guarda, ficam um pouco emotivos em alguns momentos. Com certeza nosso jogo é completo e é isso que ensinamos até hoje, mas eles estão certos e errados ao mesmo tempo. Claro que precisamos voltar às origens, mas também precisamos olhar em frente."

Faixa preta de Carlson Gracie, que até tentou dar a ele oficialmente o sobrenome da família, Vitor Belfort também defendeu a dinastia. “Eu me sinto um integrante da família. Eles são uma grande família, e que não tem só quem carrega o sobrenome. Na verdade, todo mundo é parte, deve um pouco a eles. O que mudou, e uma coisa que eu vi desde o começo, é que o MMA não podia depender só do jiu-jítsu. Se eles perceberem isso, tenho certeza que teremos novos campeões com o sobrenome Gracie aparecendo.”

*Colaborou Maurício Dehò, em Boca Raton (EUA)

Patriarca faria 100 anos nesta terça-feira

  • Apesar de o jiu-jítsu ter sido criado pelo irmão mais velho Carlos, baseado na arte marcial trazida por Conde Koma no começo do século passado, foi Hélio Gracie quem desenvolveu a versão mais competitiva da luta, a que ganhou o Brasil e o mundo e ficou conhecida como Brazilian Jiu-Jítsu, ou como eles gostam de dizer, Gracie Jiu-Jítsu. O patriarca, pai de Royce e Rickson, faria 100 anos nesta terça-feira. Nascido em Belém, morreu em 29 de janeiro de 2009, em Petrópolis, aos 95 anos.