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Desafeto vê lesão de Anderson como teste de superação e fala em enfrentá-lo

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

03/01/2014 06h00

Cubano radicado no Brasil, José Pelé Landi é uma das figuras mais marcantes da época do vale-tudo. Revelado pela Chute Boxe, foi parceiro de Anderson Silva por muito tempo, mas acabou virando desafeto do campeão do UFC. No último fim de semana, ele viu o Spider sofrer uma lesão grave e, na mesma hora, veio a imagem de contusão idêntica que sofreu em 2008.

Apesar da rivalidade, Pelé não aproveitou o momento para aumentar a inimizade. Após o combate, postou mensagem em seu Facebook que não dava para comemorar uma derrota causada por lesão.

Em entrevista ao UOL Esporte, o veterano de 40 anos relembrou o seu caso e afirmou que a grave lesão só o fortaleceu. Mais que isso, cita experiências religiosas e diz que “viu Deus” enquanto estava na mesa de cirurgia.

Anderson, diz Pelé, mostrará agora o “espírito de lutador” caso escolha o caminho do retorno ao octógono, como o cubano fez. E, se voltar, o lendário lutador não lança desafios, mas admite que gostaria muito de enfrentar Anderson Silva, de preferência em Curitiba, cidade que os marcou. Confira a entrevista:

UOL Esporte: Como foi para você acompanhar o UFC 168 e ver o Anderson sofrendo uma lesão igual à sua?
Pelé Landi:
Na hora que quebrou foi uma surpresa. Fiquei como todo mundo, surpreso, ainda mais sabendo exatamente pelo que ele passou na hora.

O que você lembra da sua lesão, da dor e da recuperação?
Eu lembro de ser frio dentro do meu momento, inclusive acalmando o juiz, que dobrou a minha perna. Eu fui até tranquilo... Eu tinha tomado um nocaute do Jake Ellenberger, que acabou indo para o UFC, e lembro de dizer: ‘Por que Deus está fazendo isso comigo?’. Olhei para Ele, e falei seja o que Deus quiser. O Bibiano (Fernandes, lutador) até me ligou no dia seguinte: ‘O Anderson já vinha gritando, e você nem gritou’. De 12 a 15s antes eu estourei o meu tendão de Aquiles quando dei um chute frontal. Aí tumultuei um pouco no soco e em seguida dei o chute. Foi um barulho ensurdecedor, como o de madeira quebrando.

Como foi sua recuperação?
Não tive problema nenhum, fiquei 100% e sem limitações. Eu tinha um cartão de visitas que era o chute de longe, que hoje evito, mas não é por conta dessa lesão, mas por outros problemas no joelho. Na época eu fui contratado pela RFT para ser atleta da empresa e tive tudo que um atleta recebe, com a recuperação no Canadá.

  • Pelé Landi fez fama como maior nome da Chute Boxe, que revelou nomes como Anderson, Wanderlei Silva e Maurício Shogun. Aos 40 anos, ele segue lutando, com um cartel de 28 vitórias e 15 derrotas. Seu último combate foi em novembro, quando venceu por nocaute. Agora, ele é o novo assinado do World Series of Fighting, um dos principais concorrentes do UFC

Você também foi diretamente para a cirurgia?
Fui sim, direto. Eu vi Deus na cirurgia. Ele falou ‘fica tranquilo, fica na fé que estou fazendo isso para te deixar mais forte’. Eu saí rejuvenescido da mesa de cirurgia. Em quatro ou cinco dias estava fazendo exercício de ombro, sentado, fiz muita barra, flexão sem apoiar na perna machucada...

Conhecendo o Anderson, você acha que ele volta a lutar?
Isso é o que mostra do que a pessoa é feita, do que esse samurai é feito. As pessoas vão ver agora. Acredito no espírito no lutador. A gente (lutador) quer vida boa para nossa a família, mas tem algo a mais. Enquanto o fogo estiver aceso dentro dele, ele vai continuar. Cada um tem sua quilometragem, e ele tem a dele. Mas eu sou só mais um telespectador acompanhando tudo isso.

Você e o Anderson já trocaram farpas e você já lançou desafios a ele. Se ele fosse fazer uma última luta após essa lesão, gostaria de ser o rival?
Lógico. Podia fazer casada na balança... Luta para mim não é por propósito, por pretensão de lutar com o Anderson. Mas se o WSOF (World Series of Fighting) fizesse um acordo com o UFC, é claro que eu faria uma luta com ele.

Podemos dizer que você não está lançando um desafio, mas que gostaria dessa luta, certo?
Isso. Acho que seria uma coisa maravilhosa uma luta aqui em Curitiba. Devo isso a Curitiba. Aqui foi feita uma grande história dos samurais, do dream team que foi época áurea da Chute Boxe.

Falando sobre sua carreira, você acabou de assinar com o World Series of Fighting. É verdade que deve enfrentar Jorge Patino, o Macaco, no Brasil?
Eles estão em negociação para assinar com o Macaco. Veja bem, eu não sei. Estou na entidade e faço o que ela quiser. Se falar quem é, eu vou lá estudar e lutar. Essas lutas com o Macaco, para mim, foram revolucionárias. Essa luta tem que valer muita grana, é só isso que eu acho...

E como foi assinar com uma organização deste nível, agora que já está numa idade crucial?
Foi super legal. Estamos todos em alegria, há muito tempo estamos procurando. Graças a Deus eu me alio às pessoas certas, que sabem a minha vontade. Eu tenho fome. Sabe, os 40 anos hoje, em 2014, são outros 40 anos. Meu espírito é de um gurizão. Preciso até ficar me freando, porque eu penso como jovem e meu corpo se comporta como jovem.

Obrigado pela entrevista, Pelé.
Posso mandar uma mensagem? Queria mandar uma mensagem à comunidade das lutas para ficarmos ligados com esse deputado que quer proibir o MMA em rede nacional, o José Mentor. Temos de ficar ligados para não deixar ele ganhar espaço. E, para os futuros lutadores, deixo uma mensagem: Treinem como o Anderson e lutem como o Pelé.