Topo

MMA


Jacaré conta como reaprendeu a dar o bote. E crê nisso para ofuscar Lyoto

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

13/02/2014 06h00

Ronaldo Souza é capixaba, mas ganhou o apelido de Jacaré quando virou um astro do jiu-jítsu treinando em Manaus. Hoje top 3 do ranking do UFC e às portas de uma disputa por cinturão, parece que nenhum apelido poderia descrever melhor sua fase no MMA. Aos 34 anos, maduro, o peso médio conta que sua última derrota mostrou que ele poderia controlar sua agressividade para - por incrível que pareça - ser ainda mais agressivo. Em outras palavras, o Jacaré reaprendeu a dar o bote em suas presas.

O astro divide os holofotes com Lyoto Machida no UFC Jaraguá, neste sábado, num card que pode ter uma furada de fila na corrida pelo título. O Dragão, quinto no ranking, encara Gegard Mousasi na luta principal. Antes disso, o capixaba, terceiro na lista dos médios, pega Francis Carmont.

E é Lyoto, e não Jacaré, quem foi cotado por Dana White para encarar o vencedor do duelo entre o campeão Chris Weidman e Vitor Belfort, em maio. Mas, como o réptil, a paciência tem de ser sua virtude, tanto pensando em Carmont quanto na corrida contra Lyoto.

A nova fase de Jacaré é marcada pela evolução que a derrota contra Luke Rockhold, no Strikeforce, causou. Apesar de traumático, já que o brasileiro perdeu o cinturão do evento para o norte-americano, o resultado foi importante e ensinou lições valiosas.

“Foi um aprendizado enorme aquela derrota, eu gastei muita energia à toa e aquilo me fez repensar um pouco minha estratégia e aprender um pouco sobre economizar energia”, conta Jacaré, sobre o duelo de setembro de 2011. “Apesar de ele ter levado meu cinturão, foi uma luta maravilhosa pela experiência.”

No reino animal, o jacaré é conhecido pela paciência com que aguarda o momento certo para dar o bote em sua vítima. No instante preciso, toda a energia é canalizada para o ataque surpresa. E quando ele dá certo, é nocaute certo.

“Tenho nocauteado porque controlo minha agressividade. Eu sempre passei do ponto. Agora, eu ainda tenho ela (a agressividade) e uso a cabeça. Estou nocauteando e finalizando por sempre pegar os caras na minha explosão. Estou conseguindo pensar, analisar se vou por aqui ou por ali... Foi um trabalho grande com a minha equipe para conseguirmos isso”, explicou o lutador.

Após perder para Rockhold, Jacaré finalizou Bristol Marunde e nocauteou Derek Brunson no Strikeforce. Contratado pelo UFC, estreou finalizando Ed Herman e Chris Camozzi e, na sequência, nocauteou Yushin Okami, sendo os quatro últimos triunfos ainda no primeiro round.

Tudo isso o levou a uma ascensão veloz no ranking. Agora, ele só está atrás de Anderson Silva e Vitor Belfort.

Chega pra lá em Lyoto?

Lyoto Machida, em quinto na lista, só fez uma luta no peso médio, após descer dos meio-pesados. Por sorte, ele teve alterada sua estreia, quando entrou como substituto de Michael Bisping para encarar o top 10 Mark Muñoz.

Vencer um rival bem ranqueado o levou a uma ótima posição na divisão e à promessa de Dana White de colocá-lo disputando um cinturão no caso de um novo triunfo expressivo.

Para mudar esse favoritismo, que ficou "oficializado" pela ordem do card, Jacaré sabe que terá de manter sua fase arrasadora e vencer com um novo nocaute ou finalização, torcendo para o seu resultado ser mais impressionante do que o de Lyoto Machida contra Mousasi.

“É uma possibilidade, tudo pode acontecer, porque as coisas mudam muito rápido no UFC. De uma hora para a outra você está numa situação melhor ou pior no evento. Tanto eu quanto Carmont temos possibilidade de dar um pulo maior que imaginamos”, admitiu Jacaré.

Paciente, Jacaré mantém os olhos só em Carmont antes de mirar mais ao longe. “Para mim é normal darem a chance a Lyoto, até pelo fato de ele já estar no UFC há muito tempo. Vou fazer minha terceira luta, ainda, e ele já foi campeão. Ele tem essa regalia de poder pular uma fase. Para mim é maravilhoso olhar um brasileiro lutar pelo cinturão, mesmo que não seja eu. Sinceramente, ele merece a oportunidade, até porque meu foco principal é essa luta com o Carmont, que pode ser dura”, disse ele.

Mas se fizer jus ao apelido, é bem capaz que o lutador dê seu bote neste sábado. E aí vai ser difícil alguém fazê-lo largar o osso - ou melhor, a chance que pode ganhar para lutar pelo cinturão.