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Maldonado conta como seus pedidos malucos salvaram o UFC em São Paulo

Do UOL, em São Paulo

27/05/2014 06h00

Se houvesse um ranking dos lutadores mais destemidos do UFC, Fabio Maldonado estaria brigando pela primeira posição. Ainda mais agora, que foi chamado para salvar o card do UFC deste sábado, em São Paulo, lutando fora de seu peso, com apenas três semanas para se preparar para enfrentar o 7º do ranking Stipe Miocic no lugar do lesionado Júnior Cigano.

O “Caipira de Aço”, um cara sem papas na língua que já entrou em atrito até com Anderson Silva e Minotauro, não apenas aceitou o desafio sem pestanejar, como já vinha pedindo para enfrentar pesados do Ultimate há muito tempo. A organização sempre achou maluquice por parte do lutador, tido como pequeno já para o meio-pesado. Mas a insistência deu certo. Sem Cigano, não havia pesos pesado nem outros meio-pesado disponíveis para encarar Miocic. Foi então que o telefone do brasileiro tocou.

Maldonado sabe dos riscos, mas confia no seu histórico de superação. “Minha vida é virar lutas”, diz ele, que ainda justifica: “Eu quero trabalhar, estou com 34 anos. Não posso mais esperar as coisas acontecerem.”

A preocupação tem motivo. Maldonado está virando pai nesta terça-feira. Agora serão três filhos para alimentar, e a carreira no MMA é de curto prazo. Se imaginava que chegaria ao topo aos 30 anos, agora beirando os 35 ele quer acelerar o cumprimento de suas metas, para garantir o pé de meia para a família.

Juízo é a palavra: menos bebidas, mais treinos e dedicação máxima para seguir agradando a chefia do UFC e crescendo no evento. Confira a entrevista com o “salvador” do UFC deste fim de semana.

UOL Esporte: Maldonado, conta pra gente como você recebeu esse convite para lutar o UFC em São Paulo, fora de sua categoria e de última hora.
Fabio Maldonado: 
Foi no dia 4 ou 5 de maio. O meu empresário ligou dizendo que o Joe Silva (responsável por casar as lutas no UFC) perguntou se eu podia fazer um favor para o UFC, de salvar o card. Eu peguei na hora. Fiquei felizão, nem pensei para responder, respondi em um segundo.

O que aceitar essa luta de risco vai trazer de bom para você?
Muita coisa boa. Não só por ser a luta principal. O Miocic é o sétimo do ranking dos pesos pesados. Assim como o Vitor Belfort venceu o Dan Henderson como meio-pesado e ficou classificado para enfrentar o Weidman pelo cinturão dos médios, eu acredito que se vencer o Miocic posso subir e aparecer entre os dez do meio-pesado.

Mas é uma luta arriscada...
Depois que aceitei eu parei e comecei a pensar. Tenho que saber onde entrei. Realmente é um lutador duro, é tido como favorito para a luta. Ele tem um wrestling que pode ser um problema para mim, pode me amassar na luta, ficar me agarrando. É um problema a resolver e estou treinando para isso. Mas o maior problema foi o pouco tempo de treino.

Você considera seu maior desafio como lutador?
O maior desafio até agora foi o Glover (Teixeira, de quem perdeu no UFC). Mas de boxe já tive grandes desafios. Já tive lutador que ganhou de mim três, quatro vezes e eu o venci depois. Eu tenho superações na minha vida. Minha vida é de superação, nunca foi nada fácil. Sempre tive meu falecido paizão no ringue me ajudando, mas sempre tive de correr atrás de luta que estava perdendo. Minha vida é virar luta. Eu sempre desejei foi fazer lutas de mais tempo, mais longas.

Como você vê a luta acontecer?
Sou ciente que ele é melhor que meus últimos três adversários, eu tenho que fazer mais do que fiz contra eles. O Miocic tem um boxe bom também, além do wrestling. De fora ele pode me trazer danos. Estou treinando, peguei muita dica com o Ariel Ramos, meu ex-treinador de boxe, e com o Juliano Ramos, que foi sparring de Popó e tem me auxiliado muito. O wrestling é um negócio muito duro. Eu treinei, mas não vou conseguir acompanhar ele com este tempo que tive. Ele é campeão nacional de wrestling duas vezes lá, é como ser campeão mundial de jiu-jítsu. Então eu treinei as quedas, mas mais para sair de baixo, as invertidas. Estou sendo bem realista. Se eu segurar a queda em cima, a luta vai ficar boa, senão vou ter que fazer o que estou trabalhando aqui na academia do Demian Maia.

E se a luta ficar em pé?
P..., vai ser bacana em pé, hein? Se for em pé, vai ser bacana. Sem menosprezar, porque ele tem a joelhada, que pode me complicar na curta distância, mas vou buscar a curta o tempo todo. Isso que vou tentar fazer.

Lutar no pesado é um objetivo atingido? Você já pedia para o UFC, não é?
Eu vivo pedindo para o Joe Silva o Mark Hunt, Roy Nelson, Pat Barry... Pedia esses caras do pesado. Então ele falou: ‘se você quer, então vai’. Ele sempre negou, falava que eu não era grande nem para o meio-pesado. Mas o importante é a força. Força é um monte de coisa junto: é resistência, é aguentar apanhar, força para sair de movimentos difíceis. Eu sinto que sou forte para lutar. E serão cinco rounds. Eu não pegaria essa luta para três rounds. Acredito que vai ser uma guerra.

Como você se sente nesta fase da carreira, já mais velho e experiente?
Eu quero trabalhar, estou com 34 anos. Eu sinto que tenho que trabalhar, não posso mais ficar esperando as coisas acontecerem. Eu já recusei lutas do UFC por estar lesionado. Eu não recuso luta nenhuma, se aparecer com poucas semanas, eu pego mesmo, não escolho adversário. Uma hora tudo isso vai acabar. Está sendo legal dar entrevista, aparecer na TV, mas eu penso: o que vou falar pros meus filhos? O que vou ser do futuro? Se vou ser um grande treinador...

Você mudou também fora do ringue, por conta de ter agora três filhos, ser casado?
Eu nunca fui de balada. Às vezes é gostoso sair da luta e pegar uma “night”. Nem é por causa de beber. Eu tenho bebido cada vez menos. Acho que depois da luta do Villante, só um dia tomei três latinhas de cerveja. Já bebi muito antes, no passado, mas você fica mais velho. Eu achava que ia ser campeão do mundo com 30 anos. Às vezes dá um ciúme (sic) de ver lutadores que conseguiram coisas bem mais novos que a gente. Eu via o Belfort novinho, o Minotauro se dando bem com 23, o Jon Jones, campeão novinho, o Aldo. E eu? Quando vai chegar minha vez. Então eu penso que pelo menos estou no evento, estou agradando, mas que é pouco. Estou buscando mais.

Agora tenho que ter mais juízo ainda com as quatro bocas a alimentar, contando com a esposa. Tenho a Júlia Vitória, de dez anos, e o Igor Thadeu, de 1 ano e cinco meses e agora o Daniel. É isso aí, tem que ganhar dinheiro, tem que ganhar bônus, porque tenho filho para criar.

E, para fechar, como fica a questão do peso, de você poder lutar sem fazer dieta e ao mesmo tempo em que isso é vantagem, encarar um rival mais forte do que de costume?
Quando eu começo o camp, o peso varia de 102 a 106 kg. Agora estou com 101,5 kg. Eu aumentei minha ingestão de carboidrato para esta luta e estou me sentindo melhor. Perto da luta com o Villantel, faltando duas ou três semanas, eu comecei a sentir o treino porque estava fazendo dieta. Desta vez, como carboidrato cinco ou seis vezes por dia, só tiro da última refeição. E diminuímos a gordura. Estou mais seco do que se fosse lutar no 93kg. Mas tem que se policiar, se alimentar direito para poder durar muitos anos. Como eu disse que admiro quem fez sucesso novinho, eu também admiro os coroas que sabem manter a forma: Bernard Hopkins no boxe, Dan Henderson, Randy Couture... Quero ficar assim também.