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Brasileiro do UFC trabalhou até em matadouro. Hoje gasta bônus com cavalos

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

03/09/2014 11h55

O MMA não paga as fortunas do boxe, mas os lutadores do UFC que vão longe rumo a títulos e os que conseguem vitórias impressionantes conseguem boladas generosas, principalmente quando combinam suas bolsas a bônus de performance pela atuação. Charles do Bronx tem a vantagem de ter um estilo vistoso e arrojado. Com seu jiu-jítsu e finalizações imprevisíveis, já lucrou com esta grana extra que é uma fortuna para quem já trabalhou em um matadouro. E se você imagina que ele comprou carrões e mansões, nada disso: o que ele curte são cavalos e o seu sítio.

Charles tem apenas 24 anos, mas já é veterano de UFC, com quatro anos no evento: chegou como revelação e hoje soma 6 vitórias, 4 derrotas e um no contest. Mais impressionante, ele totaliza sete bônus por suas performances de destaque. Nesta sexta-feira, ele encara Nik Lentz pela segunda vez, quem sabe para trazer outro e embalar depois de duas boas vitórias seguidas no Ultimate.

Os anos de UFC deram uma vida nova ao garoto magrinho que viveu uma infância bastante simples no Guarujá. O pai era motorista. A mãe, faxineira. Sem muita opção, ele foi para a luta, enquanto iniciava sua carreira no jiu-jítsu.

“Eu lavei muito caminhão. Trabalhei na feira, em um matadouro...”, contou ele, ao UOL Esporte. Matadouro? “É, trabalhei um tempo em um matadouro, sim, a gente trabalhava com boi, porco, carneiro... Foi na época que eu já treinava, lutava campeonatos de jiu-jítsu, com uns 14, 15 anos”. Aos 18 ele estreou no MMA e com 20 anos já estava no Ultimate.

“Eu não tinha muitas condições e meu pai e minha mãe batalhavam muito. E sempre tive esse sonho de ser lutador, mesmo quando fazia esses trabalhos. A vida nunca foi fácil, e hoje sou feliz de poder ter comprado meu sítio, ter minhas coisas”, afirmou Charles.

E quando ele fala “minhas coisas”, tem algo específico que ele sempre quis ter e só recentemente pôde: seus cavalos, que vieram junto com a compra de um sítio, em que ele passa seus tempos de descanso, quando não está treinando, dando aulas ou cuidando de seu projeto social.

“Esse é meu jeito de relaxar, eu gosto de andar a cavalo. Fico ali no sítio, cuido deles... Sempre gostei de ficar sossegado, ficar no mato, andar a cavalo. E desde pequeno eu queria ter, tinha esse sonho. Hoje ter meus dois cavalos é muito gratificante” disse o peso pena, que minimiza a importância dos bônus. “Uma parte de eu poder comprar essas coisas foi o bônus, sim, mas também não é tudo isso que as pessoas pensam.”

Contra Lentz, agora vai?

Uma pequena mancha no cartel de Charles do Bronx está quando aparece o nome de Nik Lentz em junho de 2011. Naquela época, ambos eram da categoria leve. O brasileiro sobrou na luta, mas sua vitória teve o resultado revogado por conta de uma joelhada ilegal. Agora é o momento do reencontro, com o detalhe de Charles poder enfim ter uma sequência de três triunfos seguidos no Ultimate.

Em duas ocasiões o paulista ganhou dois combates consecutivos, mas sempre foi parado depois. Na última vez, perdeu combates contra oponentes duríssimos: Cub Swanson e o ex-campeão Frankie Edgar, contra quem surpreendeu aos céticos de que poderia competir com um lutador deste nível. Agora, vem de duas finalizações, contra Andy Ogle e Hatsu Hioki.

O norte-americano Lentz também está em bom momento: encontrou seu peso ideal e tem quatro vitórias em cinco lutas, perdendo só para o desafiante ao cinturão peso pena Chad Mendes.

Para Charles, a chave do momento é sua experiência. “Eu estou preparado. Quando lutamos, faltou um pouco de experiência em mim, mas agora estou mais maduro, a idade foi chegando. Estou focado em dar um grande show. Daquela vez, estava no calor da luta, dando meu máximo, e infelizmente aconteceu (o golpe ilegal). Sempre quis que essa luta acontece de novo, e agora sei que vou sair com a vitória”, analisou ele.

“Eu entrei muito novo no UFC, e agora sei soltar melhor a técnica. Antes lutei com caras muito duros e na categoria errado, tinha começado errado. Depois que desci para os 66 kg, começou a ser mais de igual para igual, fiquei mais maduro e sei que a luta de agora pode me levar longe na categoria”, completou o 14º do ranking.