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A capoeira salvou um lutador, e agora ele quer colocá-la no mapa do UFC

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

20/02/2015 06h00

Quem já assistiu aos combates do campeão do TUF Brasil 1 Cezar Mutante já percebeu a sua facilidade em lançar belos golpes e chutes plásticos. Paulista criado em Belo Horizonte, ele não quer apenas nocautear bonito. Esse tipo de movimento é, na verdade, a raiz de sua origem nas lutas. Se muitos brasileiros começaram no jiu-jítsu, muay thai e boxe, Mutante buscou a capoeira, luta com cara de dança, que teve origem com os escravos africanos no Brasil.

A capoeira não foi apenas um passatempo, mas uma salvação para o paulista, quando ele já vivia em Minas. “A minha origem no esporte foi a capoeira. Ela salvou a minha vida da marginalidade”, explica o peso médio, que luta neste domingo no 1º UFC em Porto Alegre, buscando sua segunda vitória consecutiva. Voltar ao octógono é tentar embalar no evento e, mais uma vez, levar a sua luta original a um patamar inédito.

Usar a capoeira no MMA não é uma novidade, as imagens acima mostram. Os vídeos com nocautes do brasileiro Marcus "Lelo" Aurélio, que em 2009 bateu um rival com uma meia-lua de compasso, são virais da internet, com milhões e milhões de visualizações. Mas, ainda que Lelo tenha chegado ao Bellator, o estilo não vingou.

Um dos problemas, e que se observa em Mutante, são os riscos. O brasileiro costuma se abrir demais e dar brecha para levar golpes – no pior cenário, ele foi nocauteado por CB Dollaway em 2014, mas se recuperou em seguida com vitória sobre Andrew Craig.

“Esse é meu estilo, dar um golpe inesperado, jogar solto. Se não for eu mesmo, saio da minha característica. Eu me sinto confortável assim”, explica Mutante, que quer, se possível, usar ainda mais este tipo de luta e propagá-lo no octógono.

“A capoeira ela tem dois lados, um artístico, da dança, mas que também outro que já foi comprovado como eficiente muitas vezes no ringue. Desde o Waldemar Santana, a linhagem da capoeira do Brasil é muito boa. Eu já tentei algumas vezes, já apliquei algumas meia-luas. Acho que estou conseguindo representar bem a luta”, diz ele.

A salvação

Lutar capoeira foi uma mudança de rumo na vida de Mutante que desviou seu caminho do crime. “O bairro onde eu morava foi corrompido pelas drogas. Minha mãe morreu de câncer, tive irmão e pai nas drogas e, muito novo, perdi a referência”, relata ele.

“Meu vício, na época, foi a capoeira. Eu ficava o dia todo na academia, vendo vídeos, treinando. Meu mestre e meus amigos me incentivavam a ir à escola. Agradeço a Deus por ter tido bons orientadores. Eu tinha tudo para não estar onde estou, talvez até morto. A maioria dos amigos eu não encontro mais quando vou para a minha cidade. Alguns foram presos, uns viraram mendigos e outros morreram”, lamenta o lutador.

O brasileiro evoluiu nas lutas para fora da capoeira, começou a treinar jiu-jítsu e, apesar dos inúmeros obstáculos, achou Vitor Belfort, que o acolheu como pupilo. A chegada ao UFC foi com a ajuda do carioca, entrando no TUF e conquistando o título dos médios do reality show.

Desde que entrou no UFC, contando a final do reality, Mutante teve quatro vitórias e uma derrota. Agora, em Porto Alegre, ele sabe que vencer o norte-americano Sam Alvey, um lutador com bom poder de nocaute, é fundamental caso ele queira se aproximar do top 15, entrar no ranking do UFC e seguir com suas aspirações de herdar um possível cinturão de Belfort.

O UFC de Porto Alegre começa às 19h no domingo, e o card principal está previsto para as 22h. O Placar UOL acompanha a noitada, que terá Antonio Silva, o Pezão, na luta principal. Vindo de derrota, ele encara o Frank Mir, na categoria pesado.

Na luta coprincipal, Edson Barboza pega Michael Johnson no peso leve, para se colocar de uma vez na fila pelo cinturão.