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Broncas de Belfort e aposta ousada do pai movem brasileiro invicto no UFC

Gilbert Durinho venceu suas 9 lutas no MMA, com nocautes e finalizações em oito delas - Alexandre Loureiro/Inovafoto
Gilbert Durinho venceu suas 9 lutas no MMA, com nocautes e finalizações em oito delas Imagem: Alexandre Loureiro/Inovafoto

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

19/03/2015 16h00

Gilbert Durinho planejava entrar com tudo no octógono do UFC Rio, neste sábado, para vencer e invadir o top 10 da categoria leve. Mas, uma mudança de rival alterou o status de sua luta. De um dos grandes nomes da divisão, ele passou a ter como adversário um estreante, o ex-peão Alex Cowboy. Agora, há muito mais a perder do que a ganhar, ainda que o foco tenha de ser o mesmo. O niteroiense de 28 anos sabe disso, e usa as broncas do seu ‘mestre’ Vitor Belfort e os exemplos dados na infância pelo pai como motivadores, para manter o embalo de uma carreira invicta e com potencial para brigar nas cabeças.

Assim como Cezar Mutante, campeão do TUF Brasil 1, Durinho não tem como fugir do título de “pupilo de Belfort”. E nem faz questão disso. Foi o veterano do UFC quem lhe abriu caminho, acolheu em sua equipe e segue sendo seu principal conselheiro em uma carreira no MMA ainda no início, com nove vitórias, sendo oito por nocaute ou finalização. E também quem lhe dá broncas incisivas.

“É verdade, tem que ter puxão de orelha, bronca, porque eu sou um cara que treina muito, e às vezes ele fica preocupado. ‘Chega, mermão. Para de treinar!’. Ele me manda pra casa, manda minha esposa vigiar”, ri Durinho, sobre seu gosto por ir à academia gastar a energia que tem sobrando, o que é um perigo se feito em exagero.

A relação de Vitor e Durinho vem de 2011, quando o lutador de jiu-jítsu foi campeão mundial, batendo Kron Gracie, filho de Rickson. Dias depois, ele conheceu Vitor, que o convidou para auxiliar na preparação de um combate, afiando seu chão. A relação virou amizade, e a dupla mora a cinco minutos de distância, na Flórida (EUA). Lutadores, mulheres e filhos vivem juntos e frequentam as casas uns dos outros sempre. “Ele é um irmãozão”, define Durinho.

Enquanto aprendia sobre a arte suave com Durinho, Vitor ajudou na sua transição para o MMA. A estreia foi em 2012. Dois anos depois, o UFC o contratou, e já são duas vitórias desde então.

A experiência adquirida com Vitor é importante para este UFC Rio. Durinho ficou sem rival quando o sétimo do ranking Josh Thomson deixou o card – o norte-americano foi nocauteado em um treino, e teve de ser colocado em repouso. Thomson representava a oportunidade de Durinho entrar no ranking diretamente no top 10, e agora ele sabe que tem pouco a ganhar e muito a perder contra Alex “Cowboy” Oliveira.

“Eu ia dar um passo muito grande se vencesse o Josh. Era um elevador. Arrumaram então o Cowboy, um cara duro, que tem vários nocautes. O chato que não é um cara ranqueado, com nome. Mas é tão duro quanto o outro”, avalia o lutador. “Não posso menosprezar um cara do nível do Cowboy. A obrigação ficou em mim.”

Um quimono mudou a história de Gilbert

A família de Gilbert Durinho sempre foi apaixonada por lutas. Aos quatro anos, o garotinho teve aulas de caratê. Seu pai, simples, sempre teve diversos trabalhos como autônomo e um deles os levou a um laço definitivo com esse mundo, quando era estofador de carros. Certa vez, um dos automóveis deixados para um serviço tinha um objeto deixado para trás: um quimono.

Vitor e Durinho - Maurício Dehò/UOL - Maurício Dehò/UOL
Vitor e Durinho treinam juntos na Blackzilians, nos EUA
Imagem: Maurício Dehò/UOL

Gilbert tinha 12 anos e ver aquela roupa atiçou sua curiosidade. “Naquela vez, meu pai não aceitou o pagamento daquele serviço e trocou por aulas de jiu-jitsu, que o dono do quimono dava. Começamos a treinar e nunca paramos”, conta Durinho, que tem dois irmãos também com faixa-preta na arte suave.

A aposta do pai foi ousada para uma família que precisava de cada serviço para se manter. “Não posso falar que foi fácil nossa infância. Meu pai sempre foi autônomo, e a gente começou desde cedo a trabalhar. Ele teve um lava-jato, que não deu certo, montou borracheiro, estofador... Passamos momentos difíceis. E essa época como estofador era bem difícil. Ele precisava do dinheiro, mas mesmo assim arriscou, porque queria nos incentivar no esporte”, explica o lutador.

Durinho também teve que fazer seus “corres”. Foi vendedor em loja e trabalhou como segurança em São Paulo, quando mudou de estado para manter sua evolução no jiu-jítsu. Mas, quando embalou e virou campeão mundial na arte suave, não parou mais. Neste sábado, no UFC Rio, Durinho tem mais um degrau a subir nesta evolução que, por enquanto, promete não parar tão cedo.