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"Meu marido bate e apanha". A dura vida das mulheres dos lutadores de MMA

edson barboza - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Edson Barboza faz homenagem para a mulher, Bruna, em aniversário de casamento
Imagem: Reprodução/Instagram

Luis Augusto Símon

Do UOL, em São Paulo

13/05/2015 06h00

Karine, Catarina e Bruna, como muitas mulheres do mundo – e homens também – acompanham o parceiro em seu trabalho e vibram com as conquistas e ficam tristes quando eles perdem. A diferença é que vitórias e derrotas são frutos de chutes, murros, pontapés. É comum ver o marido espancando outro homem. Ou sendo massacrado.

São mulheres casadas com lutadores de MMA. No caso delas, uma vitória pessoal não pode ser comemorada com um beijo ou um abraço. A conquista do parceiro é em tempo real e elas sofrem ao vivo. Gritam, sofrem, urram. Como aquele monstro que está no ringue tentando bater em seu amado?

O beijo só vem depois que a luta acaba. E, muitas vezes, tem de ser dado com muito cuidado.

CATARINA (Catinha), mulher de Fábio Maldonado (13º. do ranking dos meio-pesados do UFC)
Especialista em marketing
Tem os filhos Igor, de 2 anos, e Daniel, de 1 ano, e a enteada Julia, de 11 anos

"Eu conheci o Maldonado lutando. Uma amiga me convidou para ver um evento de MMA e eu fui. Nem queria ir, estava um pouco desanimada. Ele faria a luta final. Eu estava gostando, mas não estava adorando. Nem sei se voltaria para um evento desse tipo. Então, quando ele entrou no ringue, uma coisa aconteceu comigo. Fiquei totalmente apaixonada. Vi que ele era a pessoa com quem eu queria viver.

Ele ganhou e eu dei um jeito de conversar um pouco. Depois, adicionei no Facebook e começamos a sair. Estamos juntos há cinco anos.

Aprendi a gostar de MMA, mas não sou uma entendida. Sei um pouco como ele deve fazer para lutar e vencer, mas não dou palpite. Por mais que você goste, é duro ver o marido levando murro e pontapés.

Quando estava esperando o Igor, o Fábio enfrentou o Glover Teixeira e perdeu no segundo assalto. Quase que o menino nasceu antes da hora. A luta foi no Rio e eu vi na casa de amigos. Passei mal e minha pressão subiu. Meia hora depois, rumei para o hospital.  A luta foi violenta e o Fábio apanhou muito. Foi para o hospital com fratura no nariz e eu fiquei com ele os dois dias.

Meu segundo filho, o Daniel, nasceu três dias antes da luta contra o Miocic. Eu estava recém-operada e vi a luta terminar em 35 segundos com derrota do Fabio. Foi duro.

Quando a luta começa, eu deixo de ser racional. Até entendo um pouco, mas não fico dando instrução, do tipo faz isso, faz aquilo. O que eu faço é berrar e me descabelar. Grito, mordo, não me seguro, não, desde que ele entra no octógono. Ele é mais calmo, mas dois dias antes, fica insuportável. É pior que TPM.

Em casa, eu sou mais brava que ele. Fico tentando impor meu ponto de vista e ele rebate, com calma. Eu fico nervosa e às vezes avanço para unhar o Fábio. Ele olha para mim bem fixo e fala assim, com voz bem calma; “melhor, não, Catinha. Melhor não. “ Aí, eu sossego."

KARINE, mulher de Fabrício Werdum (campeão interino dos pesados do UFC)
Empresária, dona de site de moda t0p4foryou e vai lançar loja virtual
Tem as filhas Júlia, 7 anos, e Joana, 1 ano e dois meses

"Estou com o Werdum há 15 anos. Os seis primeiros foram do tipo amizade colorida, eu vivia em Porto Alegre e ele, em Madri. Então, a saudade começou a aumentar demais e percebemos que era hora da união.

A confiança entre nós é muito grande. Como entendo de moda, adoro fazer com que ele fique bem bonito e elegante. Eu não tenho ciúme de ring girl, não tenho ciúme de menina que vive perseguindo lutador, resumindo, eu não temo concorrência de corpão. Tenho mais medo de cérebro, mas me garanto também.

Quem pensa que o mundo do MMA é cheio de glamour, está enganado. Ou melhor, enganada, são meninas sem perspectiva na vida, que acreditam em brilho fácil. O MMA é um esporte, é mundo de trabalho, isso sim.

Na minha relação com meu marido, eu busco sempre dar apoio, estar ao lado, mas sem interferir muito. Ele tem a equipe médica e técnica para ajudar. Não sou eu, por exemplo, que vou ficar falando que tipo de comida ele deve comer. O que eu faço é comprar a comida indicada e fazer para ele comer.

Também não fico criando pressão, falando de lutas passadas ou da próxima. Ele também gosta de se desligar, de reunião com amigos em casa. A próxima luta será no México, ele viaja 45 dias antes para se aclimatar. Fica uma semana sem fazer nada e depois começam os treinos leves. Depois de 20 dias, eu vou até lá, fico quatro dias e volto para os Estados Unidos.

Em dia de luta, eu pratico outro esporte: a compraterapia. Vou ao shopping e fico passeando. Não vejo a luta. Recebo muitas ligações antes, durante e depois da luta e não atendo nenhuma. Só atendo quando sei que é ele. Ele me conta o resultado e depois vemos a luta juntos.

A luta que me deu mais alegria foi aquela contra o Fedor Emelianenko, que estava havia dez anos sem perder. Tinha de resolver logo e deu tudo certo. Houve a luta também contra o Mark Hunt, que foi inesquecível. Quando ele ligou, eu estava cuidando da nossa filha, a Joana, e levei um susto grande.

É assim, eu acompanho, sofro, vibro, mas junto com ele. Não fico à frente, não misturo meu trabalho com o dele."

BRUNA, Mulher de Edson Barboza Jr. (7º. do ranking do UFC categoria peso leve)
Jornalista, assessora de imprensa do marido
Tem o filho Noah, de seis meses

"Conheci o Edson quando eu tinha 17 anos e ele, 18. Quando apresentei para minha mãe e disse que ele era campeão de muay thai, houve uma certa apreensão. Quando a gente resolveu casar, minha mãe ficou mais uma vez apreensiva porque eu estava na faculdade e tinha um inicio de carreira já encaminhada para a televisão, mas resolvemos mesmo ter uma vida conjunta e já estamos juntos há 11 anos.

Eu trabalho junto com ele, cuido das entrevistas e dou dicas de quando vai falar na televisão. Mostro qual é o melhor ângulo dele, lembro de algum tema bacana que ele deve lembrar, vejo a melhor roupa e acompanho nas sessões de fotos. Levo comida para ele. Também tento dar opinião sobre o visual, se ele deve deixar o cabelo crescer, fazer a barba, mas nesse ponto ele prefere seguir as opiniões do treinador dele. A encarada também, eu dou opinião, mas ele não segue, não.

O Edson diz que eu sou a guerreira da relação. Tenho opinião forte e muitas vezes fico falando na orelha dele. Ele é muito calmo. Escuta um pouco e depois sai, me deixa falando sozinha. Não discute nunca.

Estou sempre ao lado dele. Na pesagem, na encarada e antes da luta, fazemos uma oração juntos.  Esta é uma opção dele, ele gosta da minha presença, acha que eu passo tranquilidade. É lógico que vou em todas as lutas.

Quando começa a luta, eu deixo de ser a profissional que acompanha o marido e fico nervosa. Grito, incentivo, torço as mãos, como todo mundo. Mas não sou uma mulher histérica, que quer roubar a cena.

A única luta que eu não vi foi contra o Bob Green, em novembro do ano passado. Ele ganhou por decisão unânime. Eu estava grávida de 37 semanas e o médico disse que não seria bom. Trouxe minha mãe do Brasil para a gente ver junto a luta, aqui na Flórida. Foi muito bom ter companhia, acho que eu entraria em trabalho de parto, se estivesse sozinha."