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'Dinossauro' Belfort luta por título histórico e lacuna aberta por Anderson

Jorge Corrêa e Maurício Dehò

Do UOL, em Las Vegas e São Paulo

23/05/2015 06h00

Vitor Belfort costuma dizer que é um “dinossauro” do UFC. Afinal, não há ninguém há tanto tempo na ativa como ele. Seus pares já foram à extinção, aposentaram-se. Mas o carioca de 38 anos sobe no octógono do UFC 187, em Las Vegas, para tentar coroar um legado já histórico e tentar tomar o cinturão dos médios de Chris Weidman. É a chance para um feito inédito, com três conquistas em categorias diferentes e também a oportunidade de preencher a lacuna de ídolo máximo dos brasileiros, depois de Anderson Silva ser afastado por doping.

Já são quase duas décadas de carreira para Belfort, numa jornada cheia de reviravoltas. Pupilo de Carlson Gracie e tão ligado ao mestre de jiu-jítsu que chegou a levar por um tempo o sobrenome dele, o garoto conheceu a glória aos 19 anos, ao conquistar o título do GP dos pesos pesados no UFC 12, em 1997. Sete anos depois, bateu Randy Couture e conquistou o cinturão oficial dos meio-pesados. Agora, pode se juntar ao próprio Couture e a BJ Penn como os únicos campeões em categorias diferentes dentro da organização.

“O que o Chris Weidman estava fazendo quando eu estreei no MMA, que ainda era vale-tudo? Eu lutava com cara gigantes, sem regras, sem luvas. E estou aqui até hoje. É isso que me motiva, é o legado que vou deixar nesse esporte. Quem vai poder falar que fez o que eu fiz? Ninguém”, se auto-exaltou Belfort.

Não é só de vitórias que o carioca viveu. Muito pelo contrário. Derrotas marcantes no octógono e fora dele construíram uma história de superação. Belfort perdeu logo na primeira defesa de cinturão do UFC e chegou a ter cinco derrotas em sete lutas entre Ultimate e Pride. Na vida pessoal, perdeu a irmã em 2004, um drama familiar que mexe com o lutador hoje. Com fama de bad boy, participou do reality show A Casa dos Artistas, no SBT, onde começou o relacionamento com Joana Prado - então a Feiticeira. Em 2006, ainda abalado, caiu em um antidoping.

Foi depois do flagra que um novo Vitor - já em sua fase aberta quanto à religiosidade - surgiu, um Vitor que sabia do seu talento, mas que conseguiu trabalhar pesado para aperfeiçoá-lo. Desde 2007, quando ele deu um passo para trás, atuando em eventos menos consagrados, o lutador se reinventou até voltar ao UFC. É claro que ele teve aquele chute na cara de Anderson Silva para frear seu ímpeto, mas nem isso o abateu. Fora os reveses para o Spider e Jon Jones, venceu dez lutas, com nove nocautes que nunca passaram do segundo round. As performances das últimas três lutas, em que acrescentou os chutes ao seu repertório e enfileirou com pernadas Bisping, Rockhold e Henderson mostraram: o UFC tinha a obrigação de dar mais uma chance de consagração para o brasileiro.

Ainda assim, Belfort sente que há quem tente tirar seus méritos. “Fui eu quem venci dois caras na mesma noite. E ainda estou aqui”. O TRT, tratamento de reposição hormonal que supostamente favoreceria lutadores que se doparam anteriormente, foi a maior das polêmicas, mas agora está banido. Não se sabe sequer se o Vitor deste sábado é o Vitor arrasador que lutou pela última vez há 18 meses.

Fato é que uma vitória de Vitor o transformará na maior estrela do momento, pelo menos no Brasil. José Aldo, Rafael dos Anjos e Fabrício Werdum tem títulos, mas não tem o carisma do carioca, amado e odiado por muitos, e nem sua história. Com Anderson discreto em sua luta para provar inocência no caso de doping, a lacuna está só esperando para ser preenchida.

Do outro lado do octógono, Chris Weidman não vai vender barato o trono dos médios. O norte-americano tem estrela. Vencer Anderson Silva duas vezes - não importa como -, bater Lyoto Machida e ainda mostrar a confiança que ele tem são elementos para poucos. Invicto, Weidman chega ao combate com 12 vitórias e muito favorito nas casas de apostas. Cada US$ 1 apostado na vitória do atual campeão, rende só US$ 0,04. Já o triunfo do "Fenômeno" está pagando US$ 3 para cada US$ 1 apostado.

O norte-americano, geralmente elegante com seus rivais, é diferente para tratar de Belfort. Suas acusações de doping são constantes, chamando o brasileiro de “Hulk” e até afirmando que não confia que ele esteja limpo, apesar dos testes liberarem o desafiante, inclusive os exames de urina feitos nesta semana de UFC 187.

Weidman ainda sofre para convencer sobre seu talento, mesmo com vitórias sobre nomes fortes. Suas lutas por cinturão ainda não tiveram resultados arrasadores, e o combate entre ele e Vitor nem foi colocado como a última luta da noite neste UFC 187, então a esperança do norte-americano é de cravar de vez seu nome e duelar com José Aldo para ser o melhor lutador peso por peso da atualidade.

A luta principal: quem substitui Jones?

Depois de ser decidido o futuro do cinturão dos médios, será a vez de os meio-pesados conheceram seu novo campeão. Jon Jones teve o título retirado após o acidente de carro em que feriu uma grávida e fugiu sem prestar socorro, e agora o desafiante original Anthony Johnson pega Daniel Cormier - última vítima de Jones.

Esta luta acaba com a série mais vencedora de um campeão meio-pesado na história do UFC. Foram oito defesas consecutivas do título, e ainda não se sabe quando o norte-americano poderá voltar, apesar de o Ultimate já deixar claro que quer que Jones volte lutando pelo título.

Johnson, assim como Belfort, é um lutador com poder de nocaute ímpar e treina na Blackzilians, equipe do sul da Flórida (EUA). Antes um meio-médio com problemas na balança, o norte-americano foi demitido do UFC quando não bateu o peso para enfrentar justamente Belfort. Depois disso, vem de nove vitórias e conquistou sua chance ao nocautear Minotouro e Alexander Gustafsson.

"Eu não me arrependo de nenhum dos meus erros com o peso, porque eles me fizeram quem sou hoje. Se eu tivesse batido o peso, eu não teria sido arrogante, não teria sido focado como preciso ser. Falhar nas pesagens me fizeram engatar a próxima marcha que eu precisava para ser um lutador de sucesso."

Cormier, por outro lado, deu sorte com o vexame de Jones. Ter duas chances seguidas pelo cinturão é raro e ele deve tentar usar seu wrestling - que lhe deu 4º lugar na Olimpíada de 2004 - para frear o “touro” que é Johnson.

“Minha lista de derrotas é imensa, das dívidas que tive, a um casamento arruinado, perder nas Olimpíadas, perder a luta para Jon Jones. Eu fui nocauteado muitas vezes, mas a história é a mesma. Eu caio, mas eu me reergo”, diz Cormier, que admitiu ter lutado com Jones abalado psicologicamente pela rivalidade entre eles.

Serviço – O UFC 187, com suas duas disputas de cinturão em Las Vegas, começa às 19h30 (de Brasília), com as sete lutas do card preliminar. O card principal está marcado para as 23h, com cinco lutas, sendo Chris Weidman x Vitor Belfort a penúltima, seguida por Anthony Johnson x Daniel Cormier. O Placar UOL acompanha todos os momentos do evento. O canal pago Combate faz a transmissão ao vivo, e a Rede Globo terá as principais lutas em VT, com o habitual atraso, previsto no contrato com o UFC.

Card principal:
Meio-pesado (cinturão): Anthony Johnson x Daniel Cormier
Médio (cinturão): Chris Weidman x Vitor Belfort
Leve: Donald Cerrone x John Makdessi
Pesado: Travis Browne x Andrei Arlovski
Mosca: Joseph Benavidez x John Moraga

Card preliminar:
Mosca: John Dodson x Zach Makovsky
Meio-médio: Dong Hyun Kim x Josh Burkman
Médio: Uriah Hall x Rafael Natal
Palha feminino: Rose Namajunas x Nina Ansaroff
Meio-médio: Mike Pyle x Colby Covington
Leve: Islam Makhachev x Leo Kuntz
Mosca: Justin Scoggins x Josh Sampo