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"Dama de ferro" do MMA cruzava rio para treinar e só venceu por finalização

Polyana (esq.) encara Karoline Teles durante a pesagem do Jungle Fight - Divulgação
Polyana (esq.) encara Karoline Teles durante a pesagem do Jungle Fight Imagem: Divulgação

Daniel Lisbôa

Do UOL, em Palmas (TO)

12/09/2015 14h16

Polyana Viana tem traços suaves, mãos delicadas, 1,69 metro de altura e pesa pouco mais de 50 quilos. Mas ela demora a atender a reportagem porque está ocupada no quarto do hotel onde está hospedada em Palmas, no Tocantins. O motivo: precisa terminar a seção de soro, que ela toma direto na veia, para se reidratar. Ela perdeu muito peso desde a sua última luta. Isso porque, apesar da aparência talvez enganar a alguns, Polyana é ninguém menos que a atual campeão mundial de jiu-jitsu submission.

A lutadora está em Palmas para o Jungle Fight, maior evento de MMA da América Latina. A 12ª edição do evento acontece entre a noite de sábado (12) e a madrugada de domingo no ginásio Ayrton Senna, que será reinaugurado para a competição. Polyana, claro, é uma das favoritas, é não é para menos: além do título mundial conquistado agora em agosto, ela é nada menos do que pentacampeã maranhense e bicampeão do estado do Tocantins. Mas engana-se se você pensa que os feitos da paraense de 23 anos terminam aí.

Polyana jamais venceu uma luta por pontos. Ela sempre finalizou suas adversárias. E adversários: por falta de mulheres, ela já lutou contra homens em um campeonato em Araguaína (Tocantins). E venceu. Polyana quase sempre enfrenta lutadoras mais pesadas do que ela. Em Teresina (Piauí), ela finalizou uma oponente, faixa roxa em jiu-jitsu, de 110 quilos. Em outra luta, ela bateu uma competidora de 80 quilos em Vitória (Espírito Santo). A única derrota da carreira de Polyana aconteceu em São Paulo, quando sua luta terminou empatada e, segundo ela, os árbitros optaram por dar o título à lutadora da casa.

“Eu nunca fui de brigar. Na verdade, eu só brigava, e muito, com o meu irmão mais velho”, conta Polyana, que é da pequena São Geraldo do Araguaia, na divisa entre o Pará e o Tocantins. “E ele sempre apanhava. Minha mãe chegou a dizer que, se ela chegasse em casa e visse ele chorando de novo porque apanhou de mim, ele ia ver só”, lembra a lutadora.

Polyana foi descoberta pelo seu treinador, Marcio Sarigrace, enquanto jogava futebol em sua cidade. Observando-a, ele achou que ela tinha jeito para o MMA e a convenceu a fazer algumas aulas em sua academia. O resultado, conta Marcio, foi que logo de cara ela saiu finalizando todo mundo que via pela frente.

Com as aulas, Polyana foi se aperfeiçoando. Hoje, apesar de gostar muito de chutar, seu forte é lutar no chão. Quando ela encaixa um arm lock ou um triângulo, suas adversárias ficam em maus lençóis. Algumas já se machucaram feio tentando se desvencilhar: já teve oponente com braço quebrado, ombro deslocado, supercílio aberto e mão quebrada. Mas Polyana deixa claro que não gosta quando essas coisas acontecem.

“Teve uma luta em que eu senti o braço da lutadora estalar, vi que quebrou e soltei na hora”, conta ela. “Eu me sinto mal quando isso acontece. Mas muitas adversárias insistem em tentar sair quando já estão imobilizadas e acabam se machucando”, explica Polyana, que nunca se machucou em uma luta. Sua única lesão foi durante um treino em que ela quebrou o nariz.

A caminhada de Polyana rumo ao posto onde se encontra hoje não foi simples. Há até pouco tempo, ela às vezes precisava atravessar o Rio Araguaia para treinar em uma academia que ficava na outra margem, no Tocantins. De balsa, conta a lutadora, a travessia demorava cerca de meia hora. Já quando ela pegava a “voadeira”, barco motorizado menor e mais rápido, em poucos minutos ela já estava no outro estado para treinar.

E, se Polyana ainda tinha alguma dúvida sobre o quão importante são seus feitos para São Geraldo do Araguaia, ela acabou quando a lutadora decidiu, de última hora, que queria participar do Mundial. Sem dinheiro suficiente para a inscrição no campeonato, e para as passagens, ela e seu treinador não pensaram duas vezes e saíram pelas ruas da cidade pedindo ajuda.

“Saímos com carro de som e organizamos apresentações de jiu-jitsu com os alunos da nossa academia”, conta Polyana. A estratégia deu certo, e os quatro mil reais necessários para a ida à competição foram arrecadados. “Teve um menininho de uns nove anos que quebrou o cofre de porquinho dele na nossa frente para doar as moedas que ele tinha. Foi emocionante”, lembra a lutadora.

Após a conquista do título mundial, Polyana foi recebida em São Geraldo do Araguaia com uma carreata. Hoje, sua academia, da equipe Sombra Top Team, tem instalações mais adequadas e ocupa um prédio no centro da cidade. Antes, funcionava em um quarto da casa de madeira de Marcio. A academia também passou a receber apoio do município e a ensinar jiu-jitsu em escola locais.

Mais uma vez, Polyana não terá vida fácil. Hoje à noite, ela irá enfrentar no Jungle Fight uma lutadora da casa, a palmense Karoline Teles. Mas Polyana, ou a “dama de ferro”, como é conhecida, exala tranquilidade e diz que o único momento em que fica um pouco nervosa é logo antes da luta. “Depois eu desligo e foco naquilo que eu tenho que fazer”.