Técnico que mandou lutadora calar a boca em surra diz que foi carinhoso
A relação entre um treinador e sua atleta entrou no centro de um debate após o UFC Belém, quando a lutadora Priscila Pedrita Cachoeira sofreu uma derrota acachapante para Valentina Shevchenko, na madrugada de domingo (4).
Ainda no primeiro assalto, Pedrita deslocou o joelho e, durante o intervalo, avisou seu treinador que estava sentindo dor no joelho. Gilliard Paraná, que a acompanha desde o início da carreira, mandou a lutadora “calar a boca” e se concentrar nas instruções para o restante da luta.
No segundo assalto, Pedrita foi muito castigada e, sem esboçar reação, acabou finalizada por Valentina.
Após o combate, ao passar por exames em um hospital, Pedrita constatou que precisará passar por uma cirurgia para tratar do menisco e do ligamento cruzado do joelho.
A postura de Gilliard acabou rendendo críticas, e ele precisou ouvir em suas redes sociais que foi rude e irresponsável no trato com a atleta. Em entrevista ao UOL Esporte, o treinador da PRVT, uma importante equipe de MMA feminino, disse que não se arrepende de ter mandado sua aluna calar a boca e que sua intenção era fazê-la parar de “ficar histérica.”
“Eu não sabia a intensidade da lesão, só fui saber no hospital depois”, disse o treinador por telefone ao desembarcar no Rio de Janeiro. “Eu trato meus alunos como pai. Ali no intervalo a Pedrita começou a ficar histérica e, como eu tinha pouco tempo, é como se fosse salvar alguém de um afogamento no mar. Ela começou a falar muito do joelho, que o joelho estava doendo, e eu tive que fazer algo pra ela para de falar do joelho e pra gente voltar pro segundo round.”
“Eu falei: ‘Cala a boca, vamos falar de outra coisa’. Então ela desfocou do joelho e prestou atenção no que eu estava falando. É assim que a gente se trata. Eu falo cem ‘Eu te amo’ e mandei calar a boca uma vez. Não me arrependo. Foi o jeito que eu dei na hora de ela me escutar. A gente se trata com muito amor, foi um cala a boca meio carinhoso.”
Gilliard, no entanto, disse que se soubesse que a lesão de Pedrita era grave, teria tomado ele mesmo a iniciativa de interromper a luta, jogando a toalha e concedendo a vitória a Valentina, uma atleta muito mais experiente, candidata a disputar o cinturão das pesos moscas em breve. Para comparação, essa foi a primeira luta de Pedrita no UFC.
“Se ela não tivesse mais aguentando lutar, ela falaria”, disse Gilliard. “Mas quem já viu ela lutando sabe que ela é uma máquina de levar porrada, já quebrou braço, nariz... Pedir pra parar ela não ia.”
Pedrita fala em relação de pai e filha
Ao deixar o hospital, a lutadora Priscila Pedrita, que estava com o cartel invicto, foi ao Instagram para dizer que não se arrependeu de ter aceitado a luta contra Valentina. E criticou quem estranhou o tratamento dispensado a ela por seu treinador.
“Lutaria com a Valentina mais dez vezes. Quem escolhe batalha fácil não é um verdadeiro guerreiro. E o tratamento e intimidade que tenho com meu mestre, quem está de fora não conhece nada para criticar. Aqui não é mestre e aluna, é pai e filha, e não será ninguém que irá dizer como ele deve me tratar.”
Técnico poupa árbitro brasileiro
Conforme o massacre de Valetina sobre Pedrita se intensificava, todas os olhos se voltaram ao árbitro brasileiro Mario Yamazaki. Embora Pedrita não esboçasse muita reação, Yamazaki demorou para interromper o combate, o que gerou críticas inclusive de Dana White, o presidente do UFC.
A organização chegou a dizer que tomará providências para que próximas lutas não tenham o mesmo desfecho. Por outro lado, o técnico Gilliard Paraná não considerou a atuação do árbitro incorreta.
“A gente tinha a opção de pedir para parar, mas não fizemos”, disse o técnico. “O árbitro achou que ela estava se movimentando. Acho até que em alguns momentos ele pensou em parar, mas ela ressuscitava e ele não parava. Essa profissão é muito difícil. Se você para muito cedo, reclamam. Se para tarde, reclamam também.”
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