Ex-UFC é enfermeiro no combate ao Covid-19 em NY e diz: "espalha como fogo"
Phillipe Nover tem a luta como esporte, teve como profissão e ainda a tem como item principal em sua personalidade. Aos 36 anos, esse espírito que move um atleta de MMA a não desistir, mesmo enquanto é socado na cara sem piedade por seu adversário, é aplicado por Nover na enfermagem. O ex-UFC trabalha como enfermeiro e é um dos profissionais na linha de frente do combate ao coronavírus em Nova York (Estados Unidos).
Nova York é o estado norte-americano com mais números de casos e mortes pelo Covid-19 em todo os Estados Unidos. Nas últimas 24 horas, foram mais de 200 óbitos — totalizando 1550 até ontem (31)] e os doentes passam de 75 mil. Os EUA têm mais de 175 mil casos da doença. "Isso é apenas o começo. Neste momento, as semanas mais difíceis ainda estão por vir", disse o prefeito da cidade, Bill de Blasio, na última segunda (30).
Philippe Nover sabe que a previsão do político é verdadeira. Nunca enfrentou um adversário tão difícil em toda a carreira no MMA. Em entrevista ao site especializado MMA Fighting, o enfermeiro Nover descreveu a desesperadora situação enfrentada em Nova York com pessoas lotando o sistema de saúde e profissionais médicos e enfermeiros infectados.
"As unidades de UTI estão cheias de pacientes com Covid-19. Na semana passada, tive um paciente que teve um ataque cardíaco e não há leito de UTI. Eu não gostaria que meu parente estivesse em uma UTI depois de ter um ataque cardíaco próximo a um paciente que tem Covid-19 e está se espalhando como fogo", contou Philippe, que é enfermeiro especializado em tratar pacientes com problemas cardíacos e se aposentou do MMA fevereiro de 2017.
Segundo o ex-lutador do UFC, a situação piorou em questão de dias e os profissionais de saúde chegaram a enfrentar a falta de equipamentos de proteção adequados como máscaras e roupas impermeáveis. "Há um problema de contaminação cruzada. Está uma bagunça em Nova York. Está se espalhando rapidamente. Eu vejo colegas de trabalho e amigos que contraíram o vírus. Quanto a me colocar em risco, pensei inicialmente, mas entrei na área da saúde para ajudar as pessoas e é realmente esse o nosso chamado".
Epicentro do surto, Nova York tenta conter o coronavírus com o isolamento social e reforço na área médica. Na segunda, um navio-hospital de mil leitos chegou à Manhattan. Um hospital de campanha também está sendo montado no Central Park, um dos principais pontos turísticos da cidade.
O enfermeiro teve uma longa carreira no MMA. Com jiu-jitsu como sua especialidade, ele se aproximou de brasileiros e, em 2008, foi um dos finalistas do The Ultimate Fighter, programa de televisão que levava o campeão ao sonhado UFC. Philippe chegou à final da edição que teve o time do brasileiro Minotauro contra o ex-campeão dos pesados Frank Mir, mas acabou derrotado por Efrain Escudero.
Mesmo assim, assinou com a maior organização de MMA do mundo, onde ficou de 2008 a 2010 e depois por mais um período de 2015 a 2017. O cartel dele tem 11 vitórias, oito derrotas e um empate. Philippe Nover também teve passagem pelo Bellator e, antes da pandemia, praticava o esporte e trabalhava como instrutor de jiu-jitsu.
Nover disse que alguns de seus amigos continuam treinando, mesmo com a ameaça da doença, e ressalta que organizar qualquer competição de luta em meio ao caos do coronavírus é colocar em risco a saúde de atletas e de seus familiares. O UFC já cancelou eventos em março e o que estava marcado para 11 de abril, mas ainda tem lutas previstas para o UFC 249, em 18 de abril.
"Dana White pode fazer o evento, se ele conseguir 250 testes e testar todo mundo e todo mundo der negativo", opinou o enfermeiro, afirmando que nem mesmo os hospitais norte-americanos estão sendo capazes realizar os testes de Covid-19 em seus profissionais. Apenas os pacientes com sintomas mais avançados são submetidos ao teste.
"Como ex-lutador e praticante de jiu-jitsu, eu adoraria treinar com meus amigos, mas eu não posso arriscar, porque eu posso transmitir a doença, mesmo não tendo sintomas. É uma doença tão fácil de ser transmitida, e quando eu tinha 24 anos provavelmente eu ia querer treinar e lutar, mas agora, eu penso melhor. As chances desses caras novos ficarem doentes são baixas, mas eles podem transmitir e espalhar o vírus para pessoas que não são jovens atletas", completou.
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