Chute que marcou nocaute foi "maior sorte da vida" de Spider, diz Belfort
A histórica luta entre Anderson Silva e Vitor Belfort, no UFC 126, completa 10 anos hoje. Chamado de "luta do século", o confronto acabou com um chute do Spider no rosto de Belfort, que acabou nocauteado. Se por um lado, Anderson é festejado pelo golpe até hoje, por outro, Belfort classifica a vitória como "sorte".
"Ele teve a maior sorte da vida dele. Eu tinha certeza que ia ganhar dele, que ia nocautear ele. Ele sabia disso. Se ele não acertasse aquele chute, foi aquele chute que ele tinha e viu que poderia ganhar - o próprio time dele falava, eu tinha convicção. Se eu botasse a mão nele, ele ia pro chão", disse Belfort, em entrevista ao Combate.com.
A luta foi marcada por uma série de polêmicas. Na encarada, Anderson vestiu uma máscara em resposta às provocações de Belfort, que tinha chamado de 'duas caras'.
"Foi uma encarada normal, do momento. Ele teve a criatividade dele, quando falei que ele era um homem de duas caras, né? Ele literalmente trouxe a terceira (risos). Têm pessoas que têm uma cara, duas e três. Ele trouxe a terceira. Foi bem criativo. Tiro o chapéu para o time dele", disse.
Anderson considerava o confronto inadequado, já que foi companheiro de treino de Belfort anos antes. O carioca, porém, acredita que o duelo foi um passo importante para a modalidade.
"Eu sempre tive na cabeça que no Brasil a gente tinha que pensar como profissional. E, no Brasil, a gente tinha muito aquela coisa de ir para o pessoal. O Anderson levou para o lado errado, apesar de ele ter ganho, de ele ter crescido, de o nome dele ter crescido. Ninguém naquela época dava muita atenção para o que ele tinha feito. O lutador tem sempre um pensamento muito voltado só para a luta. Não costuma pensar adiante. Existem os Moisés de todo deserto. Que abrem as águas. Eu fui o cara que abriu essa água", lembra.
"Naquela época todo mundo era contra, depois veio o André Pederneiras, o cara que mais me apoiou nisso, nas minhas decisões, um cara que teve uma visão de empreendedorismo na luta e, com isso, as pessoas foram ficando muito mais à vontade. Depois eu vejo o Renzo [Gracie], um cara que conseguiu abrir uma academia para todo mundo, parou com esse negócio de turminha, né? - contou, acrescentando que hoje este tipo de situação já é visto com mais naturalidade."
Hoje, a luta entre ex-companheiros de tatame é vista com melhores olhos. "Ela foi o pontapé inicial, eu falo que eu sabia disso. Muita gente não entendia que essa luta precisaria ser feita. e, infelizmente, todo mundo que vê algo no futuro, ele é muito criticado no presente. Acho que meus críticos hoje falam: "Poxa, o Vitor sempre teve visão, né?". O cara pode não gostar de mim, da minha equipe, não curte aquilo que eu prego e que eu vivo, eventualmente ele gosta de ser um estilo mais falastrão, mas acho que quando você bota tudo de lado, o que vale mesmo depois que você vai ficando mais velho, é o que os lutadores vão criar pra eles, né?", diz Vitor.
"O lutador às vezes pensa muito 'não, eu preciso ser bem pago, ele não?', e não pode ser assim. Porque se eu não for bem pago, ele não pode ser bem pago. Hoje em dia tem lutadores que eu vejo pedindo para o Dana White seguir eles, pulou a grade pra ser seguido no Instagram. Eu falo: qual o valor de mercado que esse lutador vai ter pro Dana White? Quase zero. Achei que ele ia pular a grade e pedir um aumento, né?"
Além da dificuldade com Anderson, Belfort relembra também teve problemas para perder o peso até a data da luta.
A perda de peso foi uma coisa difícil pra mim, me lembro disso. E lembro que eu falava o quão pequena era a cabeça do lutador, de achar que era alguma coisa pessoal. Eu falei: "Quando é que a gente vai poder crescer? Quando é que a gente vai poder tornar este esporte maior, os lutadores vão poder ter vozes, não vão ser usados pelos promotores?". Meu pensamento é: "Quando é que os lutadores vão poder ser empresários, né?". E hoje em dia a gente tem a referência de um irlandês [McGregor] que conseguiu transferir isso. Falo que ele conseguiu ser um divisor de águas, sim", diz.
Mesmo fora do UFC, assim como o Spider, Belfort não afastou a possibilidade de uma eventual revanche entre os dois. "Se for um bom business, porque não? Lutas assim seriam economicamente muito boas e acho que trabalharia um conteúdo novo. A maneira que a luta gira, os youtubers estão ganhando", finalizou.
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