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Natação brasileira não revela talentos para substituir Gustavo Borges

24/11/2001 20h46

Agência Folha
Em São Paulo

Janeiro de 1991. Gustavo Borges, 18, termina em 11º nos 100 m livre no Mundial de Perth (Austrália) e se firma como a grande promessa da natação brasileira.

Novembro de 2001. Após ganhar quatro medalhas olímpicas, Borges segue como o grande nome das piscinas no país.

Ele é o único brasileiro a figurar individualmente no ranking da Fina (Federação Internacional de Natação) com os melhores tempos do ano entre as provas disputadas na Olimpíada-2000 -aparece no 22º lugar dos 100 m livre.

Se for computado apenas o melhor tempo de cada nadador, a situação melhora um pouco. Borges sobe para a décima colocação, e surge outro brasileiro: Rogério Romero, 24º nos 200 m costas.

A fase atual de pouco brilho da natação brasileira contrasta com um período vitorioso, liderado principalmente por Borges com a ajuda de Fernando Scherer, 27.

Os dez anos pós-Mundial de Perth-91 foram os mais produtivos da natação brasileira, que foi ao pódio nas três Olimpíadas do período, com cinco medalhas -até então o país só havia sido premiado quatro vezes na piscina.

Em três Pans, o Brasil conseguiu mais que dobrar os ouros obtidos em dez edições anteriores.

De Buenos Aires-51 até Indianapólis-87, o Brasil subiu seis vezes no lugar mais alto do pódio, e de Havana-91 a Winnipeg-99 foram tocadas 13 vezes o hino nacional.

Borges se transformou no brasileiro mais premiado da história da competição, com 15 medalhas, e Scherer estabeleceu o recorde de ouros de um atleta do país em um só Pan (quatro, em Winnipeg).

O Brasil também obteve destaque em competições em piscina curta (25 m), que ganharam importância a partir de 1993, quando Palma de Mallorca (Espanha) abrigou o primeiro Mundial.

Além dos seis ouros nos três Mundiais, o Brasil conseguiu três recordes mundiais nesse tipo de piscina (um com Borges, nos 100 m livre, e dois com a equipe de revezamento 4 x 100 m livre).

Porém as esperanças de medalhas sempre estiveram concentradas em Borges e Scherer.

Nas competições em que a dupla não foi bem (Mundiais de Perth-98 e Fukuoka-2001) ou não participou (Mundiais de piscina curta de Hong Kong-99 e Atenas-2000), o Brasil passou em branco.

Para Borges, não falta renovação. "O Brasil vem se renovando, mas não surgiu um expoente, um atleta para disputar medalha."

Para ele, ainda há tempo para surgir o "expoente" sem que haja um hiato, pois seus planos são nadar em alto nível até 2004.

"Tenho três competições no meu cronograma: o Mundial de curta do ano que vem, o Pan de 2003 e a Olimpíada de 2004."

A poucos dias de fazer 29 anos -seu aniversário é dia 2-, a idade não parece preocupar Borges, apesar de ele ser o segundo mais velho no ranking dos 100 m livre.

Na frente dele, só o russo Alexander Popov, 29, que dominou os 50 m e os 100 m livre nos anos 90 com quatro ouros olímpicos, mas que só obteve a prata nos 100 m livre em Sydney-2000.

A média dos 25 mais rápidos na prova em 2001 é de 25,3 anos.

"Essa média tem aumentado muito ultimamente", disse Borges, que cita como exemplo o sueco Lars Frolander, 27, bronze no Mundial de Fukuoka-2001.

Scherer, que não tem obtido bons resultados recentemente, encampa a opinião do colega e diz que é preciso criar estrutura para transformar talentos isolados em medalhistas olímpicos.

"O Gustavo e eu somos os únicos atletas profissionais do país. Precisamos de patrocínio para desenvolver programas que cuidem da nova geração."