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"Holandês voador" quer brecar Ian Thorpe

10/11/2002 00h01

Por Guilherme Roseguini
Agência Folha
Em São Paulo

Piscina do Sydney International Aquatic Centre, setembro de 2000. Pieter van den Hoogenband olha desconfiado para o placar eletrônico, leva as mãos a cabeça e parece não acreditar na façanha que acabara de lograr.

O nadador holandês havia despachado Ian Thorpe na final dos 200 m livre, conquistado a medalha de ouro olímpica e deixado um sorriso amarelo no semblante dos torcedores australianos. Dois anos se passaram desde a "inacreditável vitória", como definiu o próprio Hoogenband.

Hoje, com o recorde mundial dos 100 m livre no currículo e às vésperas de visitar o Brasil pela primeira vez -disputa, de quinta a domingo, a etapa do Rio da Copa do Mundo-, o nadador diz não temer mais o "Torpedo" e promete roubar a cena nos principais eventos da modalidade.

"Ian Thorpe pode ser o recordista mundial dos 200 m livre, mas eu sou o campeão olímpico e campeão europeu. Conheço o potencial dele, mas sei que tenho condições de vencer", revelou o atleta de 24 anos à reportagem.

O "holandês voador" -apelido que conquistou após se tornar o primeiro ser humano a nadar os 100 m livre abaixo dos 48s- já pensa até em declinar o mais ambicioso projeto do australiano: angariar sete ouros nos Jogos de Atenas-2004 e igualar a marca histórica de Mark Spitz, obtida há 30 anos, nos Jogos de Munique.

"Vou defender meus títulos em Atenas [nos 100 m livre e nos 200m livre]. São minhas conquistas mais importantes e não serão tomadas com facilidade", disse.

Hoogenband sabe, contudo, que sua tarefa é espinhosa. Ian Thorpe, 20, já quebrou 18 recordes mundiais em sua breve carreira. Em 2001, no Mundial de Fukuoka (JAP), que marcou o primeiro embate entre os atletas após Sydney, Thorpe devolveu o revés e ficou com o ouro e o recorde mundial nos 200 m livre.

"Sei que ele ainda vai melhorar. Mas eu também estou em um ótimo momento. Será um duelo bastante interessante", provoca o holandês, que já deu início aos treinamentos para o Campeonato Mundial de 2003, em Barcelona, na Espanha, palco do próximo encontro entre os nadadores.

Influenciado pelo pai, Cees Reyn, ex-jogador de pólo aquático, e pela mãe, Astrid Verver, vice-campeã européia nos 800 m livre no ano de 1971, Hoogenband começou a colher bons resultados na natação no ano de 1993, quando triunfou nos 100 m e nos 200 m livre nos Dias Olímpicos da Juventude Européia.

Credenciado como candidato a medalhas nos Jogos de Atlanta, em 1996, Pieter decepcionou. "Eu tinha 18 anos e pouca experiência. Ficar em quarto [nos 100 m e 200 m livres] não foi tão ruim assim. Agora, só penso em vencer. Um quarto lugar em Atenas seria um completo desastre", diz.

Brecando o míssil Além de bater Ian Thorpe na casa do rival, o holandês é o responsável pelo fim do reinado de Alexander Popov nos 100 m livre.

Em Sydney, onde o "Míssil Russo" buscava o tricampeonato olímpico, Hoogenband cravou 47s84 na distância, recorde mundial que perdura até este domingo.

Com a performance obtida pelo holandês, o tempo da prova mais importante da natação deixou a casa dos 48 segundos, onde estava estagnado havia 15 anos.

O esguio jovem nascido em Maastricht que ameaça ser a pedra no caminho de Ian Thorpe nas próximas temporadas nunca esteve no Brasil, mas guarda uma paixão em comum com a maioria da população local. "Sou fanático por futebol. Meu pai é médico do PSV Eidhoven [time da primeira divisão holandesa], do qual sou torcedor. Admiro muito dois jogadores brasileiros, Ronaldo e Vampeta, que já defenderam minha equipe na Holanda", disse.

A competição no Rio é a primeira das sete etapas que compõem o circuito 2002/2003 da Copa do Mundo. O evento será disputado em piscina curta (25 m), no Centro Esportivo Miécimo da Silva.