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Atleta-empresário, Borges pede política de incentivo ao esporte

02/03/2004 22h37

Vicente Toledo Jr.
Em São Paulo

Dinheiro e esporte. Poucas pessoas no Brasil têm tanta autoridade para falar sobre esses dois assuntos como Gustavo Borges, ganhador de quatro medalhas olímpicas na natação (duas pratas e dois bronzes) e formado em economia pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.

Há vários anos vivendo a vida dupla de atleta-empresário -e sendo bem-sucedido em ambas-, Borges reconhece que a aprovação da Lei Piva vem melhorando o panorama do esporte brasileiro nos últimos anos, mas defende uma política de incentivo fiscal como saída para aumentar o investimento da iniciativa privada nas modalidades olímpicas.

Folha Imagem 
Gustavo Borges posa para foto ao lado de Lula, da primeira dama, do ministro Agnelo Queiroz e do presidente do COB

"Sempre que chegamos perto de Jogos Pan-Americanos e Olimpíadas volta essa mesma história de como resolver o problema do esporte no Brasil. É investimento, dinheiro, não tem mistério", afirma Borges, que inaugurou nesta terça-feira uma academia em São Paulo, o mais novo de seus empreendimentos.

Na opinião do nadador, compartilhada pela grande maioria dos dirigentes esportivos, o dinheiro distribuído através da Lei Piva e do ministério dos esportes não é suficiente.

"O Brasil, de uma maneira geral, vive do talento esporádico de seus atletas. Os atletas não são formados pelas confederações, são formados pelos clubes", explica. A solução, para ele, seria encontrar uma maneira de aumentar a participação da iniciativa privada.

"É incentivo fiscal, só isso. Várias empresas investem no esporte. Você assiste a um jogo de futebol e vê várias empresas investindo lá. Elas não têm incentivo fiscal, mas têm o retorno da televisão", comenta.

"Na natação, temos que competir um domingo 9h da manhã para entrar na televisão. Talvez não seja o melhor horário para competir, mas nesse horário temos exposição nacional. E a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) ainda é privilegiada porque tem um patrocinador e várias parcerias. Acho que o que dá para ela fazer, está sendo bem feito", completa.

Para Borges, que só conseguiu seu primeiro patrocínio individual depois de ganhar cinco medalhas no Pan de Havana-1991, a realidade da nova geração de nadadores brasileiros já é bastante diferente da que ele enfrentou, mas ainda está longe da ideal.

"Se você comparar 1990 com 2004, esse pessoal está muito mais adiantado do que eu estava. Eu vim para São Paulo e tive o apoio dos meus pais para pagar apartamento, transporte e tudo mais. O Pinheiros me dava uma pequena ajuda de custo", conta.

"Hoje os principais atletas de clubes com boa infra-estrutura, como Pinheiros, Minas Tênis Clube e Santa Cecília, conseguem ser profissionais do esporte, bancar seus próprios custos, estudar e ter uma vida razoável. Já é uma evolução muito grande, mas ainda falta muito investimento. Isso é indiscutível", diz.

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