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Escondido, Felipe França ainda sofre com "transição olímpica"

No ano, França detém a 8ª melhor marca do mundo nos 50m peito, sem estar em grandes competições - atiro Sodre/Divulgacao CBDA
No ano, França detém a 8ª melhor marca do mundo nos 50m peito, sem estar em grandes competições Imagem: atiro Sodre/Divulgacao CBDA

Bruno Doro

Em Santos (SP)

07/05/2010 07h00

O efeito Cesar Cielo foi benéfico para a natação brasileira, mas não foi tão bom para o nadador que deveria ser o número 2 do esporte no país. Menos de nove meses depois do Mundial de Roma, poucos se lembram que o Brasil teve dois medalhistas nas piscinas italianas. Além de Cielo, Felipe França também brilhou em 2009, mas não colheu os frutos.

No sábado, o recorde mundial do nadador, 26s89 nos 50m peito, completa um ano. E a vida de Felipe segue dura como sempre. Os patrocínios, que surgem aos montes para Cielo, ainda não apostam em França. Ele recebeu aumento de seu clube, o Pinheiros, mas fora do universo da natação, o reconhecimento ainda é uma realidade distante.

“Com as vitórias do Cielo, ele virou um atleta de Fórmula 1 no campo do patrocínio. Parece que pega todos os patrocinadores primeiro. Ficou bastante difícil para os outros atletas. Não estou culpando o Cielo. Ele merece tudo e muito mais. Foi a hora dele. Mas admito que está um pouco difícil conseguir patrocínios”, diz Felipe.

Não há como negar que o nadador, especialista no nado peito, é a mais escondida das estrelas da natação brasileira. Aos 22 anos, Felipe é tímido, reservado, evita o quanto pode as entrevistas. Não gosta de aparecer. A personalidade é muito parecida com a do paraibano Kaio Márcio, outro que apesar do talento nas piscinas, não é dos mais conhecidos do grande público.

Mesmo ofuscado, Felipe tem resultados a oferecer. Foi vice-campeão mundial em Roma, no ano passado, nos 50m peito. Neste ano, é dono da oitava melhor marca do mundo na prova, mesmo sem ter disputado grandes competições. Ainda não conseguiu, porém, a “transição olímpica”.

Os 50m peito não são disputados nos Jogos Olímpicos. Para isso, ele precisa brilhar também nos 100m. E esse passo está sendo complicado. No Troféu Maria Lenk, por exemplo, Felipe foi o sétimo colocado na final da prova. No ano passado, no ápice de sua forma, e contando com a ajuda dos supermaiôs, ele já tinha tido dificuldades.

“No Maria Lenk, bati o recorde mundial dos 50m e tive pouco tempo para descansar para os 100m. Não me concentrei direito para as eliminatórias e, antes da final, tinha gente querendo fazer entrevista e perdi um pouco o foco. Acabei sem a vaga no Mundial. Mas eu estava pronto para fazer o tempo também nos 100m. Tanto que um mês depois, nos Jogos Universitários, fiz um tempo que daria a vaga, mesmo pesado e sem raspar (os pelos do corpo). No fim das contas, eu não soube lidar direito com o fato de ter batido o recorde mundial”, admite o nadador.

Para o treinador de Felipe, Arílson Soares, o problema é também físico. Nessa temporada, os trabalhos de fortalecimento muscular com França foram ainda mais fortes. Felipe, que já é uma montanha de músculos, perdeu cinco quilos de gordura e ganhou os mesmos cinco em massa forte.

“Nessa temporada, estamos incrementando o trabalho de força, para que ele consiga manter a força para a volta da prova (os últimos 50m dos 100m) mesmo com toda aquela estrutura dele. Segurar aquele corpo em cima da água vai exigir muito mais força”, explica o técnico. “Eu estou trabalhando uma nova estratégia de prova, quero sentir mais o momento, em que ponto devo acelerar, onde devo fazer força”, completa Felipe.