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Projeto de Cielo segue moldes dos EUA, 'ignora' mulheres e evita inchaço

Roberta Nomura

Em São Paulo

16/02/2011 07h07

Cesar Cielo lançou oficialmente grupo pioneiro na natação brasileira: o P.R.O. 16 (Projeto Rumo ao Ouro em 2016). Com cinco anos de experiência nos Estados Unidos, o campeão olímpico e mundial importou algumas ideias para realizar trabalho de excelência com apenas sete atletas. E seguindo os moldes norte-americanos, a iniciativa ‘ignorou’ mulheres e evita inchaço.

CIELO USA VERBA DE PATROCÍNIO PARA MANTER PROJETO DE QUASE R$ 2 MILHÕES

  • Roberta Nomura/UOL

    A pressa em iniciar o P.R.O. 16 (Projeto Rumo ao Ouro em 2016) causou um inconveniente para Cesar Cielo. O campeão olímpico e mundial tem usado a verba de patrocínios pessoais para manter a iniciativa idealizada por ele para trabalhar com pequeno grupo de atletas de alto rendimento. O gasto com staff e materiais pode chegar a R$ 1,9 milhão, de acordo com Flávia Cielo.

    "A gente tem que tirar do próprio bolso. Não é o a gente queria, mas como só tem 18 meses para a Olimpíada de Londres, era preciso andar com este projeto", afirmou Cielo, que pediu apoio de patrocinadores.

    O projeto que terá sete nadadores fixos treinando integralmente juntos e com um técnico exclusivo é inédito e espera contar com ajuda do Ministério do Esporte. O Instituto Cesar Cielo será o responsável por gerenciar a parte financeira, mas como ainda não completou um ano de existência - isso só acontecerá em julho -, não pode fazer parte da Lei de Incentivo.

Cielo encabeça a lista de sete nomes que treinarão em tempo integral com técnico exclusivo, o Albertinho. O local escolhido foi o COTP (Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa), em São Paulo. Embora o projeto tenha sido lançado na terça-feira, os atletas já estão trabalhando juntos desde a semana passada em uma espécie e intercâmbio dentro do próprio país.

“É como se estivéssemos indo treinar no exterior, fora do clube. Mas vamos seguir defendendo cada um os seus clubes. A gente precisa dar valor para as coisas do Brasil e mostrar que aqui pode funcionar sim”, afirmou Cielo. Depois de manter a base de treinamento na Universidade de Auburn por cinco anos, o campeão olímpico decidiu permanecer no Brasil até os Jogos Olímpicos de 2016.

E no trabalho voltado para levar nadadores em potencial para finais de Olimpíadas e Mundiais não há espaço para mulheres. Pelo menos neste início de projeto. “É um molde dos Estados Unidos. Adotamos critérios que estavam funcionando. Mas no futuro, podemos adicionar algumas meninas”, explicou o técnico Albertinho.

Mas não foi somente esta política que o projeto importou dos norte-americanos. No período em que permaneceu em Auburn, Cielo foi submetido a um rígido sistema disciplinar, que o impedia inclusive de namorar. Idealizador do P.R.O.16, o nadador de 24 anos adota uma cartilha de conduta menos rigorosa. Mas atrasos e noitadas estão vetados.

E justamente por determinar rigor disciplinar, o critério pessoal também interferiu na escolha do grupo. O primeiro fator considerado foi o técnico, segundo Albertinho. “Buscamos atletas que encaixavam e aceitaram nossas ideias. Eu tinha currículos impressionantes em mãos. Mas não é só o lado profissional que pesa. Tem que querer mesmo, sacrificar e abdicar de muita coisa”, falou Cielo.

O P.R.O. 16 tem prioridade no COTP, mas terá que conciliar a agenda das 105 crianças atendidas no espaço da Prefeitura de São Paulo. “A ideia é não mudar a rotina e criar métodos para atender os dois. Estamos adaptando os horários para compartilhar e dividir o espaço”, explicou Henrique Guimarães, coordenador geral de esportes de alto rendimento da cidade de São Paulo.

A piscina descoberta por Cielo na gravação de um comercial de desodorante é de 50m, aquecida, coberta e tem dez raias. Com o espaço público compartilhado, a ideia é que o P.R.O. 16 mantenha a estrutura e o número de atletas atual pelo menos até os Jogos Olímpicos de Londres-2012.