Maria Lenk vai chegando ao fim e Brasil segue com só duas mulheres classificadas
Guilherme Coimbra
No Rio de Janeiro
06/05/2011 07h00
O baixo desempenho da natação feminina brasileira é a marca até agora do Troféu Maria Lenk, o Campeonato Brasileiro Absoluto, que termina no domingo. A competição é última oportunidade de classificação para o Mundial de Xangai, em julho. Até agora, a seleção brasileira tem apenas duas atletas com vaga no feminino em provas individuais, contra 11 homens.
Por enquanto, Fabíola Molina e Daynara de Paula são as únicas classificadas. As duas já chegaram ao Júlio de Lamare com índice para o Mundial. Fabíola, nos 100m costas e Daynara, nos 100m borboleta. Apesar de continuarem sozinhas no grupo para a China, as duas defendem as colegas.
“Acho um erro criticar a natação feminina só por causa dos poucos índices para Xangai”, defende Daynara. “É só um mau período, do qual todo o mundo vai sair muito mais forte. A natação brasileira vai ser muito bem representada no Pan, nos Jogos Mundiais Militares e tenho certeza de que no ano que vem muitas de nós vamos fazer índice para Londres.”
Fabíola Molina reclama da comparação dos resultados femininos e masculinos. “A natação é um esporte individual”, explica. “Hoje temos o Cesar Cielo e o Thiago Pereira, que são excepcionais. Mas acho que falta estrutura. Hoje você vai a um campeonato paulista e vê aberrações como uma final de 100m livre com duas atletas na água”, completa.
Além de tudo, ela ainda lembra do preconceito com o esporte. “Ainda tem gente que acha que a natação masculiniza o corpo das meninas e evitar pôr as suas filhas para nadar. Cansei de ouvir que é uma surpresa que eu não tenha ombros largos como de homem. Isso é uma besteira. Veja a Gabriella [Silva] e a Daynara [de Paula], por exemplo. São grandes nadadoras com corpos bastante femininos.”
Felipe França, que já tinha índice para os 50m peito e na quinta-feira também conquistou uma vaga nos 100m, foi crítico ao analisar o problema. “Falta garra, vontade de vencer. A Fabíola é um exemplo de grande atleta, que sabe competir, e a Daynara tem muito o que crescer, mas já mostrou que está no caminho certo”, disse o atleta do Pinheiros, companheiro de clube de nomes importantes da natação feminina que não conseguiram índice.
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- Fotos de Satiro Sodré/CBDA, Facebook/CBDA e Júlio César Guimarães/UOL
Na quarta-feira, o Maria Lenk chegou a ter três estrangeiras nas primeiras colocações dos 400m medley: Kirsty Coventry, Mireia Belmonte e Georgina Bardach dominaram a prova, especialidade de Joanna Maranhão. A pernambucana terminou em quarto, com o tempo de 4m49s78, acima do índice de 4m42s23 para se classificar para o Mundial de Xangai.
No caso de Joanna, o técnico Fernando Vanzella explica que a atleta convive até hoje com o peso de ter sido finalista olímpica nos 400m medley quando ainda era muito jovem. Aos 17 anos, ela terminou em quinto em Atenas, resultado que até hoje é o melhor de uma atleta brasileira do feminino em uma Olimpíada. “Desde 2005, ela passou a receber uma pressão muito grande”, explica o treinador do Minas. “Talvez seja o momento de tirar umas férias dessa prova.”
Gabriella Silva, especialista nos 100m borboleta, também ficou de fora de Xangai. Ela terminou a final atrás de Daynara, com 59s36, contra 58s76 do índice. “Tive um ano muito difícil. Quando o Albertinho (Alberto Silva, ex-técnico do Pinheiros, hoje no Flamengo) saiu, fiquei três dias chorando. Demorei para me adaptar ao estilo do Ari (Arilson Silva, atual técnico), que é um grande treinador. Ainda tive que diminuir o ritmo dos treinamentos para evitar novas lesões”, explicou a garota, que operou o ombro no ano passado e ainda não recuperou a forma de 2009, quando foi o grande destaque feminino do Mundial de Roma.
As estrangeiras também deram pitacos sobre o desempenho das brasileiras. A americana Jessica Hardy e a espanhola Mireia Belmonte elogiaram a qualidade técnica das nadadoras verde-amarelas, mas comentaram que há um longo caminho para melhorar os resultados. “Pode ser uma questão de tradição”, arriscou Mireia. “Na Espanha, por exemplo, ocorre o contrário. Vamos para Xangai com oito mulheres e apenas dois homens.”
“Acho que o primeiro passo é que elas pensem que podem brilhar como os homens”, ensinou Jessica. “Nós, mulheres, estamos acostumadas a perseguir os resultados dos homens durante toda a vida e no esporte não é diferente.”