Médico pede divulgação do relatório da farmácia para sustentar pena branda a Cielo
Um documento enviado pela farmácia de manipulação Anna Terra à Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) gerou desencontro de informações sobre o doping do nadador Cesar Cielo. A médica Sandra Soldan disse na sexta que o estabelecimento assumiu o erro. Segundo Eduardo de Rose, integrante da Wada (Agência Mundial Antidoping), só a divulgação desse relatório ao público poderia encerrar possíveis dúvidas sobre a pena branda ao atleta, que recebeu apenas uma advertência.
DOCUMENTO NÃO É CONCLUSIVO
O médico Claudio Cardone, um dos integrantes do painel de controle de doping da CBDA, ratificou o que disse o colega Eduardo de Rose e confirmou que a farmácia não assumiu o erro, apesar de ressaltar que isso não afetará o processo enviado à Fina sobre a punição dada a Cesar Cielo e outros três atletas por uso “acidental” de furosemida. “Existe o documento. Mas ele é um relatório de dados, não é conclusivo. Ele também não é o único fator que interferiu na decisão de sanção mínima. É uma série de considerações. Esta é importante e vai ser anexada como prova documentada na Fina, mas não é a mais importante e decisiva”. "Nesse relatório, não tem a farmácia dizendo que a culpa foi dela. O documento indica horários e dados de susbtâncias. No mesmo dia em que manipulou a cafeína dos atletas, a farmácia informa que manipulou pedidos de outros clientes que continha a furosemida e apresenta os horários”. |
“Não posso falar sobre a interpretação que outras pessoas fizeram desse relatório. É uma evidência do processo, mas não é decisiva. Vou pedir ao Coaracy [Nunes, presidente da CBDA] que libere esse documento, para que cada um tire as suas próprias conclusões. Todo o processo foi enviado à Fina [Federação Internacional de Natação], mas acredito que ele tenha uma cópia”, afirmou De Rose ao UOL Esporte.
O médico comandou o painel da CBDA que decidiu advertir Cielo e outros três nadadores flagrados com furosemida durante o Troféu Maria Lenk, em maio. A substância é um diurético capaz de ocultar outros produtos proibidos em exames antidoping. Pelo mesmo motivo, a nadadora Daynara de Paula foi suspensa por seis meses no ano passado.
Para justificar a pena branda aos atletas, a médica Sandra Soldan, diretora-adjunta do painel antidoping da CBDA, disse na sexta-feira que a farmácia enviou um documento assumindo que houve contaminação das cápsulas de cafeína fornecidas a Cielo. Mas, no dia seguinte, o estabelecimento negou a informação ao jornal Folha de S. Paulo, apesar de admitir que a contaminação cruzada não pode ser descartada.
De Rose confirmou a versão da farmácia, mas ainda assim disse acreditar que o erro aconteceu: “Só a aceitação de que uma contaminação cruzada é possível já é suficiente para alinharmos toda a nossa conclusão. O risco é inerente à produção do suplemento, e na minha interpretação pessoal, deve ter havido uma falha humana no momento de encapsular a substância”.
A punição da CBDA não está baseada só no documento da farmácia. Segundo o médico, esse relatório será somado a pelo menos outras quatro evidências: a declaração dos atletas confirmando o uso do mesmo suplemento durante os últimos dois anos, a análise sobre a pureza da cafeína utilizada, o parecer do Ladetec que constatou a contaminação das cápsulas e também as amostras de urina comprovando que a quantidade de furosemida não seria suficiente para causar qualquer efeito.
O DOPING DE CIELO
Nesta sexta-feira, a CBDA chocou o mundo esportivo brasileiro ao anunciar que o campeão olímpico Cesar Cielo tinha sido flagrado em exame antidoping durante o Troféu Maria Lenk, no início de maio. Além dele, Nicholas Santos, Henrique Barbosa e Vinícius Waked foram flagrados. |
A substância encontrada foi o diurético furosemida, que faz parta da lista proibida porque pode mascarar a presença de outras substâncias. A defesa usada pelos nadadores foi que as cápsulas de cafeína usadas por Cielo tinham sido contaminadas. Os outros três atletas usaram a mesma substância, por confiança no material do campeão olímpico. |
Para corroborar com sua versão, Cielo apresentou um laudo da farmácia de manipulação que elaborou as cápsulas, admitindo a contaminação com diuréticos. Sandra Soldan, chefe de antidoping da CBDA, confirmou que exames mostraram, além da furosemida, outro diurético – e que as amostras dos atletas não apontavam o perfil de quem usou a substância para perder líquidos. Mas, no dia seguinte, a farmácia negou ter assumido a falha. |
Fina tem 20 dias para contestar Após a análise do caso, a CBDA puniu os atletas apenas com uma advertência. Os documentos da audiência foram, então, enviados para a Fina (Federação Internacional de Natação). Agora, o órgão máximo da modalidade tem 20 dias para analisar o caso. A entidade ainda pode pedir novas informações para a CBDA e mudar a punição. Caso concorde com a punição aplicada pelos brasileiros, o caso será arquivado. |
Terno, gravata, seguranças e provérbios Cesar Cielo falou sobre o exame positivo de doping anunciado nesta sexta-feira. Sem responder perguntas, leu uma declaração repetindo argumentos da nota oficial. Ele chegou com Nicholas Santos e Henrique Barbosa, de terno e cercados por seguranças do hotel. Assim que Cielo terminou de ler o documento com sua declaração, cheia de provérbios ("quem não deve não teme", "a verdade sempre aparece" e " o que não te derruba te fortalece"), os três se dirigiram para o elevador em silêncio. |
Mundial pesou para advertência? Ao comentar o caso, dois dos médicos que participaram do painel da CBDA que advertiu os nadadores mostraram opiniões divergentes sobre a punição. Sandra Soldan, responsável pelo controle antidoping da Confederação, disse que “seria descabido fazer os meninos perderem o Mundial por causa disso. Esse fator [a proximidade do Mundial] e as provas contaram”. Já o especialista Eduardo de Rose falou que “[a proximidade do Mundial] Não interferiu em coisa nenhuma. A Sandra [Soldan] fala o que quer”. |
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