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Cielo corre risco de ser julgado negligente e levar suspensão de seis meses

Cesar Cielo pode ser suspenso antes do Mundial de Xangai - Satiro Sodré/Divulgação/CBDA
Cesar Cielo pode ser suspenso antes do Mundial de Xangai Imagem: Satiro Sodré/Divulgação/CBDA

Alexandre Sinato e Roberta Nomura

Em São Paulo

06/07/2011 17h28

Se a lógica usada pela Federação Internacional de Natação (Fina) for mantida, Cesar Cielo e os outros nadadores que testaram positivo no exame antidoping podem ficar preocupados. Para a entidade internacional, usar produtos feitos em farmácias de manipulação caracteriza negligência por parte do atleta. E foi exatamente o caso do quarteto Cielo, Henrique Barbosa, Nicholas Santos e Vinicius Waked.

No ano passado, quando Daynara de Paula foi suspensa por seis meses pela Fina, ela foi considerada imprudente por ingerir cápsula produzida em farmácia de manipulação. O exame antidoping da nadadora apontou a presença de furosemida, o mesmo diurético que apareceu nos testes de Cielo e cia.

“A Daynara foi punida pela imprudência de ter ido a um local que, no entender deles, pode não ser confiável. Para os julgadores, a negligência dela foi escolher uma farmácia de manipulação e não um produto de linha”, explicou o advogado Heraldo Panhoca, responsável pela defesa da nadadora.

Na oportunidade, Daynara comprovou na Fina que seu suplemento sofrera contaminação cruzada na farmácia, exatamente o mesmo argumento usado pelos quatro nadadores. A entidade aceitou o fato e a suspendeu por seis meses alegando negligência.

Nesta quarta-feira, a Fina anunciou que contestou a advertência dada ao quarteto no painel da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) e levou o caso à Corte Arbitral do Esporte (CAS) em busca de uma pena maior.

A entidade não tem autoridade para aumentar a punição a Cielo e cia., mas pode recomendar uma suspensão à CAS. Neste caso, se a corte arbitral seguir o padrão usado pela Fina, Cielo, Nicholas, Henrique e Vinicius dificilmente escaparão de uma suspensão. Cielo pode até não competir no Mundial de Xangai, a partir de 24 de julho, se a CAS agilizar o julgamento.

O quarteto argumenta que cápsulas de cafeína foram contaminadas por furosemida, um diurético proibido que mascara outras substâncias. Um laudo do Ladetec, laboratório brasileiro credenciado pela Agência Mundial Antidoping (Wada), confirmando a contaminação foi anexado ao processo. A farmácia Anna Terra, de Santa Bárbara D'Oeste enviou relatório de dados, mas defende procedimentos corretos na execução do produto e cogita contaminação pelo ar.

A teoria, no entanto, é praticamente descartada pelo professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (Universidade de São Paulo) Maurício Yonamine. "Na verdade, é tudo especulativo, porque não se tem a conclusão dos fatos ainda. Mas dizer que foi pelo ar é meio exagerado. As partículas suspensas são muito pequenas e a quantidade é muito baixa para dar positivo em um exame antidoping. É quase impossível. Se não, poderia acontecer a toda hora em qualquer medicamento". O especialista afirma ainda que a cápsula não pode mais ser contaminada após estar pronta.

O DOPING DE CIELO

O painel da CBDA

Nesta sexta-feira, a CBDA chocou o mundo esportivo brasileiro ao anunciar que o campeão olímpico Cesar Cielo tinha sido flagrado em exame antidoping durante o Troféu Maria Lenk, no início de maio. Além dele, Nicholas Santos, Henrique Barbosa e Vinícius Waked foram flagrados.

Vilão em cápsulas de cafeína

A substância encontrada foi o diurético furosemida, que faz parta da lista proibida porque pode mascarar a presença de outras substâncias. A defesa usada pelos nadadores foi que as cápsulas de cafeína usadas por Cielo tinham sido contaminadas. Os outros três atletas usaram a mesma substância, por confiança no material do campeão olímpico.

Farmácia admite contaminação

Para corroborar com sua versão, Cielo apresentou um laudo da farmácia de manipulação que elaborou as cápsulas, admitindo a contaminação com diuréticos. Sandra Soldan, chefe de antidoping da CBDA, confirmou que exames mostraram, além da furosemida, outro diurético – e que as amostras dos atletas não apontavam o perfil de quem usou a substância para perder líquidos.

Fina tem 20 dias para contestar

Após a análise do caso, a CBDA puniu os atletas apenas com uma advertência. Os documentos da audiência foram, então, enviados para a Fina (Federação Internacional de Natação). Agora, o órgão máximo da modalidade tem 20 dias para analisar o caso. A entidade ainda pode pedir novas informações para a CBDA e mudar a punição. Caso concorde com a punição aplicada pelos brasileiros, o caso será arquivado.

Terno, gravata, seguranças e provérbios

Cesar Cielo falou sobre o exame positivo de doping anunciado nesta sexta-feira. Sem responder perguntas, leu uma declaração repetindo argumentos da nota oficial. Ele chegou com Nicholas Santos e Henrique Barbosa, de terno e cercados por seguranças do hotel. Assim que Cielo terminou de ler o documento com sua declaração, cheia de provérbios ("quem não deve não teme", "a verdade sempre aparece" e " o que não te derruba te fortalece"), os três se dirigiram para o elevador em silêncio.

Mundial pesou para advertência?

Ao comentar o caso, dois dos médicos que participaram do painel da CBDA que advertiu os nadadores mostraram opiniões divergentes sobre a punição. Sandra Soldan, responsável pelo controle antidoping da Confederação, disse que “seria descabido fazer os meninos perderem o Mundial por causa disso. Esse fator [a proximidade do Mundial] e as provas contaram”. Já o especialista Eduardo de Rose falou que “[a proximidade do Mundial] Não interferiu em coisa nenhuma. A Sandra [Soldan] fala o que quer”.

Omissão da Fina?

Cesar Cielo nadou o Aberto de Paris sem saber do resultado positivo para o uso de furosemida. No entanto, a CBDA já havia informado a Fina antes da competição em que o campeão olímpico faturou três ouros em três provas disputadas e cravou as melhores marcas do ano nos 50m borboleta e nos 100m livre.

Relatório da farmácia

Um documento enviado pela farmácia de manipulação Anna Terra à Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) gerou desencontro de informações sobre o doping de Cesar Cielo. A médica Sandra Soldan disse na sexta que o estabelecimento assumiu o erro. Segundo Eduardo de Rose, integrante da Wada (Agência Mundial Antidoping), só a divulgação desse relatório ao público poderia encerrar possíveis dúvidas sobre a pena branda ao atleta, que recebeu apenas uma advertência.

Perdas de índices

O resultado positivo no doping custou a Henrique Barbosa e a Nicholas Santos suas vagas no Mundial de Esportes Aquáticos de Xangai, entre 16 e 31 de julho. Os nadadores foram excluídos da equipe brasileira nesta segunda-feira