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Ícone paraolímpico, Daniel Dias ensaia fazer política em causa da acessibilidade a deficientes

Nadador Daniel Dias entra no tema da acessibilidade ao falar de Bragança Paulista - REUTERS/Suzanne Plunkett
Nadador Daniel Dias entra no tema da acessibilidade ao falar de Bragança Paulista Imagem: REUTERS/Suzanne Plunkett

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

22/09/2012 06h00

Após dominar as piscinas de Londres na última edição da Paraolimpíada, que acabou neste mês, o brasileiro Daniel Dias se volta para um desafio que a princípio pode parecer mais simples, mas que requer um outro tipo de esforço. O maior destaque individual dos Jogos de Londres se volta agora à cidade em que vive, em ensaio de engajamento político pela causa da acessibilidade para deficientes.

VISITA AO CORINTHIANS

Daniel Dias visitou o Centro de Treinamento do Corinthians na última terça-feira. Tratado como o "Michael Phelps paraolímpico", o nadador conquistou em Londres ouros nas seguintes provas:
- 50 m livre - S5
- 200 m livre - S5
- 100 m peito - SB4
- 50 m costas - S5
- 50 m borboleta - S5
- 100 m livre - S5
S5: Afetação de tronco e duas ou mais extremidades
Sb4: Afetação de tronco e afetação grave de duas ou mais extremidades (provas nado peito)

Com seis ouros no peito na volta ao Brasil e o novo status de maior medalhista paraolímpico do país, Daniel acompanha com distância calculada as eleições municipais de Bragança Paulista, no interior de São Paulo. Na condição de celebridade local, o nadador não deseja se envolver com candidatos, mas pretende ser ouvido pelo futuro prefeito a respeito de possíveis melhorias na condição de vida e cidadania para deficientes físicos, que hoje, em sua opinião, são insatisfatórias.

"Eu ando porque tenho a minha prótese, consigo me virar. Mas não é uma cidade preparada. O centro da cidade tem postes no meio da calçada. Então é difícil um cadeirante andar por lá. É algo que eu tenho brigado e batalhado para que as pessoas se conscientizem a mudar isso", afirmou o campeão paraolímpico em entrevista ao UOL Esporte.

"Para ouvir, não [procuram], mas para pedir voto, sem dúvida. Eu acho que seria uma oportunidade boa para eles [candidatos a prefeito] virem conversar comigo, realmente pensando nisso. Espero que quem ganhe venha conversar comigo para que a gente possa fazer o melhor para a cidade. Posso dizer que estou à disposição para que a gente possa ser uma cidade exemplo", acrescentou.

Daniel Dias nasceu com má formação congênita dos membros superiores e da perna direita. O brasileiro descobriu a natação apenas aos 16 anos, mas conseguiu um desenvolvimento técnico veloz. Hoje, após duas aparições na Paraolimpíada, acumula 15 medalhas: dez de ouro, quatro de prata e uma de bronze.  

Em Bragança Paulista, a menos de 100 km de São Paulo, Daniel tem se tornado uma espécie de referência para deficientes da região, animados com o que vislumbram ser uma oportunidade de inclusão através do esporte. Diante desta demanda, a prefeitura local prepara uma piscina adaptada, em complexo de treinamento que levará o nome do atleta [segundo a prefeitura, a inauguração acontece nas próximas semanas].

"A própria piscina onde eu treino não era [adaptada]. Hoje fizeram um acesso, então os cadeirantes conseguem entrar. A gente estava tendo uma procura muito grande. E agora vai inaugurar uma nova piscina lá, toda adaptada, o cadeirante vai descer até a água com a cadeira. A gente conseguiu esse projeto, bacana que vai ter o meu nome. Piscina Daniel Dias, pública, da cidade, de 25 metros. A gente está conseguindo, através do esporte, ter essa inclusão. Mas infelizmente o lugar onde eu moro não está preparado", descreve o atleta de 24 anos.

CAMPEÃO USA PROJETO DE DILMA PARA MANTER EQUIPE DE 6 PESSOAS

Anunciado na última semana, o plano de medalhas do governo federal visando o ciclo dos Jogos de 2016 deve contemplar Daniel Dias com recursos capazes de manter sua equipe de trabalho. O maior medalhista paraolímpico do país conta com seis pessoas e agora espera poder remunerar adequadamente os profissionais.

A CAMINHO DO ALTAR

Daniel Dias entra para o time dos casados em 16 de novembro, quando consumará a união com a noiva Raquel Andrade. O casal vai comemorar com viagem para Paris e Veneza. O campeão diz que, sem precisar nadar, enfim pode bancar o turista. "Vai ser bom porque agora eu posso conhecer. Quando viajo em competição não tem a menor chance", afirma.

De acordo com o projeto anunciado pela presidente Dilma Rousseff, os atletas de ponta do universo olímpico e paraolímpico terão um auxílio de R$ 15 mil por mês, com outros R$ 10 mil para remuneração do treinador, além de quantia para ajuda multidisciplinar (fisioterapia, nutricionista, etc.) e custos de viagem.

Além do técnico Marcos Rojo Prado, Daniel Dias conta com dois preparadores físicos (musculação e pilates), um médico, um nutricionista e um fisioterapeuta. Hoje o atleta se dedica exclusivamente ao esporte, mas almeja voltar a cursar Educação Física, faculdade que trancou após dois semestres cursados.

O próximo compromisso esportivo de Daniel Dias é o Mundial do Canadá em 2013. "Agora o Mundial acontece a cada dois anos, antes esse ano [pós-Paraolimpíada] era chamado de ‘ano morto’, não tinha nada. Em janeiro começo a treinar pensando no evento", diz.